sábado, 14 de agosto de 2010

UMA ROSA COM AMOR - VERSÃO GAÚCHA - PARTE 33 - AUTORA: MARIANA LOPES

Afrânio – Então, Pepa?

Pepa – Então ... então...

Afrânio – Eu vou investir na Cata...

Pepa – Eu já disse para você não fazer isso. Não me ameaça. Investir na Batateira? Você vai conseguir de lucro é conversar com São Pedro, muito antes do que você imagina... O pior cego é aquele que não quer ver...

Afrânio traz Pepa para mais perto.

Afrânio – Está interessada ou não?

Pepa fita os lábios de Afrânio – In- te- res- sa- da?

Afrânio – É a sua última chance...

Pepa agarra Afrânio e o beija longamente... Afrânio fica assustado... mas logo se recupera e retribui o beijo.

##

Depois que Frazão vai embora, Dádi avisa que vai providenciar o jantar e Claude diz que vai conversar com Seu Pimpinoni.

Claude – Boa noite seu Pimpinoni.

Pimpinoni – Entra Dr. Claude. Saudades das suas visitas.

Claude – Muita correria, mas hoje eu estou precisando de uma boa conversa... e de suas sábias palavras...

Arlequim – Alguém me chamou? Boa noite Doutor.

Claude – Arlequim... hoje preciso abrir o meu coraçon... falar sobre as minhas convicções. As estruturas do meu mundo estão abaladas... por um furacon, que você conhece muito bem, e eu tenho medo deste mundo desconhecido... de non saber caminhar nele...

Arlequim – “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. Seja cuidadoso. Melhor andar com o coração aberto...

Claude – Caminhar com o coração aberto e reconstruir quando for necessário... Estou ton preocupado Arlequim... Serafina voltou, mas non me procurou. Amanhã vamos nos encontrar, mas só porque eu forcei a situaçon... e não porque ela quer me ver ou porque sentiu saudades...

Arlequim – Não importa o caminho escolhido para chegar ao coração de Serafina. O importante é chegar lá!

Claude – Será que os caminhos non son importantes mesmo? Será que Serafina non acha isso importante?

Arlequim – A minha Serafina não vai se importar com o caminho escolhido, o que ela vai valorizar é o sentimento, a verdade e a sinceridade. Eu conheço a minha menina...

Claude – Foram tantas confusões, tantas mentiras, tantos enganos e avaliações erradas da minha parte... eu non sei... eu fiz tudo errado... Olha só o caso do casarão... eu comprei para dar de presente a Serafina e sua família e me envolvi na maior confuson por ter assinado papéis sem ler e quase que todo mundo é despejado por isso... O Seu Giovanni quase enlouqueceu com a situaçon que se criou... e mesmo eu tendo conseguido contornar, isso me deixou arrasado, por vê-los passar por isso... eu tenho um carinho muito grande por todos, como se fossem a minha família de verdade... a família que eu non tive...

Arlequim – “As verdades são frutos que apenas devem ser colhidos quando bem maduros.” Acho que a sua verdade está pronta para ser colhida por Serafina. Vá com calma que ela vai entender... e tenha o seu coração sempre aberto...

Claude – O problema é que ela me deixa nervoso, eu estou com tanta saudade que quero fazer tudo ao mesmo tempo e aí, tenho medo de colocar tudo a perder...

Arlequim –"Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu." Essas frases foram escritas por Luiz Fernando Veríssimo. E são interessantes para uma reflexão... pense sobre isso e vai dar tudo certo...

Claude – Vou pensar... vou pensar... mas a Serafina tem saído com um outro francês... eu non sei bem qual é a relaçon deles, mas sei que estiveram juntos esse tempo todo...

Arlequim – O senhor confia na Serafina? Vai confiar no que ela lhe disser?

Claude – Claro que eu confio e acredito no que ela me disser! Non é esse o problema... e se ela se apaixonou por esse homem? No coraçon a gente non manda...

Arlequim – “O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas”. Cuidado com o ciúme... sinta as situações com o seu coração, tudo vai ficar claro. Escute a minha Serafina... com os ouvidos do seu coraçon...

Claude – É o que eu mais quero Arlequim... Vou indo, boa noite e obrigado pela conversa.

