quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO V


Ritinha ligou para a concentração. Agora que todos sabiam de seu casamento, conseguiu falar com Duda. Avisou que Jerônimo e Sinhana estavam para chegar ao Rio de Janeiro. Surpreso, Duda quase deixou o aparelho cair.
- O que eles vêm fazer aqui?! Morreu alguém?
- Fui eu que chamei - disse Ritinha, com cautela.
- Você é uma tonta! Uma imbecil! - berrou o futebolista.
Depois teve de fugir da concentração para apanhar a família na estação rodoviária.
Deixou Sinhana e Jerônimo no apartamento e saiu de novo, di­zendo que ia, para a sede do clube. Ritinha emocionou-se com o reen­contro, quis saber de seu pai, dos amigos de Coroado, e logo come­çou a se queixar de Duda.
- Que é que ele anda fazendo? - perguntou Sinhana.
- Já ouviu falar de um negócio chamado jogo de futebol? Pois é um inferno: concentração, treinos, viagens! O Duda fica em casa dois dias por semana, quando muito... sendo que um deles... ele dedica a sua ex-noiva.
Jerônimo e Sinhana se entreolharam preocupados. Ritinha não se conteve e começou a chorar.
As lágrimas de Ritinha e a presença de Sinhana e Jerônimo não alteraram a vida de Duda. Poucos dias mais tarde, estava de novo no apartamento de Paula. Conversaram na cama sobre uma parti­da que o Flamengo perdera. A campainha soou e Paula foi atender. Demorou a voltar.
- Quem está aí? - perguntou o jogador.
Eram Ritinha e Jerônimo. Duda recebeu-os com os olhos esbu­galhados. Paula procurou ignorá-los, escondeu-se no banheiro.
 - Nem a presença da velha te fez voltar pra casa, hein?! Você está mesmo perdido, mano. Inteiramente perdido - criticou Jerônimo .
- Não te mete na minha vida, cara! O que é que você sabe sobre meu relacionamento com a Paula?
Fez, então, uma revelação surpreendente. Paula esperava um fi­lho dele, não podia simplesmente ser posta de lado. Jerônimo e Ri­tinha emudeceram.
Aquela novidade amargurou a recém-casada, que procurou se aconselhar com Sinhana. A mãe Coragem sentiu que era hora de agir. Foi até o apartamento de Paula. A empregada a atendeu, pois sua patroa estava tomando banho. E imaginou que Sinhana era a mãe de uma moça grávida, com quem Paula queria conversar. Sinhana aproveitou tal suposição e incentivou a criada a falar. Ela contou tudo:
- Dona Paula paga bem, mas precisa de uma criança que nasça no tempo certo... no mês que devia nascer o filho dela... isto é... se ela estivesse mesmo esperando criança...
Sinhana percebeu o jogo sujo da amante de Duda, que não espe­rava filho nenhum dele.
A velha senhora partiu com o coração alegre. Tudo agora iria de­pender do caráter do filho, de sua vontade de abandonar a amante desleal. Informou a Duda sobre seu encontro com Paula.
- Mãe, essa história é pra valer? Não é engano seu? - pergun­tou o rapaz, incrédulo.
- Engano, é?! Engano ia ser o seu. Precisa abrir os olhos com essas mulheres da cidade grande, meu filho. São todas muito meti­das a espertas, porque não sabem amar de verdade.
Alguns dias mais tarde, Sinhana e Jerônimo voltaram para Co­roado, deixando no Rio de Janeiro o casal reconciliado. Uma novi­dade veio completar a felicidade de Rita e Duda: ela estava grávida.

