quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO VII


Sinhana transmitiu um estranho recado para João:
- Pedro Barros mandou você ir à casa do dr. Maciel, pra se encontrar com sua mulher...
Mesmo suspeitando do gesto do coronel, João foi até a casa do médico.
O reencontro de João com Lara confirmou a intensidade do amor que os unia. O garimpeiro tomou a mão que a moça lhe estendia e beijou-a com paixão.
- Eu me sinto bem com você, João. Você me transmite paz, confiança... E isso é tão raro em minha vida!
João sorriu enternecido. Depois quis saber o porquê do gesto do coronel, permitindo tal encontro.
- Acho que papai teve dó de mim. Foi ele mesmo quem mandou saber a data certa para o cumprimento do trato. Quer que você lhe diga quando pode me levar pra sua... pra nossa casa - esclareceu Lara, olhando ternamente para João.
- Bem... no dia 30, Jerônimo toma posse do cargo. No dia seguinte, eu penso em viajar até Franca, onde vou vender o diamante. Já entrei em contato com o comprador - informou João. ­Depois disso, podemos viver juntos.

Duda estava de volta a Coroado. Durante a longa viagem, refletira bastante e a conclusão era uma só: amava Ritinha. Amava sua mulher como nunca antes amara nenhuma outra.
O reencontro aconteceu no cemitério. Ritinha colocava flores no túmulo da mãe e quando viu o marido não conseguiu dizer nada. Apenas um longo beijo expressou o amor que os envolvia, e que agora parecia prometer uma felicidade duradoura.
Lara penteava-se diante do espelho quando Estela entrou repentinamente no quarto.
- Lara... eu preciso te avisar... te falar sobre tudo o que está acontecendo. Seu pai... nunca pretendeu entregar você a seu marido. Ele está preparando um golpe contra João Coragem.
- Preparando... o quê? - indagou Lara, atônita.
- Um.golpe! Um golpe, Lara!
Pedro Barros apareceu na porta como um louco.
- Mentira! Invencionice da cabeça dela.
Lara não acreditou no pai; desesperou-se.
- Agora eu entendo... o mistério da reunião de hoje à tarde. Eu confiei no senhor, papai - balbuciou Lara.
- E vai continuar confiando, porque, quando dou a minha palavra, eu cumpro... - afirmou Barros.
- Não, o senhor não vai cumprir... Vou avisar meu marido!
Era demais para o coronel, que começou a gritar:
- Ninguém avisa ninguém! É tudo mentira da sua mãe. Você não sai deste quarto!
Lara atirou-se de bruços sobre a cama, as mãos pressionando fortemente as têmporas. Uma dor intensa, irresistível. Quando levantou a cabeça, as feições de Lara haviam desaparecido. E uma voz rouca, colérica, irrompeu:
- Quem vai me impedir, velho sujo?
Barros assustou-se. Estela tremeu. Diana voltara. Escarneceu do coronel e depois saiu correndo do quarto.
- Juca! Lourenço! Agarrem ela! Não a deixem sair! - berrou Pedro Barros.
Ao pé da escada, Diana parou. Lá estavam os dois homens em posição de ataque. Ela os olhou com ódio.
- Eu mato o primeiro que puser a mão em mim! Saiam da frente! Os jagunços retesaram os músculos e aproximaram-se de Diana decididos. Juca agarrou-lhe os braços fortemente. Diana esperneava. Barros, bufando, desceu a escada. Diana dirigiu-lhe a palavra:
- Não adianta me prender. Eu vou sair e dizer ao João quem você é.
- Que é que a gente faz com ela, patrão? - perguntou Lourenço, assustado.
- Viajo amanhã cedo. Vocês tratem de impedir que ela deixe esta casa até eu voltar com Estela. Fechem bem os portões do jardim e avisem os outros homens.
Diana não parava de espernear. Barros advertiu:
- Se não amansar, eu chamo o beato Zacarias pra te tirar esse demônio do corpo!

