quarta-feira, 29 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 28



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 28 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DALVA
MARIA DE LARA
RODRIGO
JERÔNIMO
SINHANA
JOÃO

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA  -  INT. -  DIA

DALVA  -  (exaltada)  Esse João Coragem é parte de uma minoria de sub-gente. pobre, sem educação, rude!

MARIA DE LARA  -  (nervosa ante o ataque da tia ao jovem Coragem)  Quer saber, tia Dalva? Eu não admito as atitudes desleais tomadas pelo meu pai contra esse rapaz!

DALVA  -  Você defende esse ignorante com todas as forças! Isso é um absurdo!

MARIA DE LARA  -  Me deixe em paz, tia Dalva! Vá embora, me deixe em paz!

De repente a dor de cabeça. Como se um estilete estivesse cortando-lhe os miolos. Dor fina, penetrante. Lara ajoelhou-se e apertou a cabeça entre as mãos. Durante alguns segundos isolou-se do mundo. Ela e sua dor terrível. Levantou-se, pouco depois e se postou diante do espelho, ignorando a presença da tia. Ajeitou os cabelos e gargalhou, dançando alegremente pelo quarto. A tia observava, espantada, a transformação ocorrida na moça.

DALVA  -  Lara... você está bem?

MARIA DE LARA  -  (zombeteira)  Melhor do que nunca, coroa!
    
DALVA  -  (baixando o tom de voz)  Lara! Você nunca me falou assim!

MARIA DE LARA  -  É... eu nunca tive coragem de lhe dizer umas verdades. E tenho muita coisa a lhe dizer. Mas, fica pra depois. Agora estou muito apressada...

DALVA  -  Aonde você pensa que vai?

MARIA DE LARA  -  Aonde eu penso?  (tornou a gargalhar com zombaria)  Desguia, coroa. Veja se não me enche! Vai pro diabo!

Bateu a porta com força e desceu as escadas bamboleando o corpo em direção ao jardim.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA NA FLORESTA  -  INT.  -  DIA.

    
Sapatos e roupas atirados pelo chão e sobre a mesa tosca davam um aspecto de desleixo ás ruínas da casa abandonada da floresta.   Lara entrou saltitante. Abriu o velho baú e retirou as vestes desbotadas pelo tempo. Despiu-se e vestiu a saia rodada de cor berrante, já conhecida dos bares de Coroado. Rodou a bolsinha no indicador, deu uns retoque no cabelo abundante e saiu bamboleante, estrada a fora. Diana voltava a aparecer.


CENA  3  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Manhã cedo, com o sol recém-saído, Rodrigo já se encontrava na casa humilde dos irmãos Coragem, expondo a Jerônimo os últimos acontecimentos de Coroado.

RODRIGO  -   ... fugiu. O Dr. Maciel fugiu! Mas já providenciei gente pra sair á cata do homem. Pode crer... isso não vai impedir que eu peça prisão preventiva para Juca Cipó.

O jovem ensaboava o rosto, atento ás palavras do promotor. Ultimava a higiene matinal.

JERÔNIMO  -  Pedro Barros já sabe disso?

RODRIGO  -  Não.  Estou fazendo as coisas em sigilo.

JERÔNIMO  -  Mas não é segredo que ele está tentando, por todos os meios, roubá do meu irmão os direito da pedra.

RODRIGO  -  Também sei disto. (sentando-se na beirada da cama)  Mas, com a prisão do Juca, ele vai acabar se esquecendo da pedra que João achou.

O jovem acabara de lavar o rosto e vestia as calças desbotadas da faina diária.

JERÔNIMO  -  Ele e o capacho do Falcão tão examinando no cartório os livro de escritura, pra vê se acha um jeito de interditá a mina da gente...

Rodrigo abriu o paletó e desabotoou a camisa.

RODRIGO  -  Aquele local pertence a vocês... não há o que temer. Andei vendo os papéis.