Arlequim – Boa noite! Sonhe com a minha Serafina! Cuide da minha menina! E lembre-se: “A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes”.

##
Vários minutos mais tarde...

Pepa – Está bom assim para você a minha resposta ou quer que eu desenhe?

Afrânio – Bom, muito bom... (os olhos de Afrânio não conseguem desviar do decote de Pepa) Então não vai precisar do jantar e do sorvetinho, nós já nos acertamos... podemos ir lá pro meu ...

Pepa – O quê? Nem oficializamos o compromisso e você já quer desistir de sair comigo... não vou ter nem namoro decente... Nem bem começou e você já está me enrolando...

Afrânio - Brincadeirinha Pepinha... vamos passear, depois jantamos, tomamos o tal sorvetinho e depois vamos lá pro meu cantinho... nos conhecer um pouco melhor... mais profundamente...

Pepa – O quê? Você acha que sou mulher de ir para cantinho? Vamos passear e aproveitamos o passeio e vamos à Igreja da Achiropita para marcarmos a data do casamento...

Afrânio – Igreja? Casamento? Calma...

Pepa – Comigo é tudo ou nada! E eu não tenho mais idade para esperar (murmura) nem força de vontade... Vamos resolver isso logo. Depois, eu vou lá na casa da D. Joana encomendar o vestido e você vai ao cartório resolver o casamento no civil. Ou assume, ou paramos por aqui...

Afrânio – Agora que eu já provei esses lábios e fiquei com vontade de provar o resto... Vou assumir... Mas olha aqui, eu nem casei e você já está me mandando...

Pepa - Mas depois de casar eu vou te tratar tão bem... Franinho... como um rei... você vai ver...

Afrânio – Promessas ... promessas...

Pepa – Eu quero casar bem rápido...

Afrânio – Agora que eu já provei o aperitivo, também quero casar rápido. Vamos resolver isso logo...

Pepa – E a Batateira?

Afrânio – Vai virar purê... de batata estragada!!!

##

No dia seguinte ...

Teresinha – Oi Fina, já sei, já sei, é Serafina...

Rosa – Oi Teresinha, o que você queria com tanta urgência? Meu dia hoje foi cheio. Estou exausta...

Teresinha – Serafina, esse hotel e esse quarto são maravilhosos.

Serafina – São mesmo! Mas o que você queria com tanta urgência?

Teresinha – Eu escutei uma conversa ontem, que eu acho que você deveria saber.

Serafina – Que conversa?

Teresinha – Entre o Claude e o Dr. Frazão, lá em casa.

Serafina – Nem me lembra o quanto esses dois conversam. A última vez que ouvi uma conversa deles, sem querer, eu fui parar em Paris... me dá um calafrio só de pensar no que você ouviu...

Teresinha – Primeiro eu quero saber o que você sente pelo Claude...

Rosa – Teresinha, por que isso agora?

Teresinha – É importante...

Rosa – Claude foi e é o amor da minha vida, mas eu não sou a amor da vida dele... e eu não quero mais falar sobre isso... por isso que eu fui viajar , para me refazer...

Teresinha – O que te faz ter tanta certeza disso?

Rosa – O jeito que ele me tratava, as conversas que eu ouvi. Ele sente gratidão por eu ter ajudado nos negócios dele e se agora está tudo bem é graças a isso...

Teresinha – Se isso fosse verdade, por que ele estaria morando lá em casa, dormindo na sua cama?

Rosa – Algumas coisas eu não entendo... mas hoje eu vou conversar com ele e esclarecer tudo isso!

Teresinha – Serafina, o Claude está passando por graves problemas na construtora. Ele está à beira da falência.

Rosa – Como assim? Não pode ser? Houve algum problema com o dinheiro dos americanos? O Frazão não me falou nada disso... Será que ele precisa continuar casado? Por isso que não assinou os documentos?

Teresinha – O Claude não está preocupado com isso... Ele só quer saber de você, e isso há meses... Serafina, ele está apaixonado... de verdade... escuta o que ele tem para te dizer...

Rosa – Um Claude que não está preocupado com os negócios? Esse Claude eu não conheço...