Após passar a noite com Ritinha, Duda dirigiu-se ao rancho. João mostrou-lhe o diamante.
- Caramba, João! É uma pedra enorme! - pasmou-se Duda. Sorrindo, João contou os pormenores da descoberta. Duda quis saber quando João iria vender a pedra.
- Amanhã. Vamos eu e o Jerônimo, um tomando conta do outro. Duda estava disposto a acompanhá-los,
- E os teus compromissos? - perguntou João.
Duda explicou que havia conseguido uma semana de licença no time.
- Estou com um cartaz tremendo lá com os homens, eles me deixaram vir buscar Ritinha - completou Duda.
Nesse instante, Sinhana, pálida, invadiu a sala.
- Eduardo, vem cá, depressa!
Sinhana contou que Ritinha conseguira que ela falasse a respeito do envolvimento de seu pai na morte da mãe.
- Vai atrás dela, homem! Veja se evita dela fazer uma besteira - ordenou Sinhana.
Correndo, Duda deixou a sala à procura da esposa. Ao cruzar a porta, derrubou no chão a velha fechadura enferrujada que servia de talismã contra mau-olhado e doença ruim.
Esbaforido, Duda alcançou Ritinha no momento em que ela entrava na casa do pai.
- Ritinha, espera, acalme-se primeiro! Depois você fala com seu pai.
Ritinha não deu ouvidos ao marido. O dr. Maciel quis saber que confusão era aquela. Então, Ritinha falou:
- Sinhana me contou a verdade. Você se embriagou pra ter coragem de... pra ter coragem de fazer o que fez com a minha mãe. Assassino! Assassino!
O carro com faróis altos ligados estacionou diante da porteira da fazenda de Pedro Barros, depois de uma longa viagem.
- Quem é? - perguntou o jagunço que estava de guarda.
Era o dr. Rafael, o psiquiatra, que estava de volta para continuar o tratamento de Lara-Diana.
Enquanto isso, no quarto, o beato Zacarias, entre orações e chibatadas, castigava o "espírito mau" que dominava Lara. Lourenço ria disfarçadamente; fora ele quem chamara o beato. O barulho do carro despertou a atenção do capataz.
- Um carro desconhecido - gritou ele.
O dr. Rafael entrou na casa. Dalva o recebeu.
- Deus é grande. Chegou quem devia.
- Dona Estela antes de viajar me telefonou. Parecia aflita - comentou o médico.
Lourenço, acompanhado pelo beato e por outros jagunços, desceu a escada apressadamente.
- Que está acontecendo aqui? Onde está Lara? - perguntou o dr. Rafael, estranhando aquela movimentação.
- Lara está muito mal - informou Dalva. - Esse sujeito tentou matá-la - completou, apontando para o beato.
- Tentou matar?! - espantou-se Rafael. - Quero ver Lara, agora!
Afastou com rispidez o beato e subiu a escadaria. Ninguém tentou impedi-lo, pois os capangas de Pedro Barros tinham uma importante missão a cumprir.
Enquanto os jagunços partiam, o dr. Rafael entrou no quarto de Lara, acompanhado por Dalva. Imediatamente, constatou a gravidade da situação. O flagelo fora demasiado violento. Lara perdera a criança. O médico quis que alguém fosse com urgência chamar João Coragem.

Coroado vibrava de alegria. Jerônimo tomava posse na presidência da Associação dos Garimpeiros. Toda a família Coragem prestigiava a cerimônia. Apenas o velho Sebastião permanecera no distante rancho, protegido por Braz e Cema.
A criada da casa de Pedro Barros aproximou-se de João e informou-lhe o que havia acontecido com Lara.
- Ela está muito mal! - acrescentou a mocinha.
João partiu apressadamente em direção à fazenda, abandonando a festa.