Percebendo que seus inimigos ganhavam força e que Jerônimo tinha chance de vencer as eleições para a presidência da Associação dos Garimpeiros, o coronel resolveu estreitar os laços que ligavam o delegado Falcão a ele. Precisava contar com o apoio corrupto do braço armado da lei, para continuar rico e poderoso. Por isso, e para afastar sua filha de João Coragem, respondeu afirmativamen­te quando Falcão lhe pediu a mão da moça em casamento.
Ao saber disso, Lara desesperou-se. Já notara o interesse do de­legado, mas nunca o havia alimentado. Não pensou que os aconte­cimentos evoluíssem desse modo. Antes de enfrentar o pai, quis se aconselhar com o padre Bento. Não percebeu que João rezava aos pés de um nicho, num local que lhe permitia ouvir a conversa.
E quando o garimpeiro soube que aquela união estava sendo tra­mada, ficou fora de si. Gritou para Lara, desesperado:
- Não pode! Você... ela... Diana só pode se casar comigo, entende?
Lara, muito assustada, nem conseguiu responder. João saiu da igreja, montou em seu cavalo e desapareceu a galope.
A moça também se retirou e, horas depois, em sua cama, reme­morava o acontecido na igreja. Inquietava-se com a revolta do ga­rimpeiro ao saber de seu "noivado" com Falcão. Por que ele insistira em que ela não podia se casar com outro?
Na manhã seguinte, o promotor Rodrigo apareceu na fazenda de Pedro Barros exigindo a arma de Juca Cipó. Desconfiava de que Juca tinha assassinado o prefeito, e procurava provas. O jagunço recusou-se a entregar o revólver. Pedra Barros ordenou:
- Juca, dê logo a arma pra ele. Acabe com essa história!
A contragosto, Juca atirou-a sobre a mesa, voltando as costas ao promotor.
- Vou mandar examinar - informou o dr. Rodrigo. - Depois devolvo, conforme for o laudo.
Com o dedo em riste, Pedro Barros apontou a porta:
- Já chega! Faça o favor de se retirar!
Após a saída do promotor, Juca, com um sorriso zombeteiro, aproximou-se do patrão, alisando a coronha de outro revólver.
- Patrão... esta é a minha verdadeira arma.
- É bom nem comentar. Devia ter dado fim nela!
- Que nada! É a'minha predileta - disse Juca, apertando com ternura o revólver contra o peito.

