domingo, 31 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 42



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 42

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DR. MACIEL 
DOMINGAS
JOÃO
ESTELA
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
LOURENÇO

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  QUARTO DE RITINHA  -  INT.  -  DIA.

Duda, sentado na cama, espreguiçava-se languidamente. Os olhos inchados do longo sono, abriam-se devagar, ambientando-se á escuridão. A porta abriu-se e Ritinha entrou.


RITINHA  -  (brincalhona) Que homem preguiçoso!

DUDA  -  Eu dormi, não foi?

RITINHA  -  Hum, hum! Cansaço da viagem.

DUDA  -  (levantou-se com esforço)  Se arruma, Rita. A gente vai ver o meu pessoal.

Com um gesto ligeiro, puxou a moça para si, abraçando-a com paixão. Suspendeu-lhe o queixo com a ponta dos dedos.

DUDA  -  Se disser que não estava com saudades de mim, apanha!

RITINHA  -  Precisa dizer, amor? Então, você não viu? Como eu te adorei esse tempo todo que tá aí, deitado como um paxá! Vim aqui umas cem vezes...

DUDA  -  Senti muita falta de você. E vim te buscar. Você vai comigo, quando eu for.
   
RITINHA  -  (suspirou) Não sei, Eduardo... eu tenho medo.

DUDA  -  Já decidi aquela situação toda. Aluguei outro apartamento pra gente.

RITINHA  -  Quando você volta?

DUDA  -  Vou só esperar meu irmão tomar posse aí, desse cargo... que ele dá tanta importância, mas que no fundo não é nada...
   
RITINHA  -  (aborrecida) Não diga isso! Jerônimo está com uma fama de justiceiro, de homem de fibra, rígido, que você nem imagina! Me disseram que a fama dele está correndo até pelos arredores de Coroado.

Eduardo afastou-a de si.

DUDA  -  Larga mão de falar dele, senão fico com ciúmes.
   
RITINHA  -  Mas Jerônimo é um grande sujeito!

DUDA  -  (zangado) João também é, pombas! Eu sou o maior jogador de futebol da atualidade! E você não fala de mim com esse orgulho!

Rindo gostosamente da reação enciumada do marido, Rita de Cássia abraçou-o mais fortemente, traçando com a unha um longo percurso sobre as costas nuas do rapaz. Duda sentiu um arrepio de prazer.

RITINHA  -  (encarando-o com meiguice) Pra mim você é o maior homem do mundo, Duda! E não precisava nem jogar futebol. Ciumento! Egoísta! Bobo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Da sala, Maciel ouvia as gargalhadas.


DR. MACIEL  -  (iracundo) Oh, Domingas! Chama aí esses dois indecentes pra jantar!

DOMINGAS  -  Que é! Tá com inveja, tá?

O médico enchia um copo de bebida. A ama observava, enquanto estendia a toalha sobre a mesa.


DOMINGAS  -  Menti pra Ritinha que você não bebia mais.

DR. MACIEL  -  (grosseiro) Azar seu! Eu não falei nada.

O álcool queimou-lhe a garganta provocando-lhe uma exclamação. Comprimiu a face e abriu a boca, como á procura de ar.

DOMINGAS  -  Ao menos... pra tapear a coitadinha, não é?

DR. MACIEL  -  Ela está muito feliz da vida, não precisa de tapeação. Eu... eu é que não aguento nem olhar pra cara do filho daquela feiticeira.

Domingas baixou a voz, evitando que a pergunta fosse ouvida no quarto ao lado:


DOMINGAS  -  O caso... na polícia... como está?

DR. MACIEL  -  Eu não confessei a minha culpa, mas existe a acusação como uma faca sobre a minha cabeça. Vira e mexe, eu vou ter que ir lá... me submeter ás indagações do delegado. Um dia, eu eu perco a cabeça, confesso o que fiz... e estou perdido pro resto da minha vida.
    
DOMINGAS  -  (espantada) Então... você... matou ela mesmo?

DR. MACIEL  -  (Irritado, atirou o copo contra a parede)  Não amola, estúpida!

O choque do copo contra a parede misturou-se ás pancadas enérgicas na porta de entrada.


DR. MACIEL  -  (ordenou, furioso) Vá, vá ver quem é e não me enche!

O cumprimento de João Coragem multiplicou por mil a ira do homem.


JOÃO  -  Boa noite, seu doutô. Vim vê meu irmão que chegô hoje.

DR. MACIEL  -  Essa não... essa não. Já agüento um Coragem... por obrigação. Dois é demais...

JOÃO  -  Licença, seu doutô.

O garimpeiro ameaçou entrar na sala, mas mal dera um passo, a voz de Maciel estourou no ambiente.


DR. MACIEL -  Ponha-se daqui pra fora... está me ouvindo? Eu não quero saber de mais ninguém da sua raça aqui dentro da minha casa.

Duda e Ritinha, movidos pelos gritos, correram para a sala.