Teresinha – Eu acho que você não ficou aqui para conhecer, mas lá no fundo você conhece sim, você está casada com ele... você é que não percebeu... Eu acho que você tem medo. Dá uma chance para ele hoje... eu acho que ele merece ... acho que vocês merecem essa oportunidade...

Rosa – Eu não posso Teresinha... não posso...

Teresinha – Não pode? Não pode por quê?

Rosa – Eu... Teresinha eu vou te contar, mas por enquanto é segredo... você tem que jurar que não vai comentar...

Teresinha – Você está me assustando. Está apaixonada por outro?

Rosa – Claro que não... jura?

Teresinha – Juro...

Rosa – Estou grávida do Claude...

Teresinha – Grávida? De verdade? De quanto tempo? Como é que você pretende esconder isso?

Rosa – Claro que é de verdade... três meses... ainda não dá para notar... eu falei que não vou contar por enquanto.

Teresinha – Quer dizer que vocês... hum... sabe...

Rosa – Teresinha, não foi inseminação artificial, isso eu posso te garantir... como você acha que foi? Da maneira tradicional...

Teresinha – Meu sobrinho ou minha sobrinha está aí dentro?

Rosa – Crescendo tranquilamente... enquanto a minha cabeça... dá voltas e mais voltas...

Teresinha – Mas então está tudo resolvido...

Rosa – Não tem nada resolvido.

Teresinha – Mas...

Rosa – É muito complicado... eu posso te dar tantas justificativas para isso ter acontecido da parte ele... a proximidade, a convivência, você vai se envolvendo... eu tenho medo, hoje, de quando olhar para ele ou ele olhar para mim e um de nós descobrir que tudo não passou de uma fantasia...

Teresinha – Mas vocês vão ter um filho... que é uma benção...

Rosa – Eu não quero que o Claude fique comigo por obrigação... por que eu sei que ele é um homem que tem responsabilidade... e não vai abandonar o seu filho... quero que seja por mim...

Teresinha – Não conta, não fala nada para ele hoje. Escuta tudo que ele tem para te dizer, mas controla esse seu gênio, esse temperamento... escuta com o coração...

Rosa – Eu vou tentar... mas o que foi exatamente que você ouviu?

##

Claude – E aí Frazon? Fez tudo como deu te pedi?

Frazão – Claude, você não vai nem perguntar como é que foram as reuniões com os investidores? Aliás, reunião que você deveria ter ido... super importante...

Claude – Se a construtora falir, depois eu vejo o que eu faço... Tudo bem, eu sei que você está coberto de razon, mas, hoje, eu estou sem cabeça para os negócios... Eu sei que eu tinha que estar concentrado, buscando soluções ... eu, simplesmente, non consigo... eu nem dormi esta noite... Agora, providenciou ou non?

Frazão – É, os tempos mudaram mesmo... Tudo providenciado, conforme você pediu, todos os detalhes...

Claude – Que bom... eu non consigo ficar tranqüilo, ontem a Dádi que fez o jantar, aliás depois que você foi embora, se Dádi não toma umas providências, eu ia morrer de fome...

Frazão – Como assim? Morrer de fome?

Claude – D. Amália sempre fica me paparicando e ontem nem quis saber se eu jantei...

Frazão – Claude, como você está dengoso...quero só ver quando a Rosa perceber isso. O povo não jantou em casa ontem?

Claude – Sumiu todo mundo e chegaram super tarde. A Teresinha saiu com o Beto. E pensa que o Seu Giovanni reclamou? Quando era comigo, que sou casado, tinha sempre que ir alguém junto. O Dino, acho que está com alguma namoradinha, porque non tem treino no horário que ele chegou. Seu Giovanni e D. Amália chegaram felizes, mas eu percebi que eles non estavam naturais comigo aqui... fiquei me sentido um peixe fora d’água ontem...

Frazão – Mas você não sondou... não tentou descobrir alguma coisa...

Claude – Claro, claro que sim... E eles me contaram que foram jantar com Serafina e aquele francês, o Michel... e eu me senti o pior genro do mundo... nunca levei os meus sogros para jantar. O outro colocou o pé no Brasil, já está se enturmando, se embrenhando no meio da família, promovendo jantarzinho... Frazon!