Sozinha em casa, Potíra preparava o almoço. O dr. Rodrigo en­trou sem bater e aproximou-se da índia, sem fazer barulho. Agarrou-a por trás, abraçando-a com força. De início, Potira tentou reagir, depois aceitou o beijo ávido do promotor.
Quando Sinhana e Jerônimo voltaram da cidade, o rapaz foi aju­dar Potira a cortar lenha. A índia, insinuante, tentou se aproximar dele. Jerônimo não lhe deu chance. Por fim, Potira resolveu provocá-lo, contando do beijo do dr. Rodrigo.
- Foi na boca, Jeromo! Gostei tanto...
Num primeiro instante, Jerônimo enciumou-se. Mas, logo em se­guida, com os nervos controlados, disse que ia pedir satisfações.
- Ele tem de se definir. Se é pra casar, tudo bem. Mas se só quer se divertir...
Nessa mesma noite, num pequeno outeiro cercado por árvores e rochas, os garimpeiros de Coroado reuniram-se numa manifestação em favor da candidatura de Jerônimo à presidência da Associação dos Garimpeiros. Os discursos sucediam-se: falaram João, Jerôni­mo e o dr. Rodrigo. O tema em comum era a revolta contra Pedro Barros e seus métodos perversos. Os garimpeiros aplaudiam.
Um sussurro envolveu os manifestantes quando Pedra Barros, abraçado a Lara e acompanhado de Juca Cipó e do delegado Fal­cão, aproximou-se do local. Jerônimo, que discursava, percebeu a presença dos inimigos e passou a falar com mais entusiasmo ainda. Acusou Juca Cipó de assassino e Lara de mulher aventureira. A ma­çá, envergonhada, abaixou a cabeça.
- Calúnia! - gritou, colérico, Pedro Barros.- Vocês só sabem é criticar com mentiras!
Nesse instante, ouviu-se um estampido. Outro estampido se se­guiu e do ombro de Lara começou a escorrer um filete de sangue. Ela caiu ao chão, em meio ao tumulto que se formou.
Foi acudida e transportada às pressas para a fazenda do pai. Nervoso, Falcão entrou na casa-grande carregando-a no colo. Dal­va empalideceu ao ver as condições da sobrinha.
- Meu Deus! Que foi isso, Pedro?
- Dispararam contra mim, mas acertaram nela - exclamou o coronel.
- Eu disse que esse negócio não ia dar certo, não disse? - inter­veío Juca.
- Cala a bocal Você não sabe o que está dizendo! - ordenou Barros.
Mas Dalva já havia percebido tudo:
- O que não ia dar certo? O que vocês tramaram?
Falcão procurou desviar a conversa:
- Nada... não é nada. Acho melhor a gente levar ela lá pro quar­to, enquanto o doutor não vem.
Dalva e Falcão deixaram a sala, levando Lara consigo. Barros pas­sou a repreender Juca:
- Veja lá o que diz, seu idiota!
- Sim, senhor, eu vou tomar cuidado. Mas será que foi... o Lourenço?
- Claro que foi! Aquele cachorro! Estava tudo acertado pro tiro não pegar em ninguém. E ele fere logo quem? Minha filha! Eu ma­to aquele miserável!
O dr. Maciel chegou pouco depois. Enquanto ele cuidava de La­ra, Pedro Barros, no escritório, surrava Lourenço. Findo o castigo, ocapataz foi conduzido, amarrado, ao galpão.
O médico acabou de fazer o curativo. O ferimento não era grave, pois o tiro pegara de raspão. A moça gemia fracamente e Estela sentou-se a seu lado.
- O que foi... o que me aconteceu? - perguntou Lara,
- Atiraram em você por engano, minha querida. Era um atentado forjado contra seu pai, pra jogar a culpa sobre nossos adversá­rios - esclareceu Estela, ante os olhares pasmados dos presentes.
Horrorizada, Lara pôs a mão sobre a boca. Nesse instante, Pe­dro Barros entrou e aproximou-se da filha.
- Lara... como está passando?
- Do ferimento estou melhor ... mas desolada com o que o senhor tramou. Faltou com sua palavra. Disse que ia terminar com atentados, mentiras, violências...
O coronel pareceu aceitar as recriminações, dando a entender que se regeneraria.
O dr. Rodrigo começou a freqüentar o rancho dos Coragem sob o argumento de auxiliar Jerônimo na campanha para a presidência da Associação dos Garimpeiros. Mas outro motivo forte o impelia até a distante casa dos amigos: a paixão que a índia Potira lhe des­pertara. Sinhana via com satisfação o interesse do promotor, pois as investidas de Potira contra Jerônimo a intranqüilizavam.
Sempre que tinha oportunidade, Rodrigo perguntava a Sinhana obre a vida do dr. Maciel. Ele estava querendo investigar uma sus­peita de eutanásia ou erro médico que pairava sobre o pai de Ritinha.
- Não estou querendo prejudicá-lo - afirmou o promotor, certa tarde. - Não é ele que pretendo pôr na cadeia. É outro... muito mais poderoso.
Sinhana titubeava. Jerônimo insistiu:
- Diz, mãe! Diz! Todo mundo comenta isso, mas ninguém fala abertamente.
Sinhana resolveu se abrir. Contou que tinha sido empregada na cusa do dr. Maciel, quando Ritinha ainda era menina de colo. A mãe, a finada dona Alzira, era muito bonita, mas fraquinha. De repente, ela caiu de cama, muito mal. Todos diziam que ia morrer. O dr. Maciel, que já era homem revoltado com Deus e com o mun­do, piorou. Ficou briguento e mau. Um dia, embriagou-se e aplicou­-lhe uma injeção. Logo em seguida, dona Alzira morreu.
Sinhana terminou o relato com lágrimas nos olhos e insistindo em dizer que não tinha certeza de nada. Rodrigo a tranqüilizava:
- Garanto que não vou prejudicá-lo.
Sinhana, perspicaz como sempre, resolveu saber de Rodrigo o por­quê de seu interesse em derrubar Pedro Barros.
Rodrigo pediu desculpas, mas não lhe respondeu. Visivelmente atormentado, deixou a sala.
Fora da casa, segurando dois vestidos de corte moderno, Potira aguardava o promotor.
- Obrigada, viu? Gostei ...
Ainda sério, Rodrigo encarou a índia:
- De nada, Potira. É pra você ir se acostumando. No domingo, vista aquele que você mais gostar.
- Por quê?
- Porque não quero pedir a mão de uma moça desarrumada...
Mais tarde, Potira comentou com Jerônimo, excitada:
- Ele disse... que vai pedir a minha mão em casamento! Mas eu não gosto dele, Jeromo. Gosto é de você! Eu te quero, Jeromo!
Potira atirou-se apaixonadamente ao encontro de Jerônímo, Atordoado, ele desvencilhou-se da moça e deixou o quarto às pressa. Também a desejava, mas lhe parecia muito desonesto frustrar as pretensões do amigo promotor.