RITINHA  -  Papai! Meu Deus, o que é isso?

João, com o dedo em brasa, avermelhado pela cólera, anunciou a retirada.


JOÃO  -  Pode deixá, eu vou embora. Tinha vindo só pra vê meu irmão...

DUDA  -  Absolutamente! Se meu irmão não pode ficar aqui, eu também não posso. Veja as minhas coisas, Ritinha!

A moça estava aflita, quase sem ação, diante do incidente que envolvia o esposo, o cunhado e o pai.


RITINHA  -  Eduardo...

DUDA  -  Se você quer... você vem comigo. Aqui é que eu não posso ficar.

Louco de raiva, o médico bradava, gesticulando com os braços.


DR. MACIEL  -  Vão pro inferno! Vão todos pro inferno!

Ritinha correu ao quarto e retornou, minutos depois, com a pequena mala de viagem do marido. João e Duda, ignorando a presença de Maciel, abraçaram-se a poucos passos da porta de entrada da residência.


JOÃO  -  Sinto muito, irmão. Sinto muito ter sido a causa...
    
DUDA  -  (cortou) Já estava por aqui com esse velho viciado...
    
RITINHA  -  (com a mala na mão) Eduardo... você vai mesmo... você tem coragem... de me deixar de novo?

DUDA  -  Na casa do pai tem lugar pra gente. (voltando-se para o irmão) Não tem, João?

O mano confirmou.


Os três deixaram a casa a caminho do rancho dis Coragem. Maciel, embriagado, resmungou palavrões ininteligíveis e aos poucos foi caindo ao chão.
CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  QUARTO DE LARA  - INT.  -  DIA.

Lara penteava-se diante do espelho quando Estela entrou repentinamente no quarto.


MARIA DE LARA  -  (estremecendo) O que foi?

ESTELA  -  Lara... eu preciso te avisar... sobre tudo o que está acontecendo.

Estela segurou entre as suas as mãos da filha. Buscava palavras que lhe permitissem explicar as maquinações do marido, sem abalar os nervos já desgastados da jovem.

ESTELA  -  Seu pai... nunca pretendeu entregar você ao seu marido. Está preparando um golpe contra o João, no dia da festa do Divino.

Lara sentiu as pernas bambearem.


MARIA DE LARA  -  (atônita) Preparando... o que?
    
ESTELA  -  (incisiva) Um golpe! Um golpe, Lara!

Pedro Barros apareceu na porta, como um louco. Estivera ouvindo a delação da esposa e espumava de raiva.

PEDRO BARROS  -  Mentira! Invencionice da cabeça dela!

MARIA DE LARA  -  (incrédula)  Papai!

PEDRO BARROS  -  Tira essas coisa da cabeça, Estela! Ninguém tá preparando coisa nenhuma!
    
MARIA DE LARA  -  Agora eu entendo... o mistério da reunião de hoje á tarde.

PEDRO BARROS  -  Não é nada que ocêis tão pensando!  (acentuou, voltando-se para a filha) Eu te dou minha palavra como não é verdade...

Mentia. E Estela sabia disso. Via, de um lado a ingenuidade de Lara e do outro, a falsidade do marido. Tinha de forçar a verdade.

ESTELA  -  Pedro, ela não merece isso! Eu errei muito, eu sei, mas agora que existe uma esperança para ela... uma esperança de salvação, nós temos de ajudá-la...

O desespero tomou conta de Lara, revelando-se em gestos nervosos.


MARIA DE LARA  -  Eu confiei tanto... tanto no senhor, papai.

PEDRO BARROS  -  E vai continuar confiando, porque quando eu dou minha palavra, eu cumpro...

MARIA DE LARA  -  Não, o senhor não vai cumprir... e eu vou ter que avisar meu marido!

Era demais para os ouvidos do coronel, acostumado a não aceitar desobediência ás suas ordens. O caráter impiedoso do chefe do garimpo, grosseiro e brutal, transpareceu vívido nas palavras que dirigiu á filha.

PEDRO BARROS  -  (gritava) Ninguém avisa ninguém. É tudo mentira da sua mãe, mas você não sai deste quarto!

Pedro Barros deixou o quarto no instante em que Lara se debruçava sobre a cama, mãos pressionando fortemente as têmporas, em expressão de dor. A cabeça parecia partir-se em mil outras diferentes. Uma dor intensa, irresistível, estourava-lhe os miolos. Quando levantou a cabeça, as feições de Lara haviam desaparecido. E uma voz rouca, colérica, quebrou o silencio do ambiente.

MARIA DE LARA  -  Quem vai me impedir, velho sujo?

Barros voltou-se, assustado. Estela tremia.


MARIA DE LARA  -  Quem vai me impedir, raposa matreira, miserável? Toque em mim pra ver o que lhe acontece. Vamos! Experimenta tentar me impedir de sair daqui!

