quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO X


No salão da Prefeitura, a comemoração da vitória de Jerônimo foi interrompida pela chegada de Pedro Barros. O coronel trazia um bilhete de João, que prometia libertar Braz Canoeiro no dia seguinte.
O coronel exigiu providências e acusou o novo prefeito de estar defendendo o irmão. Jerônimo exaltou-se:
- Todo mundo sabe que isso não é verdade. E vou acabar com tudo quanto é pouca-vergonha, aqui. Seja da parte dele, seja da parte de quem for.       .
- Parece que a gente agora vai enfrentar a mesma luta, Jerônimo. A vida jogou a gente de um lado só! - insinuou Pedro Barros. - Do seu lado eu não estou, nem vou ficar! - revoltou-se Jerônimo.
No dia seguinte, a cidade paralisou com a ameaça de luta. O pequeno comércio fechou as portas e mesmo os vendedores ambulantes procuraram refúgio junto aos edifícios. De repente, um grito ecoou, quebrando o silêncio que tomara conta da cidade.
- Prenderam Joããão!
Com as mãos amarradas, o garimpeiro seguia à frente de três homens. O delegado Falcão correu para junto do pequeno grupo. Eles rumaram para a delegacia, onde Pedro Barros já os aguardava. João dirigiu-lhe a palavra:
- Como é? Não vai pagar pra esses coitados que me agarraram o prêmio oferecido?
O coronel não se fez de rogado. Retirou um cheque do bolso e entregou a um dos homens:
- Você reparte aí entre os três.
Nesse instante, João resolveu acabar com a encenação.
- Chega de tapeação. Retira essa corda que está me apertando!
A um só tempo, os três homens apontaram as armas. Um deles desamarrou João, diante dos olhares incrédulos de Falcão e Barros. João foi buscar Braz e voltou pouco depois trazendo o negro. Então, ordenou:
- Todo mundo pra dentro da cela... Vamos!
- Cambada de assassinos! - vociferou Falcão.
- Bandoleiros! - esbravejou o coronel.
Os curiosos que haviam se reunido diante da delegacia empalideceram ao ver João, Braz e os três homens partirem a cavalo. De dentro da cela, Falcão e Barros gritavam:
- Palermas! Idiotas! Tirem a gente daqui!

Em Morrinhos, Branca surpreendeu-se com a visita. Era Lourenço.
- Você veio, bandido! Você veio! Eu te esperei tanto! Tanto! Te odeio, mas não consigo ficar sem você...
O casal abraçou-se, beijou-se. Lourenço ficou sabendo que Branca não o havia denunciado.
- Acha que ia ter coragem? Depois de ter te esperado tanto... Depois de ter esperado tanto... ia pôr tudo a perder só por ciúme?             .
O ex-capataz, exultante, levantou a mulher pela cintura e rodopiou com ela pela sala.
- Valeu a pena, mulher! Você vai ver só o tamanho do diamante! Vai ficar rica!
Lourenço lembrou-se do filho, Alberto. Branca disse que não lhe contara nada. Ele continuava pensando que o pai fora assassinado.
- Aos poucos a gente desfaz os enganos - disse Lourenço.

Mas, atormentado pelo desejo de vingar a morte do pai, Alberto planejou um meio de chegar até João Coragem. E, depois de várias tentativas, conseguiu incorporar-se ao bando dos fora-da-lei.
Durante semanas, o rapaz, enquanto corria terras, cruzava rios e vencia léguas no lombo do cavalo, procurava uma oportunidade de revanche. A chance surgiu à margem de um riacho.
João havia tirado a camisa e se lavava. Alberto aproximou-se por trás, pé ante pé, com um punhal na mão. No instante derradeiro, ajudado por seu sexto sentido, João esquivou-se da facada fatal. Refeito do susto, não teve dificuldades em dominar o frágil adolescente.
- Podia te castigar, não podia? - vociferou João.
- E por que não castiga? Por que não me mata, como matou meu pai?