Frazão – É, só de olhar eu percebi, ele é muito gentil e atencioso com a Rosa... muito mesmo...

Claude – Eu sei, eu o conheço. E o Seu Giovanni aceitando esse outro, sem uma reclamaçon. Frazon, eu fiquei envergonhado de estar aqui, porque se eu non tivesse acampado aqui a Rosa teria vindo pra cá, mas eles son gente ton boa, que non me pediram para ir embora, non reclamaram, non fizeram cara feia. Eles estavam constrangidos por non me contar antes, que iriam encontrar com a filha deles. Eu nem sabia que existiam pessoas assim no mundo...

Frazão – Eles realmente são pessoas especiais, mas não vai desanimar. Tive um trabalhão para arrumar tudo que você pediu...

Claude – Claro que eu non vou desanimar... eu estou é muito nervoso... minhas mãos eston suando... Eu já pedi para Dádi, ir ajeitando as coisas lá no meu apartamento... abastecer com bastante comida...

Frazão – HUM! Tá otimista! Assim que eu gosto...

Claude – Se tudo der errado, vou me trancar no apartamento com Rosa até ela mudar de idéia...

Frazão – Para quem queria que a D. Rosa fosse abduzida por um disco voador para poder ficar viúvo... agora você quer ficar vários dias trancados com ela...

Claude – Vários dias? Não! ... A vida inteira...

Frazão – Como a vida inteira demora muito para passar, vamos falar sobre os investimentos... Tem muito tempo ainda até a hora de encontrar a Rosa, vou te atualizar sobre os negócios e aí o tempo passa mais rápido...

Claude – Você acha que falar sobre a falência da construtora vai me acalmar?

Frazão – Claude, nada vai te acalmar, nem canção de ninar... sabe aquelas para criancinhas...

Claude – Eu quero ter filhos com a Rosa... tenho sonhado com isso...

Frazão – Nossa! Não dá para falar nada que tudo acaba em Rosa... Eu não quero te botar para baixo, mas as reuniões não foram boas. Eu acredito que foi porque você não estava presente. Eles ficaram um pouco decepcionados... o tal Michel estava lá...

Claude – E Rosa?

Frazão – E a Rosa aparece de novo na conversa... Claude, relaxa! Não, nem tocaram no nome dela e eu também não perguntei. Mantive tudo na maior discrição, conforme nós combinamos. Nem disse o teu nome completo, falei o tempo todo em nome do nosso Diretor e coisa e tal. Eles devem saber, pois empresas desse porte investigam tudo antes de investir, ele só não deve ter ligado o nome à pessoa. As reuniões ficaram marcadas para depois de amanhã. Mas eu te adianto que a nossa situação está crítica. Com a Construisez Votre Rêve, o investimento que eles querem fazer é a longo prazo e por etapas, nós não conseguiríamos sobreviver. Acho que o negócio vai vingar com a Les Investissements du Millénaire, parece mais sólido, investimento imediato, sem parcelas, tudo de uma vez, desde que nós apresentemos as garantias exigidas por eles, que não são coisas muito difíceis. Eu sei que não era o que você queria, mas vamos acabar negociando como francês da Rosa...

Claude – Francês da Rosa? Você ta maluco? O único francês da vida da Rosa sou eu! Depois de amanhã, eu vou decidir o que fazer... A melhor opçon era o dinheiro do Carlos, mas o preço que ele está cobrando... non vou poder aceitar...

Frazão - O tal Zequias acordou e está falando feito um papagaio, jogou tudo no ventilador. Acho que a prisão do Egídio de amanhã não passa. Agora ele não sai mais lá da construtora... Acho que o que você quer fazer vai acabar protegendo a Rosa até que a situação se resolva. Esse Egídio é um louco... tenho medo que ele bote fogo em tudo... sei lá... Eu conversei com o Freitas e o investigador Paulo contou que encontrou com a Rosa ontem e que ...

Claude interrompe – O quê? Ela se encontrou com esse investigadorzinho? E eu estou tendo que fazer chantagem para me encontrar com ela?

Frazão – Claude, hoje não dá pra conversar contigo. Acho bom você fazer um exercício de respiração para relaxar, senão essa conversa com a Rosa vai se um desastre...