O velho coronel parou, eletrizado, sem acreditar no que ouvia. Não era Lara. Não podia ser.


PEDRO BARROS  -  (olhos arregalados e voz mansa) Lara... eu sou seu pai... veja como fala comigo.

MARIA DE LARA  -  Eu não tenho pai.(atrevidamente, rodeou o corpo do coronel) Preferia ser a filha de um animal... não teria tanta vergonha. (apontou para a mãe que se encolhia a um canto do quarto) Ela... ela não tem toda a culpa. Você a tem! Você, que trama ás escondidas, que rouba, que mata, que traça planos de vingança. Ela não suportou e eu agora sei por quê. Porque você não presta! Você não vale nada!

Às últimas palavras, desapareceu, correndo pela porta. A surpresa de Pedro Barros paralisou-lhe a reação. Estava lívido. A voz não lhe saía do peito. Aos poucos, recompondo-se, berrou para dentro da casa.

PEDRO BARROS  -  Juca! Lourenço! Agarrem ela! Não deixem ela sair!

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.


Ao pé da escada, Lara parou por alguns segundos. Lá estavam os dois homens em posição de ataque. Olhou-os com ódio.


MARIA DE LARA  -  Eu mato o primeiro que puser as mãos em mim! Saiam os dois da frente!

Os jagunços retesaram os músculos. Aproximaram-se da moça com decisão. Juca agarrou-lhe os braços. com firmeza.

MARIA DE LARA  -  Eu disse que te mato, jagunço de uma figa!

Lara esperneava, agressiva como uma gata louca. Os dentes brancos fecharam-se, de repente, e uma mancha vermelha surgiu na mão grosseira de Juca Cipó. Era sangue. O berro do jagunço ecoou pela sala.

JUCA CIPÓ  -  Ai, me mordeu! Cruiz credo! Parece que tá com o diabo no corpo!

Barros descia a escada.

JUCA CIPÓ  -  Patrãozinho, que é que a gente faz com ela?
    
PEDRO BARROS  -  (ordenou, seguro) Deixem ela! 

Fechou a porta com uma tranca pesada de madeira e, a passos lentos, encaminhou-se para a moça.


PEDRO BARROS  -  Não se envergonha... de fazer este papel?
    
MARIA DE LARA  -  (com ódio) Não adianta me prender. Eu vou sair e vou dizer ao João quem você é.

PEDRO BARROS  -  Se fizer isso... eu não te considero mais minha filha!

MARIA DE LARA  -  Mas, eu não sou sua filha. Já disse isso.

PEDRO BARROS  -  Eu posso te dar uma lição, Lara, por tuas palavras.

MARIA DE LARA  -  Dá! Dá uma lição! Manda me matar como faz com todo mundo que te atrapalha! Pensa que é muito ladino, pensa que enxerga muito longe. Não vê nem um palmo adiante do nariz. É cercado de falsidade, mas não enxerga, porque gosta de ser bajulado.

LOURENÇO  -  (afobado) Que é que a gente faz com ela, patrão?
    
PEDRO BARROS  -  Viajo amanhã cedo. Vocês, tratem de impedir que ela deixe esta casa até eu voltar com Estela. Por enquanto... cuidem de sua vida, que eu cuido dela. Fechem bem os portões do jardim e avisem os outros homens.

Lara esperneava contida pelos braços de Juca Cipó que a envolviam pela cintura.


PEDRO BARROS  -  Se você não amansa, eu te levo comigo pra te internar num sanatório em Belo Horizonte. Ou então chamo o beato Zacarias pra te tirá esse demônio do corpo!

Barros afastou-se e Juca libertou a moça.


MARIA DE LARA  -  (entre os dentes) Ele me paga!

Dirigindo-se para o sofá, a moça ligou a vitrola no último volume e com as pernas apoiadas no peitoril da janela, deitou-se, ante os olhos esbugalhados de Juca Cipó.

FIM DO CAPÍTULO 42

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** SINHANA CONTA A RITINHA A VERDADE SOBRE A MORTE DA MÃE E A JOVEM, DESCONTROLADA, VAI TOMAR SATISFAÇÕES COM O PAI.

*** O DR. RAFAEL CHEGA Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E ENCONTRA LARA EM ESTADO GRAVE, PRESTES A FAZER UM ABORTO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 43 DE

PARA MEDITAR - COLABORAÇÃO: CONCEIÇÃO ALMEIDA (AMIGA DO MURAL DA URCA)

Uma linha invisível conecta os que estão destinados a se encontrar, apesar do tempo, do lugar, apesar das circunstâncias. O fio pode ser apertado ou enrolado, mas nunca rompido.