No rancho, Jerônimo preparava-se para uma recepção em sua homenagem, que se realizaria na casa de Pedra Barros. Aproveitou para comunicar a Sinhana seu rompimento com Margarida.
- Acabei com tudo. Foi melhor assim. Estava sendo uma tortura pensar em me casar com ela.
Sinhana não se abalou cem a notícia. Estava mais preocupada com o estranho convite do coronel. Pediu a Jerônimo que não fosse. Ele foi e não se decepcionou: nessa noite, conheceu Lídia Siqueira, filha do deputado federal Osvaldo Siqueira, representante no Parlamento dos interesses da zona do diamante.

Em São Paulo, Duda lia o telegrama:
Gabriela nasceu pt Ritinha passando bem pt.
- Puxa vida... que maravilha! Graças a Deus! - falou Duda consigo mesmo, pulando de alegria.
Em Coroado, o dr. Maciel também era informado do nascimento de Gabriela. Correndo pelas ruas, o médico anunciava:
- Povo de Coroado, eu já sou avô! Gabriela nasceu!

- O que é que ele tem? - perguntou João.
O dr. Nilo tinha acabado de examinar Alberto. A expressão sombria do médico revelava a gravidade do diagnóstico.
- Uma crise de apendicite. Tem de ser operado com urgência, já. Creio que não há tempo dele ser removido para Morrinhos.
A operação foi bem-sucedida e depois de alguns dias o dr. Nilo voltou ao esconderijo do bando para retirar os pontos da cirurgia. Ele trabalhava com cuidado, sob os olhares de João.
- Estive com sua mãe - disse o médico para Alberto. - Ela está ansiosa para que você volte e eu prometi a ela que o levaria comigo, hoje.
O médico dirigiu-se a João e perguntou se ele concordava.
- Eu não tenho direito de deter ele por mais tempo. Acho que deve seguir seu destino... Fiz o que fiz só pra lhe provar que não matei o pai dele.
Alberto, emocionado, dirigiu-lhe a palavra:
- João! Eu acredito em você como nunca acreditei em ninguém! - e estendeu a mão para o garimpeiro.
João não recusou aquele gesto de amizade, e Alberto tomou sua decisão. Continuaria ao lado de João; não voltaria mais a Morrinhos, para a companhia da mãe.

Na estação ferroviária de Coroado, o dr. Maciel aguardava a chegada de sua filha. Após a parada do trem, Ritinha, segurando Gabriela no colo, desembarcou. Maciel emocionou-se com o reencontro. Ele queria, mas não teve coragem de pedir para segurar a neta no colo. Então, perguntou sobre Duda.         .
- Nem sei por onde ele anda, pai - afirmou Ritinha, com certa mágoa.

A cerimônia de posse do novo prefeito de Coroado começara. Depois de breves palavras, o juiz da comarca deu a Jerônimo autorização para dirigir-se aos presentes. Na terceira fila do auditório, Duda, que havia chegado pouco antes a Coroado, fez o V da vitória com os dedos. O discurso de Jerônimo pregava a conciliação em Coroado. Ele afirmava que não ia lutar contra ninguém: seu recado era de paz. Duda decepcionou-se com o discurso do irmão. Esperava alguma atitude contra Pedro Barros.
Após as solenidades, o povo foi para o baile. Lídia dançou com Jerônimo. Rostos colados. Sussurros ao pé do ouvido.
- Sabe que, para um cara do interior, você não dança mal?
- Acha? - respondeu Jerônimo, visivelmente preocupado com a chegada de Ritinha ao salão.
Duda também percebeu a entrada da esposa. O reencontro do casal não foi nada amistoso. Ritinha resistiu às investidas de Duda. Então, ele resolveu convidá-la para um passeio:
- Como fizemos da primeira vez que vim aqui em Coroado. Lembra?
Ritinha hesitou, mas acabou indo.
Os dois caminhavam pela margem do riacho, recordando o passado recente. Mas algo havia mudado.
- A diferença é que, naquele tempo, eu não gostava de você assim como gosto hoje - disse Duda.
- E eu te adorava! - retrucou Ritinha.
- Agora, mudaram as bolas. Eu te adoro e você não liga mais pra mim. Mas por quê?
- É difícil amar alguém que prejudicou deliberadamente meu pai.
- Já te expliquei tudo, benzinho - disse Duda. - Juro que não foi culpa minha. Não tive nada a ver com aquela história da denúncia. Jamais me passou pela cabeça ir ter com os médicos mandões pra denunciar o erro de teu pai... Mesmo não gostando dele, eu não faria isso... Você não acredita?
- Eu não sei. A gente se engana tanto com as pessoas... Hoje em dia não confio mais em ninguém.
Duda acariciou-lhe o rosto, o cabelo, brincou com as mechas que lhe caíam sobre os ombros.
- A gente se gosta, Rita. Isso é que importa. A gente tem de confiar um no outro.       .
Ritinha o abraçou, repentinamente, apaixonada, incontida.
- Pelo amor de Deus, Duda, tente provar... prove que você não fez aquela coisa terrível!
Duda prometeu provar e lhe pediu que voltasse com ele para São Paulo. Apesar do apelo, Ritinha resolveu permanecer em Coroado, trabalhando na Prefeitura ao lado de Jerônimo. Duda conformou-se.

