domingo, 8 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 6


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 6
 PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
POTIRA
SINHANA
DUDA
RITINHA
JOÃO
DIANA
LOURENÇO
PAULA
PADRE BENTO
DELEGADO FALCÃO


CENA 1  -  RANCHO CORAGEM  -  INT.  - DIA.

No rancho humilde da família Coragem, Jerônimo e Potira estavam almoçando. Sinhana acabara de colocar os pratos sobre a mesa e sentava-se também para acompanhar os filhos. De repente a porta da frente se abriu e Duda e Ritinha deram um passo em direção á sala. As atenções se concentraram no casal. Jerônimo, surpreso, não tirava os olhos dos dois.


DUDA  -  (quebrou o silencio repentino)  Entra, Ritinha, esta casa agora é sua.

Ritinha entrou, quase chorando.

DUDA  -  Vem, não se acanhe não. (E virando-se para os presentes)  O pai dela expulsou a pobre de casa.

Duda dirigiu-se para seus aposentos, no interior da casa.

JERÔNIMO  -  Que foi que andou fazendo com você, Rita?

RITINHA  -  Ninguém fez nada, gente. Não houve nada. A gente brincou sem mal. Se jogou na água. A gente... só se beijou... sem mal. Será que ninguém acredita nisso?
  
SINHANA  -  É. O mal todo é esse, menina. É que ninguém vai acreditar.

JERÔNIMO  -  E agora como vai ser?

Duda voltara do quarto após tomar banho.

DUDA  -  Já sei, vocês também estão pensando coisas horríveis a nosso respeito.
  
JERÔNIMO  -  (segurou o irmão pelos ombros, mãos firmes) A realidade é esta, mano: mesmo que não tenha acontecido nada... você vai ter que casar com ela.
  
DUDA  -  (chocado)  O que!? Ca... casar... com... com ela. Mas... isto é um disparate!
  
SINHANA  -  (incisiva)  Vai ter, Duda. Honra de moça é um negócio muito sério. Compreenda, filho. Não é problema se você errou ou não errou. O problema é ela ficar falada, desmoralizada.

JERÔNIMO  -  Vai ter que casar, Duda. Num tem pra onde.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  RUA   -  EXT. -  DIA.

No centro da cidade vários homens se divertiam vendo o cavaleiro puxar uma moça enlaçada pela cintura. Descalça, sapatos atirados no meio da rua, a jovem vestida de chita, gritava e esbravejava.

DIANA  -  Desgraçado! Patife! Me solta!

O cavaleiro, objeto da fúria da moça, respondia aos insultos.


HOMEM 1  -  Devolve o dinheiro. Devolve, vagabunda. Ou vai ter de sambar na corda aqui pra gente ver.

HOMEM 2  -  Quem é ela?

HOMEM 1  -  Uma ladra. Roubou dinheiro da venda do Peixoto.

O grupo havia se afastado, dispersando-se. A jovem permanecera sozinha. Calçava os sapatos de fivela e ajeitava os cabelos revoltos. Uma voz surpreendeu o seu silencio.

JOÃO  -  Será que estou ficando doido ou você não é a moça que roubou meu cavalo?

DIANA  -  Epa... lá vem mais um. Será que nesta cidade todo mundo é gira?
 
JOÃO  -  (insistiu)  Nós dois...quero dizer... a gente já não se viu,  não?

DIANA  -  Nunca vi sua cara. Você viu a minha? Agora sou também ladra de cavalos. Olha aqui, nunca vi seu cavalo, e muito menos você, bonitão. Mas se quer que a gente se conheça melhor, não me custa nada. É só dizer... “me ajude”.

JOÃO  -  Olha, juro que rezei pra te encontrar de novo.

DIANA  -  Onde foi que você me viu? Eu não me lembro.

JOÃO  -  Por quê ta fingindo? Eu te socorri, te cuidei...

DIANA  -  Está brincando...se é desculpa pra gente entrar num entendimento, tá perdendo seu tempo.

JOÃO  -  Não... não é isso... eu precisava te ver de novo.

O Promotor Rodrigo Cesar aproximou-se.

RODRIGO  -  João!

JOÃO  -  (esqueceu por instantes a presença da moça)  Sei que esteve em minha casa.  ( Virando-se á procura da jovem misteriosa)  Aquela moça...cadê ela?

Mais uma vez a mulher desaparecera sem explicação.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RANCHO CORAGEM  - EXT.  -  DIA.

Do interior da casa, Potira e Sinhana ouviram o galope do cavalo. Chegaram á porta do rancho. O cavaleiro era Lourenço, capataz de Pedro Barros.


LOURENÇO  -  O moço Duda ta aí?

SINHANA  -  Tá não. O que qué dele?

LOURENÇO  -  Recado do meu patrão. Ele que se prepare pra casar com a filha do Dr. Maciel, ainda hoje.

SINHANA  -  Meu filho não precisa ser obrigado. Se é o certo, ele casa. Se não é, ninguém obriga.

LOURENÇO  -  Certo ou não, ele vai casá. É uma ordem. Coroado em peso está esperando. E vai ser hoje. Na igreja do padre Bento.

Lourenço deu a volta ao cavalo e saiu em disparada.


CENA 4  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

Na igreja do Padre Bento reuniam-se João, Duda, Jerônimo e o vigário.

  
DUDA  -  Mas... o que está havendo?

JOÃO  -  A gente quer que ocê, meu irmão, tome uma atitude de homem no caso da Ritinha.