SESSÃO BISCOITINHOS


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=6YRTvIsLqEQ

sábado, 30 de julho de 2011

PARA MEDITAR - COLABORAÇÃO: MARI DO MURAL DA URCA

"Leia o texto abaixo e depois leia de baixo para cima"

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Clarice Lispector

SESSÃO FOTONOVELA

Não costumo fazer comentários introdutórios um pouco mais longos no início dessa sessão. Mas, hoje, por conta de alguns detalhes interessantes, vou fazê-lo.
Primeiro, o Dr. Percival aparece em Pecado Capital, novela de Janete Clair, autora do argumento dessa fotonovela. Para saber mais sobre a participação dele naquela novela, favor consultar: http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-230148,00.html. Após essa consulta, vão perceber que a maneira de tratar o personagem é a mesma nos dois trabalhos. Outro detalhe: Tereza Amayo também participa da novela, mas com personagem diferente do da fotonovela.
Segundo, no papel da tia dominadora está Fada Santoro, grande estrela das chanchadas (comédias musicais) da Atlântida e que, infelizmente, anda esquecida. Para descobrir o que eram as chanchadas, favor pesquisar em http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-eram-as-chanchadas. Para conhecer melhor a carreira da querida Fada Santoro, acesse o link http://ondeanda.multiply.com/photos/album/854.
Depois de tantas informações, resta-nos a última: a fotonovela apresentada abaixo foi publicada na revista Sétimo Céu – Série Amor, nr. 45, de junho de 1976.
Boa leitura!





















sexta-feira, 29 de julho de 2011

SESSÃO QUEM SOU EU?

A foto da semana passada era da Biscoitinha Rebeca


Agora tentem descobrir quem é a Biscoitinha dessa semana.

 
Biscoitinha ajudadora e com um coração do tamanho do mundo.

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 41



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 41

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

SINHANA
JOÃO
JERÔNIMO
POTIRA
DR. MACIEL
DOMINGAS
MARIA DE LARA
RITINHA
DUDA

CENA  1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Enlameados e com a pele curtida pelo sol,  João e Jerônimo entraram céleres pela porta a dentro. A voz firme de Sinhana obrigou-os a parar.


SINHANA  -  Recebero o recado no garimpo?  Pedro Barros mandou cê ir na casa do Doutô Maciel, pra se encontrá com sua mulhé...

No rosto do garimpeiro transpareceu a surpresa que lhe provocara a notícia.


JOÃO  -  Isso é verdade, mãe?

SINHANA  -  Verdade.  Os home sairo daqui agorica mesmo.

Os olhos dos irmãos fixaram-se no rosto de Sinhana á espera de mais novidades. Entreolharam-se, logo após, espantados.

JERÔNIMO  -  Que será que tá acontecendo? Essa mudança de repente...

Algo de perigoso devia haver por trás do gesto amigo do coronel. 


JOÃO  -  Uai... um hôme pode se arrependê dos seus erro. Pode ser que ele aprendeu ou tá começando a aprendê a lição que a gente tá dando nele.
 
JERÔNIMO  -  Hoje á tarde foi me propor um negócio sujo... de noite muda de idéia e deixa você ver sua mulher... sei não. Me parece esquisito! Cê toma cuidado, mano!
  
SINHANA  -  Eu quero ir com cê. Há mais de uma semana tenho tentado falar com Ritinha e o pai dela não me deixa nem me aproximar da casa dele.

Com expressão alegre, João Coragem dirigiu-se ao quarto. Com as mãos nas cadeiras, Sinhana balançava a cabeça, diante da transformação do filho.

JOÃO  -  Se apressa, mãe. Vamo! Cadê aquela camisa de sêda que eu comprei? E o perfume? Vou ter que ir bem arrumado... ver minha mulhé.

Jerônimo sorriu, discretamente, envolvido pelo contagiante entusiasmo do irmão.


JOÃO  -  (off)  Minha mulhé! Não tem inveja, Jerônimo? Cê não tem mulhé. Precisa arranjá uma, home!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  - EXT.  -  DIA.

Enquanto lavava o rosto e o peito de fortes músculos, Jerônimo se dava conta de que alguém o observava. Era Potira.


POTIRA  -  O seu encelência já chegou? Por acaso já viu a Ritinha?

JERÔNIMO  -  (com rudeza)  Num enche, Potira.

POTIRA  -  Tá muito importante, num tá? É o chefão dos garimpeiro... só faltava mesmo, ela. Cê num vai vê ela, também?  Vai, vai contá a ela a tua prosa e dizê que é importante.
  
JERÔNIMO  -  (enfurecido)  Olha, se continua com isso, eu te encho a cara!

POTIRA  -  Encelência de araque!

A índia  correu, célere, para o interior da casa. Jerônimo, como uma fera raivosa, partira ao seu encontro.

JERÔNIMO  -  Índia dos diabos...

De longe continuava insultando o garimpeiro.

POTIRA  -  Num se envergonha? Cê num tem mulhé! Arranja uma, home! Arranja uma!

Por pouco o sabonete atirado com força pelo rapaz, não atingiu o peito da moça. Espatifou-se de encontro á pilastra atrás da qual ela se escondera, no último instante. Zombeteira, continuava a provocar o homem a quem amava.