Um lampejo de tristeza velou os olhos do garimpeiro. Alguma revelação desagradável, talvez. Jerônimo baixou o olhar, antes de fazer novas considerações.

JERÕNIMO  -  Não sei como dizê pro João... que até o Braz Canoeiro traiu ele...

A notícia abalou o jovem promotor, obrigando-o a erguer-se como que impelido por uma mola.

RODRIGO  -  Traiu?

JERÔNIMO  -  Eu acho que traiu.  Braz se escondeu de mim. Se escondeu até de Cema, a mulhé dele. Tá com culpa na consciência, ora se tá!

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Sentado no chão, João Coragem  observava os dedos ágeis de Sinhana a costurar-lhe a calça rota e remendada. Moveu os braços e retirou de sob o travesseiro um retrato de mulher. Fitou-o demoradamente, embevecido, desligado de tudo e de todos. Sinhana parou para admirar o alheamento do filho. Balançou a cabeça, desconsolada.

SINHANA  -  Nunca mais viu ela, filho?

João voltou a si, guardando a foto no bolso da camisa.

JOÃO  -     (entre alegre e surpreso)  Não... mas vou vê, mãe.   Comprá um terno bão... ir na capital vendê meu diamante... voltá pra Coroado cheio da nota... ir na casa do pai dela e dizê: eu já posso sê marido da sua filha.

SINHANA  -  (ar de malícia)   E ela vai querê?

JOÃO  -  (otimista)  Ela qué.  Ela gosta de mim. Num entendo bem o que acontece... e já nem quero entendê. Eu acho que ela fez aquelas coisa toda... virô outra mulhé... pra me namorá.

Sinhana atirou a calça sobre a cama e botou as duas mãos sobre os joelhos.


SINHANA  -  Então ela tem duas cara, filho?

JOÃO  -  Podia tê até três, mãe. Eu quero ela assim mesmo. Tou doido por ela, mãe. Tou  maluco!

A velha levantou-se e tornou a apanhar a calça que jogara sobre a cama e, virando-a pelo avesso, mostrou o bolsinho sobressalente que improvisara. Puxou-o com força, testando a resistência.

SINHANA  -  Olha aí, botei o diamante na bolsinha de couro e fiz um bolsinho a mais na tua calça, pra caber ela... Amarrei bem amarrado, com linha de barbante. Veja se tá  firme...

João experimentou puxar o pequeno bolso de couro do interior do bolso recém-costurado.

JOÃO  -  Firme, tá. Pra me roubá ela, tem que me matá.

Sinhana benzeu-se, ante as palavras azarentas do filho.

SINHANA  -  Deus Nosso Senhô não vai permiti, mas é preciso tê cuidado. Seu pai tá doente de medo. Anda sonhando com coisa ruim.

JOÃO  -  Que nada!  (confiante)  Eu confio na minha gente. Ninguém vai me fazê mal, nem me roubá a pedra.

Abraçou a mãe, beijando-lhe a testa.

SINHANA  -  Tenho muito medo, Jão...

JOÃO  -  A gente vai fazê bem pra todo mundo. Vai vê só. Vou pô máquina no garimpo, dá emprego pros home, fazê uma casa decente pra senhora. Vou fazê creche pra tudo quanto é criança... asilo pros velho, hospital... vou ajudá a prefeitura a calçá as rua de Coroado. Dá de comê aos pobre. Tratá dos animal sem dono. Vou fazê tanta coisa...

SINHANA  -  (lembrou, puxando-lhe as orelhas)  Pensa um pouco em ocê, também.

JOÃO  -  Num quero muita coisa. Já disse. Só um terno bão... pra pedi aquela mulhé em casamento.

Sinhana achou graça da ingenuidade do grandalhão.


SINHANA  -  Só terno bão não resorve, filho...

JOÃO  -  Vai, gordinha...  (em tom de brincadeira, batendo com a mão espalmada nas nádegas da velha)  Veste um vestido bunito pra gente ir junto na cidade. Vou ao banco recebê o empréstimo. E quero que a minha família vai bem bunita...