##

No hotel do encontro de Rosa e Claude

Claude – Tudo pronto?

Frazão – Claude, eu já disse que sim!

Claude – Ela está atrasada, será que ela non vem?

Frazão – Nós é que chegamos cedo...

Claude – Eu estou nervoso...

Frazão ironicamente – É? Nem dá para perceber...

Claude fica pálido e Frazão pergunta o que houve. Claude não responde. Frazão segue o olhar de Claude. Rosa chegou e dirige-se a recepção. Frazão faz menção de ir falar com ela, mas Claude com um gesto pede que ele aguarde. Claude desliza os olhos por Rosa e observa que ela está com os cabelos soltos, com as pontas levemente onduladas, usa maquiagem leve que destaca seus olhos, com batom cor de boca. Vestido verde musgo, com corte abaixo do busto que desce em corte evasê pelos quadris. Costas a mostra e decote em “v” profundo. Ela segura displicentemente a bolsa e o casado. Os sapatos de salto alto completam o seu visual. Rosa está deslumbrante. Linda! Seu coração dispara.

Frazão – Ela está linda!

Claude – Maravilhosa, mas... tem algo diferente nela. Ela está mais segura, mas eu non sei se é só isso... um brilho...

Frazão – Pronto? Vamos lá?

Claude – Non, eu mudei de idéia.

Frazão – Você não quer mais falar com a Rosa?

Claude – Claro que eu quero. É o que eu mais quero. Eu vou esperar na sala que reservamos e você a leva lá! Eu preciso de um momento sozinho... pra me recuperar...

Claude vai para a sala reservada e Frazão vai falar com Rosa.

Frazão – Rosa, você está linda, uma princesa... Essa viagem te fez muito bem, menina!

Rosa – Frazão, você sempre gentil!

Frazão – Vamos passar na sala que reservamos para essa tão esperada conversa.

Rosa – Sala? Nós não vamos ficar no restaurante?

Frazão – Um assunto tão particular não pode ser conversado num lugar público e movimentado, ainda mais uma conversa entre você e o Claude...

Rosa – Como assim?

Frazão – Sai faíscas para todos os lados... só isso... Eu vou te acompanhar até lá e aí é com vocês...

Rosa – Você não vai ficar?

Frazão – Eu ficar?

Rosa – Eu quero testemunha dessa conversa...

Frazão – Rosa, você está arrumando encrenca pro meu lado... vamos lá...

Frazão abre a porta para Rosa entrar.

Os olhares de Rosa e Claude se encontram, por um segundo o tempo para.

Claude – Frazão, obrigado, pode ir que essa conversa é particular... (sem desviar os olhos de Rosa)

Rosa – Frazão fica... por favor... quero testemunha desta conversa...

Claude – Essa é uma conversa entre nós... que somos casados.

Frazão – Sendo assim eu já vou indo... Esse é um assunto entre marido e mulher... e ninguém deve meter a colher já diz o ditado... Boa sorte pra vocês ... vou vazar... tenho um encontro com a Alabá...

Claude – E aí? Já se decidiu?

Frazão – Assim que as coisas acalmarem, nós vamos fazer uma longa viagem... mas depois eu conto para vocês...

Rosa – O Frazão está namorando a Alabá?

Claude – Frazon? Como saber? É como ele disse depois ele nos conta...

Depois que Frazão sai, os dois se olham e as lembranças de uma noite especial invadem os seus pensamentos...

**

Eles chegaram da casa do casal Smith, Rosa diz que agora só faltam dois dias e os americanos vão embora e a vida deles vai voltar ao normal. Rosa deseja boa noite para Claude e diz que vai se deitar.

Claude – Non sobe ainda. Vamos conversar um pouco e ... você podia me acompanhar num último drink.

Rosa – É, até que um drink é uma boa pedida... o que você quer beber? Um licor?

Claude – Um licor, ótimo, ultimamente tem sido a minha bebida favorita, mas quem vai servir sou eu...

Claude pega os copos e convida-a, com um gesto, a sentar-se ao seu lado no sofá. Ela senta e pega o copo que ele lhe oferece. Ele entrega-lhe o copo e leva o seu aos lábios e fica fitando-a por sobre a borda do copo.