DUDA  -  Se eu não tivesse respeitado ela. Mas não houve nada, João. Coisa de louco.
 
JERÔNIMO  -  O nome dela caiu na boca do povo. Isso não é nada, Duda?

JOÃO  -  A gente não quer forçá, mas ocê não vai perder nada se casando com ela. É uma boa moça e gosta de você.

A voz viera da porta de entrada da igreja. Ninguém notara a presença estranha. Todos voltaram-se ao mesmo tempo.
PAULA  -  Mas ele não pode casar com ninguém.  Diga a eles, Duda, que você não pode se casar com essa moça.
  
DUDA  -  (grosseiro)  Cale a boca, Paula. Eu me defendo e não é preciso que você diga nada.

JOÃO  -  (sério)  Mas agora eu quero sabê.

PAULA  -  Eu e Duda somos... somos noivos. Estamos de casamento marcado.
 
JOÃO  -  (sem se dar por vencido)  Tão de casamento marcado, mas não tão de papel passado. Sinto muito, dona, mas a senhora acaba de perder um noivo.

PAULA  -  Está de acordo com isso, Duda?

DUDA  -  Ei! Esperem aí! De acordo coisa nenhuma. Quem decide a minha vida sou eu.

Mudo até aquele instante, Padre Bento sentiu a ameaça da explosão, diante dos rumos tomados pela conversa.

PADRE BENTO  -  Meus filhos...respeitem a casa de Deus.

Duda, acompanhado de Paula, deixou o recinto do templo. João e Jerônimo permaneceram ao lado do Padre.

JOÃO  -  Esse idiota vai dar pano pra manga... pros nosso inimigo zombar de nós. Eu, João Coragem, você, Jerônimo... O pai e a mãe... nossa família que tem fama de justiceira, de gente boa, sem mancha... a gente que só pensa em acabar com a maldade desta terra... que temos a nosso favor a confiança de todo o povo, vamos ser arrasado por causa de um erro do nosso irmão.

PADRE BENTO  -  Ele tem razão, Jerônimo. Nesta terra, quem lutar contra o Coronel Pedro Barros tem que ter a honra inatacável.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

A estranha ladra de Coroado dormia serenamente na cela da cadeia local. Fôra apanhada roubando dinheiro da caixa da Igreja. Esperava a visita de João Coragem, a quem dissera conhecer e mandara chamar, logo que fôra levada á delegacia.
João entrou, abruptamente, na sala do delegado. Falcão virou-se, atento.

DELEGADO FALCÃO  -  Olá, João. Aí está ela. Conhece?

DIANA  -  Olá, meu amigão. Me tira daqui que eu juro que não se arrepende.
  
DELEGADO FALCÃO  -  Seu irmão trouxe ela. Viu roubar todo o dinheiro da caixa da igreja. Conhece ela?

O espanto do rapaz se traduzia na expressão do rosto. Boquiaberto. Pasmo.

JOÃO  -  Claro que eu conheço. Tira ela daqui. Eu me responsabilizo por ela.
 
DELEGADO FALCÃO  -  (atônito)  Juro que não entendo mais nada. Pensei que fosse a filha do seu Pedro Barros.

João olhou espantado para a autoridade policial. E para a moça que saía calmamente do interior da cela.

JOÃO  -  Filha dele?

DELEGADO FALCÃO  -  Graças a Deus que não é. Ficou provado que não é. Telefonei e a moça estava lá. Por Deus, nunca vi duas pessoas se parecerem tanto.

DIANA  -  (aproximando-se do rapaz)  Então. Bonitão. Muito obrigada. Você é bacana pra burro.
  
JOÃO  -  (agarrando-a pelo braço)  Onde pensa que vai?

DIANA  -  Cuidar da minha vida!

JOÃO  -  Tá enganada. Agora sou responsável por você. Você vem comigo.

Ela tentou desvencilhar-se das mãos fortes do mancebo.

DIANA  -  Você não é meu dono!  Não me comprou!

A moça subiu a garupa do cavalo de João Coragem e o rapaz fez o animal galopar. Riam alegres. Durante alguns minutos atravessaram as ruas da pequena cidade, sob os olhos curiosos da população. Pouco depois ganharam o campo, num galope firme, decidido. Homem e mulher se confundindo com a natureza.
FIM DO CAPÍTULO 6


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...# JOÃO CORAGEM E DIANA LEMOS ESTÃO CADA VEZ MAIS APAIXONADOS

# DUDA TENTA, DE TODAS AS MANEIRAS, ESCAPAR DO COMPROMISSO DE CASAR COM RITINHA

# PEDRO BARROS MANDA FECHAR TODAS AS SAÍDAS DA CIDADE PARA QUE DUDA NÃO FUJA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 7 DE...

2 comentários:

  1. Muito bom , Toni! Padre Bento, era uma figura tão engraçada, sempre carregando um guarda-chuva, agora lembrei dele... Estou lembrando aqui de coisas já esquecidas, como essa cena de Diana presa por roubo. A gente ficava um bom tempo na dúvida se Lara e Diana eram realmente a mesma pessoa. É tão bom recordar! Bjs.

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  2. Maria do Sul, o interessante, segundo o livro "Nossa Senhora das Oito", é que Diana passou a ser a personagem preferida do público, e até do próprio Tarcísio Meira, que preferia Diana a Lara ou Márcia, que vai aparecer mais tarde.
    Bjs

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