Pedro Barros, que se recuperava de uma doença, recebeu a visita do delegado Falcão. O coronel não se conformava com a atitude da filha, que decidira juntar-se ao grupo de João Coragem. Agora, o delegado e ele planejavam um ataque definitivo ao reduto de João. Falcão informou que havia conseguido até mesmo a colaboração dos delegados de duas cidades próximas. Eles enviariam tropas de reforço para Coroado.

- Pois que venham! Que venham atacar minha aldeia! Eles que se atrevam, se querem morrer! - exaltou-se João, ao saber da notícia.
- Mas são muitos homens, mano - explicava Jerônimo. - É uma luta inútil. Você vai sacrificar sua gente por causa de quê? De um capricho? Entrega sua mulher, pelo menos, e eles dão uma trégua!
- Não faço isso! Volte e diga a eles que vou em frente!
Jerônimo voltou a Coroado e informou a decisão do irmão ao delegado e ao coronel.

- Ao ataque! - berrou Pedro Barros.
Armadas até os dentes, as tropas, comandadas por Falcão, invadiram a aldeia.
- João Coragem! Estamos aqui e viemos te buscar! Onde você está? - gritou Falcão, arma em punho.
Silêncio. Barros interveio:
- Lara! Lara! Onde está você?
Silêncio. Francisco, um dos capangas de Pedro Barros, após vasculhar a aldeia, anunciou:
- Aqui não tem ninguém!
- João fugiu! - berrou o coronel, desconsolado.
- Por essa eu não esperava! - disse Falcão, triturando o palito preso aos dentes.

Em Morrinhos, Lourenço informava sua decisão:
- Branca, vou pra São Paulo ver se consigo contato com alguns aventureiros internacionais. Essa gente que contrabandeia diamantes no mercado negro.
- Por que no mercado negro?
- No mercado interno não acho comprador que me dê o preço justo. Venho te buscar depois e a gente vai viver no estrangeiro, como milionário!
- Não inclui seu filho nos planos de ricaço?
- Ah... como vai ele?
Lourenço ficou sabendo que seu filho pertencia agora ao bando de João Coragem. Branca não se conformava.
- Meu filho está perdido e você é o único culpado! Olha que, se eu cismar, um dia, pra salvar Alberto, conto toda a verdade pras autoridades - ameaçou Branca.
Lourenço percebeu que Branca se tornara um perigo. Então explicou a ela que, se falasse qualquer coisa, ela também iria parar na cadeia com ele. Esse argumento fez Branca prometer que se calaria.

Lídia permanecera em Coroado. E por um motivo: Jerônimo. Ela entrou no gabinete do prefeito e, insinuante, aproximou-se do jovem Coragem.
- Você me dá essa sensação... diferente. Eu adoro sensações novas, excitantes... - murmurou ela, explorando com as mãos o peito forte e cabeludo do rapaz.
Jerônimo não resistiu às carícias. A decisão de noivar com a moça não tardou. A mãe Coragem não gostou; mas o que ela podia fazer? Nada.
Alguns dias depois, Lídia aguardava Jerônimo no gabinete. Quando o prefeito chegou, Lídia informou-lhe que seu pai estava de regresso a Coroado e que desejava conversar com ele. Saber de sua decisão.
Na casa de Pedro Barros, Jerônimo comunicou ao deputado Siqueira que pretendia casar-se com sua filha. O pai de Lídia não se opôs, ainda mais diante dos argumentos da filha:
- Estou apaixonada, papai!