Claude – Que bom que você aceitou ficar comigo mais um pouco – observando-a com o canto dos olhos – Nos últimos dias você tem ido dormir cedo, quando eu vou me deitar você está sempre dormindo. Nos outros momentos, ou estamos trabalhando ou recebendo alguém. Essa casa anda movimentada depois que você veio morar aqui... eu non consigo mais conversar contigo, só nós dois...

Rosa – Eu fiquei contente por você ter me convidado. Estou precisando relaxar um pouco.

Claude – O que estou tentando lhe dizer, Serafina, é que encontrar você foi uma das melhores coisas que podia me acontecer. Eu sou muito grato por tudo que você fez e pelo que está fazendo...

Rosa pensa – As palavras e atitudes de Claude mostram que ele gostava dela, que nos últimos tempos até mesmo a considerava uma mulher atraente, que talvez devesse se contentar com isso, mas uma parte de sua mente queria que ele pudesse se apaixonar loucamente por ela, amando-a acima de todas as outras mulheres do mundo, em especial de uma. No entanto, como dizia o sábio e velho ditado popular, era tolice desejar a lua, quando não se pode alcançá-la. O melhor mesmo era se contentar com o que tinha, ou deveria seguir os conselhos e intuições de sua mãe?

Claude parecia decidido a convencê-la de algo, embora ela não tivesse a certeza do quê. Mas ela reparou na palavra gratidão e lembrou-se de como ele sempre falava que não queria que ela o considerasse um cafajeste, um canalha. Abaixando a cabeça Rosa fitou o copo, que tinha nas mãos.

Claude – Eu estou me explicando mal, non estou?

Rosa – Não sei, porque ainda não descobri o que você está tentando me explicar – Ela tentou falar espontaneamente. No entanto, foi incapaz de levantar os olhos para ele.

Claude larga o seu copo.

Claude – É simples. – segurando-lhe o queixo com firmeza, ele obrigou-a a olhar para ele – Eu quero beijar você. Senti vontade de fazer isso a noite inteira, nos últimos dias, desde que sua mãe caiu da escada, mas non tive nenhuma oportunidade. Por isso, eu estava tentando criar uma.

Rosa sente o coração acelerar ao ver o brilho no fundo dos olhos dele. Com essa declaração, suas emoções foram lançadas num verdadeiro redemoinho e deixando-a quase fora de si com a promessa contida naquelas palavras.

Claude tira o copo de Rosa e o coloca na mesinha ao lado do seu.

Rosa fica imaginando como é que ele podia proceder com tanta calma. Só de pensar no que estava para acontecer, ela tremia da cabeça aos pés! E sua vontade de ser abraçada e beijada por ele, estava se tornando tão intensa que provavelmente, dentro em pouco, não seria mais capaz de escondê-la.

Ele a faz levantar e fica atrás dela. Começa a acariciar os seus ombros, afastando os cabelos e beijando-lhe o pescoço com ternura. Ela fica imóvel fecha os olhos e entrega-se aos carinhos dele, com corpo arrepiado e enfraquecido. A barba de Claude, levemente crescida, raspava-lhe a pele som suavidade e sua boca umedecia-lhe os ombros. Ele virou-a com carinho, à procura dos lábios que tanto desejava. Para Rosa a sensação era de estar sendo beijada pela primeira vez. Ele afastou-se por alguns segundos para admirar o rosto dela e Rosa pôde notar no olhar dele uma mistura de carinho com desejo, que os olhos dele não conseguiam esconder. Quando as mãos de Claude se fecharam em torno de seus braços puxando-a para junto dele, Rosa não resistiu e entregou-se a vontade que a consumia. As mãos dele subiram lenta e suavemente pelos braços de Rosa. Ele a beijou novamente, mas desta vez apertou-a mais, deslizando as mãos para cima e para baixo em suas costas, trazendo-a para mais perto. Ele enfiou uma mão entre os cabelos dela, obrigando-a a inclinar a cabeça e oferecer-lhe o pescoço para ser beijado. Quando Claude encostou os lábios no seu pescoço, Rosa suspirou de prazer, relaxando o corpo nos braços dele. Ela gemeu ao sentir atrás da orelha o calor de sua boca. As mãos de Claude enterraram-se na massa de cabelos, forçando a cabeça de Rosa para trás e mantendo-a presa nessa posição, enquanto seus lábios cobriam-lhe o rosto de beijos, detendo-se finalmente na boca trêmula. Os braços dela envolveram então a cintura dele e o contato com aquele corpo envolveu-a numa névoa de sensualidade que dominou a sua mente, afastando todos os pensamentos de cautela. As mãos dele percorrendo-lhe as costas, acariciando-a e puxando-a para mais perto, despertava em seu íntimo sensações enlouquecedoras. Arqueando o corpo, Rosa colou o corpo no peito forte dele. Quando Claude desprendeu os lábios dos seus e começou a mordiscar de leve a sua orelha, ela percorreu as mãos pelas costas dele e subiu suavemente até os cabelos e o beijou profundamente. Para Rosa tudo parecia um sonho, estar ali, nos braços de Claude, sentindo as suas carícias, entregando-se a ele de corpo e alma. Podia sentir o coração dele batendo forte junto ao seu.