POTIRA  -  Olha aí, seu bobo, num sou garimpeiro. Em mim cê num manda, encelência!

A gargalhada de Jerônimo pôs fim ao conflito amoroso. Era puro ciúme e criancice e, qualquer atitude séria, só poderia intensificar a ira ingênua da moça.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Dr. Maciel andava de uma para o outro lado da sala, mãos ás costas, falando nervosamente.


DR. MACIEL  -  Que idéia bêsta foi essa de Pedro Barros combinar encontro da filha e João na minha casa!

Domingas explicou que o recado lhe fôra dado por Juca Cipó, a mando do coronel.

DR. MACIEL  -  Negar eu não posso. Tenho de aceitar o pedido dele... ou melhor, é uma ordem, não um pedido. Mas não vou ficar aqui pra ver a cara daquele safado. E ele é bem capaz de vir com aquela feiticeira da mãe dele...

Minutos depois Maria de Lara surgia. Modestamente vestida, como era de seu hábito. Parecia feliz.


DR. MACIEL  -  Entre, Dona Lara, entre. Esta casa é sua. Eu vou sair, mas minha filha e Domingas estão aí para atendê-la. Fique á vontade. Tenho que sair para atender um paciente...

Lara cumprimentou, cortêsmente, Domingas e Rita.


MARIA DE LARA  -  (surpresa)  Não chegou ninguém... ainda?

DOMINGAS  -  (tranquilizou-a)  Não, mas pode ficar sossegada. Ele não vai deixar de vir.

Ritinha dirigiu-se á recém-chegada em atitude amistosa:


RITINHA  -  É Lara? Que prazer! Queria muito conhecer você!

CORTA PARA :

CENA  4  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

João Coragem entrou, apreensivo, olhando cuidadosamente o ambiente. Viu Lara e Ritinha. Domingas lhe abriu a porta, sorridente. Dirigiu-se para as moças.


JOÃO  -   ...noite procêis!

Lara apertou-lhe as mãos, trêmula.

MARIA DE LARA  -  Como vai, João?

JOÃO  -  Tou bem. Satisfeito com este encontro. Que foi que deu no seu pai?

MARIA DE LARA  -  Acho que ele se apiedou de mim. Tenho sofrido muito.

João não acreditava no que ouvia.


JOÃO  -  (atônito)  Por minha causa?

MARIA DE LARA  -  Por tudo. Eu me sinto bem com você. Você me transmite uma confiança que não tenho em ninguém. Uma segurança de que eu preciso como do ar que respiro.

O jovem apertou carinhosamente a mão que a moça lhe entregava. Beijou-a, com amor, e sentou-se a seu lado. Tudo lhe parecia irreal – as palavras de Lara, os gestos amorosos, a confidência sincera que esta lhe fizera.

JOÃO  -  É esquisito a gente tá conversano como dois namorado, com arreceio.

Ela sorriu ante as palavras ingênuas e erradas do marido. Rude, inculto, mas bom e honesto.


MARIA DE LARA  -  Foi ele mesmo quem mandou saber a  data certa para o cumprimento do trato. Quer que você lhe diga quando vai poder me levar pra casa...

JOÃO  -  (incrédulo)  Ele mesmo?

MARIA DE LARA  -  É. Para isso planejou este encontro.

O rapaz pensou, espalmando a mão sobre a fronte.

JOÃO  -  Bem... no dia trinta meu irmão vai tomá posse no cargo. No dia seguinte, logo cedo, eu penso em viajá pra cidade de Franca. É onde eu vou vendê meu diamante. Já entrei em contato com o comprador. Já tá todo mundo me esperano e vão me pagá um preço justo.  (virando-se para a esposa)  Quer ir comigo, Lara?

MARIA DE LARA  -  Eu te espero, João...

JOÃO  -   ... e quando eu voltá, cheio da nota... aí tudo vai depender do seu pai.

MARIA DE LARA  -  Depois disso eu quero ir logo viver com você. Não importa para onde você me leve, João. Não me deixe esperar muito. Eu lhe peço...

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  EXT.  -  DIA.


Os freios rangeram na estrada poeirenta, dianta da casa do Dr. Maciel. Duda estacionou o carro e se lançou, apressado, para o interior da residencia.  Durante a viagem refletira longamente, e a conclusão era uma só: tinha de levar Ritinha de volta e reorganizar sua vida, fugir aos excessos de outros tempos, arrancar Paula de sua existência e dedicar as horas disponíveis ao carinho e amor que sua esposa tão lealmente procurava dar-lhe. Amava Ritinha, esta era a verdade. E nem mesmo as homenagens que o Flamengo lhe prestaria e todo o dinheiro acenado com a propaganda comercial foram obstáculos á decisão de voltar a Coroado. Agora, frente a frente com a mulher, usaria de franqueza. Não poderia viver distante dela por mais tempo.