SINHANA  -  Visto o vestido do intêrro?
    
JOÃO  -  (franziu o nariz, repetidamente)  Num precisa ir tão chic, ô que! Um vestido decente, só!


Contente, Sinhana desapareceu pela porta do quarto.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RANCHO CORAGEM  -  QUARTO DE JOÃO    -  INT.  -  DIA.

Jerônimo contava ao irmão a história do encontro com Lara, quando ele e Cema visitaram a fazenda de Pedro Barros á procura de Braz Canoeiro.

JERÔNIMO  -  E... tenho um recado dela!

JOÃO  -  Lara?

JERÔNIMO  -  É... naquele momento... o olhar era de Lara.  (depois de ligeira pausa, voltou a falar)  Não sei se eu devo dar...

JOÃO  -  Não sabe!  (quase gritava diante da hesitação do irmão)  Claro que tem de dar. O que foi que ela mandô me dizê? Anda, fala logo!


JERÔNIMO  -  (de má vontade)  Ela disse... que tá muito satisfeita por você tê achado o diamante...

Houve uma transformação repentina na face de João Coragem. O rosto másculo ameninou-se num sorriso infantil de contagiante alegria. Correu a pegar nas mãos de Jerônimo.

JOÃO  -  Ela disse isso? Ela disse? O que mais?
    
JERÔNIMO  -  Só.
    
JOÃO  -  (agitado pela novidade)  Onde ocê viu ela? Como foi?

JERÔNIMO  -  Tinha ido buscá Braz na casa do Barros. Fui lá disposto a tudo. Lara... tava no jardim.
   
JOÃO  -  Me diga... tava bunita? Mansa? Calma?
   
JERÔNIMO  -  Era Lara. Não Diana.

JOÃO  -  E o Braz?

JERÔNIMO  -  Tá se escondendo da gente, irmão... Braz traiu ocê!
    
JOÃO  -  O quê? Braz? Num credito! Braz é home bão. Honesto. É dos nosso. (assanhou a cabeleira cuidada do irmão)  Larga mão de tá só com pensamento ruim. Agora as coisa vão melhorá. Se alegra. Vamo na cidade tirá retrato de toda a família e pegá dinheiro no banco.

FIM DO CAPÍTULO 28 

Diana (Gloria Menezes)


... E NO PRÓXIMO CAPÍTULO

***PEDRO BARROS ORDENA AO DELEGADO FALCÃO QUE DIGA AOS CORAGEM QUE A ESCRITURA DE SUAS TERRAS É FALSA, QUE INTERDITE A MINA DE DIAMANTES E OBRIGUE JOÃO A ENTREGAR A PEDRA. CONSEGUIRÁ O CORONEL  SEU INTENTO?

***O DELEGADO FALCÃO, JUCA CIPÓ E OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS ENFRENTAM OS IRMÃOS CORAGEM, DE ARMAS EM PUNHO, EXIGINDO A ENTREGA DO DIAMANTE. JOÃO E JERÔNIMO ESTÃO DISPOSTOS A TUDO PARA NÃO PERDER A PEDRA TÃO VALIOSA. QUEM VENCERÁ ESTA PARADA?


NÃO PERCA O CAPÍTULO 29 DE

2 comentários:

  1. Toni, essa cena de Maria de Lara transformando-se em Diana, na frente da tia foi demais, nunca esqueci! Gosto muito de sua narrativa, com todos os detalhes, como por exemplo a cena de Sinhana e João, tudo bem explicado, muito legal! Bjs.

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  2. Maria do Sul, fico feliz que vc esteja curtindo! Sabe, eu me envolvo tanto com essa história, que, se não tomar cuidado, acabo escrevendo "ficá, tomá, prela, fazeno, jogano, home", em outras coisas rsrsrsrs

    Um abraço procêis tudo aí, uai!

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