Claude pegou-a nos braços e subiu a escada em direção ao seu quarto.

...

Amanhece e Claude acorda sorridente e feliz, mas percebe que está sozinho. Levanta e começa a procurar por Serafina. Encontra Dádi e pergunta onde está Rosa.

Dádi – D. Rosa saiu cedo, Dr. Claudis.

Claude – Saiu? Saiu para onde? Cedo desse jeito...

Dádi – Dr. Claudis, cedo? São onze horas...

Claude – Onze horas? Não pode ser... Por que você me deixou dormir até essa hora, hein?

Dádi – O senhor deixou ordens para eu não lhe acordar, a não ser que o senhor pedisse. O senhor pediu?

Claude – Non, mas é que agora eu tenho acordado cedo...

Dádi – Sua esposa tem lhe acordado cedo, mas hoje ela disse para deixar o senhor dormir, que o senhor estava precisando descansar...

Claude sorrindo – Rosa disse isso, é... que bom... quer dizer, mas eu queria ter falado com ela... ter tomado café da manhã ... Ela disse para onde ia...

Dádi – Saiu com Dona Mrs. A Americana amanheceu aqui, disse que queria fazer umas compras. D. Rosa disse que só voltaria à noite.

Claude – Só à noite? Essa americana vive colada em Rosa, non dá folga... mas eu queria almoçar com Rosa hoje... hoje é um dia ton especial...

Dádi – Especial, por quê?

Claude – Especial... deixa para lá... Como a Rosa estava Dádi, ela estava bem? Feliz?

Dádi – D. Rosa é, sempre, tão bem-humorada, tão diferente de outras pessoas que eu conheço... mas hoje ela estava pensativa, estava diferente...

Claude – Diferente como? Feliz, apaixonada?

Dádi – Aconteceu alguma coisa Dr. Claudis? Por que esse monte de perguntas?

Claude – Por nada non. Pode servir o café, só um cafezinho. Estou atrasado. Eu tenho que ir para o escritório...

Dádi – Já estou servindo...

Claude fica pensativo e é invadido pelas lembranças da noite passada e sorri.

Dádi – Dr. Claudis... Dr. Claudis...

Claude – O que foi?

Dádi – Estou falando com o senhor faz um tempão e o senhor está aí com o olhar perdido... parece tão satisfeito... Saiu com d. Nara ontem?

Claude – Nara? Que Nara... não fala esse nome aqui... Perdido? Eu me encontrei... Hoje eu quero que você faça um jantar especial, com tudo que Rosa gosta e depois você está dispensada... de folga... ah e encomenda umas rosas vermelhas bem bonitas... muitas rosas... coloca algumas aqui na sala e outras lá no quarto... ah e no banheiro também...

Dádi – Jantar especial? Hoje? Rosas? Vocês não têm a festa de despedida do casal de americanos, naquele hotel, hoje? O senhor não vai receber o restante do dinheiro e o tal dos contratos...

Claude – Ah... é... eu tinha esquecido disso... Eu não vejo a hora desses americanos voltarem para os Estados Unidos...

Dádi – Sua vida vai voltar ao normal, d. Rosa vai embora... está contente?