Lázaro, um dos homens de confiança de João, entrou silenciosamente na tenda onde Lara dormia. João havia viajado e a moça estava sozinha.
Lázaro avançou sobre ela. Os gritos da jovem despertaram Alberto, que cochilava diante da cabana. Alberto invadiu a tenda com a arma na mão. Diante da cena, ordenou:
- Larga ela! Larga ou eu atiro, Lázaro.
Na manhã seguinte, João voltou e ficou sabendo do acontecido. Possesso, ele dirigiu-se até o traidor.
- Fora! Fora, desgraçado!
Lázaro saiu correndo, sem ao menos recolher suas coisas.
A tentativa de violação abalou Lara e ela desapareceu da aldeia, dirigindo-se até o clube de jogo de Souza. Um telefonema levou o coronel e o dr. Rafael até lá. Eles se espantaram ao se depararem com a moça. Não era Lara... e muito menos Diana. Uma nova personalidade surgira. Disse chamar-se Márcia e aparentava ser uma mulher firme, serena e confiante, com uma capacidade de julgamento bastante adulta. Nem uma vez pronunciou o nome de João Coragem. Isso satisfez o coronel. .
O dr. Rafael levou Márcia para a fazenda. Ele desejava falar com Lara.
- Prometi não criar obstáculos. O que é que devo fazer para isso? - indagou Márcia.
O médico a hipnotizou. Poucos instantes depois, Lara estava de volta. Trêmula, insegura, incerta.
- Doutor, o que é que estou fazendo aqui?
- Está em tratamento, Lara. Eu tenho uma revelação a lhe fazer, minha filha .
- Qual, doutor?
- Você vai ser mãe, Lara!

Fausto Paiva, o novo técnico do Corinthians, queria saber de Duda. O massagista Damião informou:
- Duda cismou que viu um sujeito que já morreu. O fulano que dizem que o irmão atacou. Ele é bem capaz de ter ido até aquele hotel.
- Que hotel? - indagou Fausto, colérico.
- Um hotelzinho vagabundo, perto da Estação da Luz, onde o cara está hospedado.

No hotel, Duda forçou a porta do quarto 26-A e invadiu os aposentos. A ação inesperada pegou desprevenido o homem que dormia. Duda segurou-o fortemente pela camisa e olhou-o dentro dos olhos:
- Era você, desgraçado! Era você!
Aproveitando-se da surpresa de Duda, Lourenço desferiu um violento golpe. Duda caiu desacordado. O outro aproveitou para escapulir.
Após alguns minutos, Duda voltou a si e decidiu partir para Coroado à procura de João. Ao chegar à cidade, foi procurar Rodrigo e os dois dirigiram-se apressadamente até a aldeia dos foragidos.
Quando Duda informou o que descobrira no pequeno hotel em São Paulo, João espantou-se. Ele dirigiu-se a Alberto:
- Você viu seu pai, depois de morto?
- Não. Não fui chamado pra ver o corpo. Por quê?
Duda explicou. Alberto estremeceu e afastou-se do local. João voltou-se para Rodrigo:
- É importante provar isso... e que seja o mais depressa possível.
Duda, acompanhado por Rodrigo, voltou para São Paulo. Os dois tentaram inutilmente localizar Lourenço. O bandido havia evaporado. O promotor, desconsolado, regressou para a cidadezinha.

2 comentários:

  1. Muito bom o penultimo Capitulo. Duda finalmente foi atras de Ritinha. Agora aparece Marcia alem de Lara e Diana. E que emocionante esse final de capitulo, Duda descobrir que Lourenço esta vivo.
    Aguardo o ultimo capitulo ansiosamente.
    Beijos

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  2. Muito bom! Mas, o melhor está por vir! Lembro do final da novela, sei que vai ter muita emoção! Que história inesquecível! Bjs.

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