João trabalhava há horas no interior de uma pequena gruta garimpando. De repente, um raio de sol refletiu-se num pontinho na parede arenosa. João cavou mais fundo. E, afinal, um grito rouco incontrolável, escapou-lhe do peito:
- Braaaaz! Achei, Braz, achei!
Com a pedra nas mãos, saiu à luz do sol.
- Achei a minha pedra!
Braz Canoeiro, com os olhos arregalados, nem consegui acreditar...
- João! Isso não existe, homem! A gente está delirando. Isso não pode existir, João!
Mas a pedra era, sem dúvida, verdadeira.
A família Coragem alucinou-se com o achado de João.
- Estamos ricos, milionários! Vou ajudar todo o povo de Coroado! Não... vou consertar o mundo! - delirava João, mais tarde, abraçando Sinhana e Sebastião.
Jerônimo pegou o diamante e partiu para a cidade.
- Achamos! João achou a maior pedra do mundo! Tá ganha a eleição! - anunciou ele, para quem quisesse ouvir.
Atraídos pela gritaria, Pedro Barros, Lara e Dalva saíram da igreja, onde assistiam à missa. Jerônimo cadenciou o galope e parou em frente ao templo.
- Está ouvindo, Pedro Barros? Agora seu dinheiro não vai servir de impedimento, não vai comprar votos. Nós estamos ricos! Mi­lionários! Achamos a maior pedra do mundo!
- Diga a seu irmão que fiquei satisfeita por saber que ele encon­trou um bom diamante - comentou Lara, timidamente.
Jerônimo deu-lhe as costas e retirou-se alardeando o achado. Apesar de antipatizar com Lara, transmitiu seu recado, quando voltou para casa. João ficou muito alegre. Não se conteve e perguntou:
- Me diga uma coisa... Ela estava bonita? Mansa? Rindo muito?
- Era Lara, e não Diana - esclareceu Jerônímo, resumindo tudo.



2 comentários:

  1. Cada vez mais emocionante!!!!!Legal João ter achado a pedra, com certeza despertará muita cobiça no coronel. Ritinha gravida, mas pelo que lembro da 2 versão ainda sofrerá com Duda.
    Legal postar videos tb. Legal Jai Rodrigues cantando.
    Obrigada JE.
    beijos

    ResponderExcluir
  2. JE, muito bom! Essa história de Jerônimo e Potira, era complicada, a gente até pensava que eram irmãos por parte de pai. A pedra só trazia desgraças para João e a família. E, Juca Cipó era um terror, manobrado por Pedro Barros. Era muita violência, mas mesmo assim ninguém perdia um capítulo! Essa cena do vídeo foi inesquecível! Obrigada. bjs.

    ResponderExcluir