Claude – Estou contente de me livrar desses americanos... isso sim... o resto eu vou resolver...

Dádi – D. Amália vem hoje para cá, ajudar D. Rosa...

Claude – Ajudar Rosa no quê?

Dádi – O Senhor não está prestando atenção em nada do que estou falando... ajudar a arrumar as coisas de d. Rosa. Os americanos estão indo embora... lembra?

Claude – Isso foi antes... agora tudo mudou...

Dádi – Mudou? Como assim...

Claude – Não foi nada... eu preciso ir...

**

Rosa – Claude? Claude?

Claude volta ao presente.

Claude – Serafina! E como você está?

Rosa – Bem e você?

Claude passa a língua nos lábios – Bem também... vamos sentar, você quer beber alguma coisa?

Rosa – Beber? Um suco?

Claude – Que tal um vinho?

Rosa – Vinho? Não posso! Quer dizer, não acordei com disposição para bebidas alcoólicas hoje. Hum, estou com vontade de suco de melancia... será que tem?

Claude – Suco de melancia?

Rosa – Estou com muita vontade, muita vontade mesmo...

Claude – Eu vou pedir... espera aí... eu já vi que você está com desejo mesmo desse suco...

Enquanto faz o pedido, Claude fica olhando para Rosa com o canto dos olhos e pede silenciosamente que Santo Antônio o ajude e ilumine suas palavras. Fica lamentando não ter pedido para D. Amália rezar por eles.

9 comentários:

  1. Mariana, ops! pra mim Mari, ah! já tô intima, rsrs. Como sempre digo os diálogos perfeitos, porém hj, agora, nem acabei de ler, estou na parte do Claude, Arlequim e Pimpinone e já vou dar meu depoimento, rsrs. Meus olhos estão molhados, rsrs, acredito q isso é um bom sinal. Mari vc me emocionou,o diálogo tah marcante msm, AMEI.Pra mim, vc já é uma escritora perfeita e qndo tiver publicações, já terá uma leitora voraz, eu. ;)

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  2. melancia fruta que ele mais gosta e que ela detesta os opostos se atrae, sua versao me faz lembra filme, em algum lugar no passado suas lembranças sao profundas e marcantes parabens marina

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  3. Mari, estou te devendo recadinhos! Vc se superou nessa parte. Está ótimo. Adorei as citações nas conversas com o Arlequim. O diálogo do Claude com a Frazão e o suco de melancia. A do suco é uma baita deixa, será que o Claude vai se tocar??? PARABÉNS!! Bj

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  4. Mariana,vc ta escrevendo cada vez melhor me emocionei com essa parte simplesmente perfeita.Parabens e obrigado por nos dar esse prazer.BJUSS.

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  5. Mari, vc ainda conseguiu se superar!!!! Amei a parte td, rsrs

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  6. só não demore para coloca os capitulos,que fico tão anciosa para ler. toda noite tenho que entra no blog para ver ser vc já postou o seu capitulo,agora + q nunca estou anciosa para ler os proximos q sem duvida esta melhor a cada dia.por favor coloque os capitulos todas as noites q não consigo dormi sem ler.

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  7. Mariana, estou muito emocionada! As confidências de Claude para Frazão, de Rosa para Teresinha, as conversas com Arlequim, as frases de L.F.Veríssimo, e a cena de amor do casal são lindas! Menina, que sensibilidade a tua, para escrever assim. Parabéns! Que lindo! Bjs.

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  8. Nossa Mariana que capitulo mais lindo este!!! Está tudo lindo, o nervosismo do Claude, as lembranças deles, a ajuda do Frazão, aintromissão providencial da Terezinha, enfim, todos os detalhes!!! Tá muito lindo mesmo!!! Parabéns.

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  9. Mariana!!! que capitulo intenso!!! o dialogo com o arlequim foi lindo, inteligente!! ele se abrindo para o frazon... e a lembrança da noite de amor deles!!! aaaafff para tudo!!! muito romantico, bem escrito.. deu pra emocionar muuuito!!! deu pra sentir o nervoso do Claude aqui com a gente.. mais tarde vou ler os outros capitulos!! tenho que sair.. bjo e obrigada, masi uma vez!!

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