CORTA PARA:


CENA  6  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Domingas estava só.


DOMINGAS  -  Ela deve estar no cemitério, Duda. Vai todos os dias visitar a campa da mãe e colocar flores sobre o túmulo.

Duda saiu, apressado.

CORTA PARA:

CENA 7  -  COROADO  -  CEMITÉRIO  -  EXT.  -  DIA.


E realmente Ritinha lá se encontrava ao lado de Jerônimo. A possante buzina do automóvel chamou a atenção dos dois e a voz de Eduardo, brincalhona, deixou a moça paralisada.


DUDA  -  Tá querendo paquerar minha mulher, mano?

A camisa vermelha, com finas listras pretas, destacava-se no fundo claro do carro-esporte. Jerônimo sorriu, acenando para o irmão.

JERÔNIMO  -  Falando do diabo e... o diabo aparece.

A porta se abriu e Duda correu em direção á esposa. Não havia palavras, apenas o longo beijo poderia expressar o imenso amor que envolvia ambos. Jerônimo assistia a tudo, imperturbável.

JERÔNIMO  -  É. Eu acho que preciso arranjá uma mulhé!

CORTA PARA:

CENA 8  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


JOÃO  -  Mas é verdade, mano? O Duda está na terra?

A notícia dada por Jerônimo deixou a família estupefata. Ninguém acreditava que o jovem estivesse de volta a Coroado. Sinhana, com um toque de despeito, voltou-se para o filho.

SINHANA  -  E por que o sem-vergonha não veio vê a gente?

JERÔNIMO  -  Primeiro a mulhé, mãe.
 
SINHANA  -  (sorriu, sem graça)  É... filho depois que arranja mulhé... se esquece até da mãe. Fica que nem filho de chocadeira.

Sentindo a tristeza da mãe, Jerônimo deu um passo e abraçou-a amorosamente.

JERÔNIMO  -  Tão veno só que velha ciumenta!

Os risos acabaram por contagiar Sinhana e o vozeirão do filho pôs fim á sua contrariedade repentina.

JOÃO  -  Vamo, vamo buscá o Duda senão a mãe tem um troço!

FIM DO CAPÍTULO 41
Sinhana

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JOÃO VAI Á CASA DO DR. MACIEL VER O IRMÃO E É EXPULSO PELO MÉDICO BÊBADO, PROVOCANDO A REVOLTA DE DUDA E RITINHA!

ESTELA ADVERTE LARA DE QUE O PAI ESTÁ PREPARANDO UM GOLPE CONTRA JOÃO.

DIANA DESAFIA PEDRO BARROS, E LHE DIZ TODAS AS VERDADES QUE LARA NÃO TERIA CORAGEM FALAR!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 42 DE

SESSÃO CAPAS E PÔSTERES

A capa que apresentamos abaixo foi publicada na revista Sétimo Céu, nr. 207, de junho de 1973. Já o pôster saiu na revista Contigo, em número que desconhecemos.
Nosso agradecimento ao amigo Césio Vital Gaudereto pela cessão do material.
Boa diversão!



SESSÃO FOTO QUIZ

A foto da semana passada é do ator Fiuk.
Agora, tentem descobrir quem é o garoto da foto.
Eis algumas pistas:
1) Estreou em 1985, na novela A Gata Comeu, da Rede Globo.
2) Trabalhou em novelas na Globo e no SBT.
3) Seu último trabalho foi no ano de 2009, na novela Caminhos da Índia, da Rede Globo.
Boa diversão!



quinta-feira, 28 de julho de 2011

HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DA CLÁUDIA G

 

SESSÃO LEITURA

O poema que reproduzimos abaixo é da autoria do grande poeta português Fernando Pessoa. Para maiores informações sobre esse escritor, favor consultar: http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_pessoa/biografia/.
Boa leitura!

Ela canta, pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.

Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.

Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!

Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção!

A ciência pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

SESSÃO ABERTURA DE NOVELA

A partir dessa semana, vamos postar algumas aberturas sugeridas por nossa amiga Kely, que as retirou de quatro vídeos do Youtube, publicados por anaqueful, que contém as 20 melhores aberturas de novelas, escolhidas por quem postou o vídeo.
Nossos agradecimentos à Kely pela sugestão.
A vigésima e a décima nona foram Estúpido Cupido e Dancin’ Days, respectivamente, já publicadas em nosso blog.
A décima oitava será publicada a seguir.
A novela A Próxima Vítima foi apresentada pela Rede Globo, no horário das 20 h, entre 13 de março e 04 de novembro de 1995.
Para maiores informações sobre a novela, favor consultar: http://www.teledramaturgia.com.br/tele/proximavit.asp.
O tema musical da abertura era Vítima, interpretado por Rita Lee e Roberto de Carvalho.
Boa diversão!




Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=w5V8pu4Y7xM

quarta-feira, 27 de julho de 2011

SESSÃO EXTRA

A amiga Kely Cardoso nos sugeriu uma música para a Sessão Túnel do Tempo Musical. Mas, infelizmente, não encontramos um remake dessa canção.
Resolvemos, então, colocar a sugestão da Kely na Sessão Extra, pois julgamos que a canção era muito bela e merecia ser publicada no blog.
O tema musical sugerido foi Shine On, interpretada pelo L.T.D., que foi parte da trilha sonora da novela Coração Alado, exibida pela Rede Globo, às 20 h, de 11 de agosto de 1980 a 14 de março de 1981.
Para maiores informações sobre a novela, favor consultar: www.teledramaturgia.com.br/tele/coracaoalado.asp.
Boa audição!





LETRA

SHINE ON

Just yesterday I cast my eyes
Upon your loving face
But that was yesterday
Now just a dream
A dream that lives inside my memory
Wish it could be reality

Shine on yesterday
Carry me away
And let me back in your arms
Holding you again
Shine on yesterday
Carry me away to be with you
Somehow let my dream come true

You know sometimes I stop and stare
No matter where I am
Thinking of you again
Once in a while I call your name out loud
Hoping you'll hear
Hoping my prayer will bring you here

shine on yesterday
Carry me away
And let me be back in your arms
Holding you again
shine on yesterday
Carry me away to be with you
Somehow let my dream come true

SESSÃO SAUDADE

Nessa época em que fazer rir é fazer brincadeiras pesadas que irritam ou machucam pessoas, o humor da Praça é Nossa, sucessora da Praça da Alegria, é um colírio para os olhos.
Lembrar da Praça da Alegria não é só recordar os grandes comediantes que dela participaram, como: Zilda Cardoso, Borges de Barros, etc., a maioria dos quais já não está mais entre nós. Lembrar da Praça é lembrar-se daquele velhinho bondoso e bonachão que com seu enorme sorriso recebia os convidados. Seu nome: Manoel de Nóbrega.
Quanta saudade de Manoel, ainda bem que ele nos deixou um pedaço de si, alguém que o recorda em quase todos os detalhes: o mesmo caráter, a mesma bondade, o mesmo sorriso simpático. Estamos falando do genial Carlos Alberto de Nóbrega, que até fisicamente recorda muito seu pai.
Para recordar o velho Manoel, vamos ver dois momentos dele na Praça da Alegria, com dois grandes humoristas, infelizmente, já falecidos: Rogério Cardoso e Walter D’Ávila.

Boa recordação!





IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 40


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 40

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DR. MACIEL
DELEGADO FALCÃO
SINHANA
JOÃO
MARIA DE LARA
DOMINGAS
PAULA
HERNANI


CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  DIA.
 
O banco da praça silenciosa fôra o local escolhido por Eduardo para ler a carta de Ritinha. O sol dardejava finos raios por entre a folhagem das árvores. Duda leu:


RITINHA  -  (OFF)  “Eduardo: Vou embora. Não fique contra ninguém por eu ter tomado esta atitude. Sou responsável por ela. Hernani pode não ser um bom caráter, mas não é mau sujeito. Ele me ajudou muito e você deve lhe ser agradecido. Eu me senti sufocada, sozinha nesta cidade que parecia me engolir. Ele evitou que eu fizesse uma loucura. Compreendi, finalmente, Eduardo, o mal que eu trouxe á sua vida. Compreendi que pertencemos a mundos opostos. Eu fui proibida de entrar no seu. Fecharam-se todas as portas. Cansei, desisti de lutar, amando você como amo. Sou fraca demais pra suportar o que tenho suportado, sozinha. E não há remédio para esta situação. Eu estarei sempre só. Não tenho a abnegação, a força de vontade de que vejo noutras mulheres de jogadores de futebol. É verdade que elas não tem a cruz que eu tenho levado nas costas durante todo esse tempo. Não existem Paulas na vida delas. Talvez, por isso, seja fácil esperar sempre o marido que volta ansioso da concentração ou de uma excursão. Elas tem família, tem amigos. Eu estou sempre só. Sempre só! Não, Eduardo, eu te deixo livre de uma vez. Talvez eu amadureça depois que nosso filho nascer. Não sei. É possível que sim, que eu volte, disposta a enfrentar Paula e todas as conseqüências de seu romance com ela. Talvez não me importe com o fato de você lhe encher de dinheiro, dando chance a ela de nos fazer mal com seu próprio dinheiro. Agora, não posso suportar isso. Eu sei que você não tem culpa de tudo. Eu é que sou a intrusa. Vou, resignada. Levo dentro de mim uma parte de você. Para mim, terá que ser o sificiente. Perdoe a minha imensa fraqueza. Sua... Rita de Cássia.”

Duda dobrou a carta, desolado, e perambulou durante alguns segundos pela praça. Alheio a tudo e a todos.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Sinhana e João sentaram-se diante do delegado. A velha fôra intimada a prestar depoimento no “caso Maciel”. Conhecera a vida íntima do médico e sua esposa e assistira os minutos finais da mãe de Ritinha.