Lourenço, acompanhado pelos jagunços, entrou na casa dos Coragem.
- O que é isto? - espantou-se Sebastião.
- Um pesadelo, velho! - ironizou Lourenço.
Lourenço queria saber do diamante.
- Podem me matar. De mim não arrancam uma palavra... Enquanto isso, do lado de fora da casa, Juca Cipó tentava violentar Cema.
Diante da barraca de tiro ao alvo, Jerônimo pressentia que algo de ruim estava para acontecer. Braz aproximou-se, sorridente. Jerônimo estranhou a presença do negro.
- Que é que você está fazendo aqui?
- Vim só dar uma espiada na festa - desculpou-se Braz. - Cema ficou lá, tomando conta do seu Sebastião.
O pressentimento de Jerônimo começava a ganhar intensidade.
Desesperado, dirigiu-se ao irmão:
- Vamos lá ver o pai, Duda. Vem comigo!
Na casa do rancho, Lourenço colocava Sebastião num dilema: ou ele dizia onde estava o diamante, ou matariam Cema. Um jagunço informou estar ouvindo o tropel de cavalos se aproximando. Então, Lourenço, apontando a arma para a cabeça de Cema, começou a fazer a contagem: um... dois... Sebastião não resistiu à pressão. Acabou apontando o lugar onde estava o diamante. Os homens de Pedro Barros cavaram rapidamente e entregaram a bolsa para Lourenço.
- Depressa! Já está mais perto! - avisou o jagunço.
- Vocês seguem na frente... eu me encontro com vocês mais adiante. Pra despistar os homens que vêm aí, cada um segue um caminho - ordenou Lourenço.
Os assaltantes partiram apressadamente.
Cema saiu em desespero ao encontro dos cavaleiros que chegavam.
- Socorro! Socorro! Seu Sebastião tá morrendo!
Os Coragem saltaram de suas montarias. Aflita, Cema, quase sem respirar, falava:
- Foi um assalto! Os homens estão fugindo.
Nesse instante, Duda percebeu uma sombra que procurava, nervosamente, montar no cavalo.
- Pare! Pare ou atiro! - gritou ele.
O assaltante atirou primeiro. O tiro atingiu a perna de Duda.

Na casa-grande, João não se conformava com o que haviam feito com Lara. Ele amparava a mulher com lágrimas nos olhos. O dr. Rafael já havia lhe informado sobre a perda do filho.
Sinhana e Ritinha, avisadas por Cema, estavam de volta ao rancho. O dia, que começara em festa, terminara em tragédia para os Coragem: Duda ferido, Sebastião passando mal e o diamante... roubado.
João, vindo da fazenda, entrou. Imediatamente, foi colocado a par dos acontecimentos. Não se conformou com tanta desgraça junta. Jerônimo exigia vingança e não excluía Lara.
- Por quê... minha mulher? - perguntou João.
- Porque está na cara que ela combinou tudo com o pai, não é, João?
- Não está na cara, não! Você não sabe das coisas... é melhor ficar calado... - respondeu João, revoltado.
Nesse instante, Braz entrou, esbaforido. Informou que o dr. Maciel não queria cuidar do ferimento da perna de Duda.
- Nós trazemos ele, mãe. Nem que seja amarrado – prometeu Jerônimo.
Amparado por Ritinha, Duda suplicou:
- Não demorem... Não agüento mais de dor!
Jerônimo e João partiram atrás do médico. Sob a mira das armas dos Coragem, o dr. Maciel não teve alternativa e foi até o rancho.
Após examinar Duda, o médico constatou que não teria condições de tratar o rapaz. O ferimento exigia recursos de que ele não dispunha.
- Mas vai salvar ele, doutor - afirmou Jerônimo, apontando a arma.
- Depois... depois não digam que tive culpa se lhe acontecer alguma coisa - disse o dr. Maciel. - Levem ele pra minha casa. Aqui não posso fazer nada.
Duda estava deitado sobre a mesa dura do consultório. Pensava em sua carreira. "E se ficasse aleijado para sempre?" Imerso em tais pensamentos, quase não notou a entrada do dr. Maciel. O médico ordenou:
- Todo mundo pra fora. Eu fico só com Domingas. Enquanto a operação transcorria, João prestava queixa na delegacia. O delegado Falcão queria saber se João desconfiava de alguém. O garimpeiro foi categórico:
- Foram os homens de Pedro Barros!
- Veja bem. É uma acusação muito grave - disse Falcão.
Mas Cema estava ali para confirmar tudo.
João queria providências imediatas do delegado. Senão, faria justiça com as próprias mãos.
O dr. Maciel não conseguia alcançar a bala. O suor escorria em sua face. Ele avisou que iria desistir da operação.
- Como é que vai ser? Se o senhor não retirar a bala... eles vão lhe matar! - exclamou Domingas.
O médico sabia disso. Mas estava resolvido. Tirou uma bala velha da gaveta. Essa seria a bala que ele mostraria aos Coragem.
- Que isto fique entre nós... Que ninguém saiba. Eu tenho de salvar minha pele - disse o dr. Maciel para Domingas, sem esperar resposta.
A porta abriu-se e o dr. Maciel apareceu. Os Coragem queriam ver a bala. Domingas mostrou a velha bala de chumbo.
- Ele está livre do perigo? - perguntou Jerônimo.
- Bem... nunca se sabe o que vai acontecer. Quando voltar à cidade, fará um tratamento adequado. Eu fiz o que pude... - disse Maciel.
- Pra que o gesso? - perguntou João.
- Houve fratura do perônio - esclareceu Maciel.
Duda despertava aos poucos da anestesia. Rita correu para seu lado. Ele pediu que avisassem a diretoria do Flamengo. Tinha medo de que uma ausência prolongada lhe custasse a carreira.
- Não se preocupe, a gente passa um telegrama – tranqüilizou Jerônimo.
Pedro Barros e Estela estavam de volta a Coroado. O dr. Rafael relatou ao coronel os acontecimentos do dia anterior. Pedro Barros ficou exultante ao saber que Lara havia perdido o filho, mas, quando tomou conhecimento das circunstâncias, reagiu violentamente:
- Vou dar uma lição naquele desgraçado do Lourenço. Eu nunca o autorizei a fazer o que fez com minha filha.
O coronel chamou os capangas e perguntou por Lourenço. Assim, ficou sabendo que seu capataz desaparecera, levando o diamante. Pedro Barros espumou de raiva:
- Traidor! Traidor!

Na delegacia, João aguardava pacientemente a chegada do delegado Falcão, que estava na fazenda de Pedro Barros. O delegado entrou, agitado.
João ficou sabendo que Lourenço desaparecera e, com ele, o diamante .
- Mas Pedro Barros deve saber onde ele está - acusou João.
- Por que devia saber?
Inteiramente descontrolado, João Coragem agarrou com violência a gola do paletó do delegado.
- O senhor está protegendo ele! Eu quero Lourenço hoje, aqui, preso. Na falta dele... vai ter de prender o Pedro Barros!
Falcão disse que não podia fazer isso. Afinal, o coronel estava fora, no momento do roubo.
- Mas eu posso, Falcão! Eu posso! - gritou João. Apressadamente, ele deixou a delegacia em direção à fazenda. Os jagunços tentaram impedir sua entrada na casa-grande, mas nada puderam contra a determinação do garimpeiro. João postou­se diante do coronel.
- Dei um prazo e o prazo se esgotou. Ninguém fez nada, até hoje, dentro da lei. Pois agora eu sou a lei! Exijo sua prisão ou o diamante. Exijo Lara ou sua vida!
Pedro Barros procurava inocentar-se, dizendo que o roubo do diamante fora responsabilidade de Lourenço: João não acreditava.
- E por que eu ia mandar fazer uma coisa dessas, se você está casado com minha filha... se eu tenho interesse que ela viva bem... - ponderou o coronel.
- Justamente por isso! O senhor procurou um motivo pra faltar com sua palavra. Eu, agora, não vou poder cumprir minha parte no trato e com certeza não vai deixar sua filha vir comigo...
- Bem... Isso é verdade. Já que o posso trato foi interrompido... eu não tenho obrigação de cumprir a palavra.
João encolerizou-se. Fez menção de subir a escadaria. Pedro Barros e Juca Cipó obstruíram-lhe o caminho. João tentou forçar a passagem. Pedro Barros começou a chutar o genro. Furioso, ele agarrou o coronel, encostando-lhe o cano do revólver no coração. Juca Cipó, desorientado, começou a gritar:
- João está querendo matar o patrão!
Num instante a sala se encheu de criados e capangas. Lara e o dr. Rafael surgiram no alto da escada. Irado, João forçava o cano contra o peito do coronel.
- Eu posso... acabar com tudo, agora - dizia João fora de si. Lara correu para o lado do marido, puxando-o pelo ombro.
- João, não faça isso! Não faça isso, pelo amor de Deus.
Então, João falou à mulher:
- Arrume suas coisas. Você vai comigo; agora!

OFERECEMOS O CAPÍTULO DE HOJE À NOSSA QUERIDA AMIGA JOICE, ESPERANDO QUE CONTINUE CONOSCO POR MUITO TEMPO.

Um comentário:

  1. Quanta violência! E isso foi só o começo! Mas mesmo assim, a gente não perdia um capítulo! O diamante só trouxe desgraças para a família Coragem! E começava o calvário de Duda! Muito bom, JE. Bjs.

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