DR. MACIEL  -  Cuidado... cuidado com o que diz...

DELEGADO FALCÃO  -  (impaciente)  É verdade? Responda.

SINHANA  -  Eu nunca pude tê certeza, mas desconfiá, eu desconfiava.
  
DR. MACIEL  -  (desaforado como sempre) Por que uma mulher qualquer põe uma cisma na cabeça e me acusa, não pode ser motivo para alguém suspeitar de mim.

As palavras do médico provocaram imediata reação do garimpeiro. Levantou-se, de um salto.


JOÃO  -  Veja lá como fala! Mulhé qualquer, não. Mulhé de respeito, muito distinta. Minha mãe...

DR. MACIEL  -  (gozou, sem se intimidar) Mulher distinta! Era minha empregada, vejam só!

JOÃO  -  E com muita honra. Mãe trabalha pra ajudá meu pai a sustentá a gente.

DR. MACIEL  -  Eu quero dizer que ela é uma boçal!

Sinhana saltou como uma fera, contida pela força do filho. Falcão permaneceu indiferente.

SINHANA  -  Boçal é a excelentíssima família! Eu agora digo e repito: ouvi ele dizê, mais de uma vez, que era melhor que dona Alzira, que Deus guarde, morresse!

DR. MACIEL  -  Posso ter dito isto, em momentos de desespero. Ela estava muito doente... sofria de mal incurável.

SINHANA  -  Isso não lhe dava o direito de tirá a vida dela! Ou acha que dava, seu delegado?

DELEGADO FALCÃO  -  Eu não acho nada. Quero saber se a acusação é procedente. Isto é que me interessa...
  
SINHANA  -  Eu não sei o que é procedente, só sei que ele disse que era melhor que ela morresse. E um dia, se embebedou e deu uma injeção nela, que matou ela! Pronto! Agora eu disse tudo! E olha, num ia dizê. Tava disposta a escondê a sua culpa. Mas o senhor não merece. Não merece. Vamo simbora, meu filho! Isto aqui já me encheu!

Falcão levantou-se, rápido, e barrou a saída dos dois.

DELEGADO FALCÃO  -  Espere um momento, ainda não terminei de fazer perguntas.

SINHANA  -  Mas eu não tenho mais nada a dizê. Repito pra quem quisé ouvi. Ele se embebedou e matou a mulhé.

Pegou do braço de João e deixou a delegacia, danada da vida. Maciel ainda tentou retrucar, dizer alguns dos seus palavrões habituais, mas Sinhana, a passos seguros, afastou-se cèleremente do edifício de polícia.

No interior da delegacia, Falcão falava duro com o médico. Em têrmos pesados.


DELEGADO FALCÃO  -  O senhor se sentiu com o direito... de tirar a vida de sua mulher?

DR. MACIEL  -  Eles me pagam... eles me pagam...

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  ESCOLA -  INT.  -  DIA.


MARIA DE LARA  -  Faça as lições direitinho. Até amanhã.
 
Lara despedia-se do último aluno do grupo escolar da paróquia. Sentou-se para corrigir os exercícios da tarde. Foi aí que ouviu a voz do marido.

JOÃO  - Dá licença?

Lara sentiu-se algo sem jeito.

JOÃO  -  Vim sabê... como você tá passando...

MARIA DE LARA  -  Estou bem... muito bem.

JOÃO  -  (inocente)  Acha que isso é contra o trato?

Sorrindo com a pergunta ingênua e preocupada do marido, Lara negou com a cabeça.


MARIA DE LARA  -  Não. Acho que não. Afinal, você tem todo o direito de falar comigo.

JOÃO  -  A gente é marido e mulhé...

MARIA DE LARA  -  De fato... Somos marido e mulher.

João segurou-lhe suavemente a mão. Lara estremeceu imperceptívelmente, sentindo-se acanhada.


JOÃO  -  Que é? Será que não tenho o direito nem de pegá na sua mão?

MARIA DE LARA  -  Tem, João. Tem direito de tudo... mas é que ainda não me acostumei a essa idéia. Você tem que ter um pouco de paciência...

JOÃO  -  Só queria sabê... você tá contente?

MARIA DE LARA  -  Eu nem sei, João. Você é um homem bom. Merecia uma felicidade maior... do que se casar com uma moça... nas minhas condições.

O rapaz espantou-se com o pessimismo da esposa.


JOÃO  -  Mas por quê? Você é mais do que eu desejei... mais do que eu merecia, Lara! Eu gosto muito de você. Você sabe disso, não sabe?

MARIA DE LARA  - Eu sei. Por isso mesmo... você devia ter gostado de uma moça... normal, como qualquer outra.

JOÃO  -  E qual é a diferença?

MARIA DE LARA  -  Eu... eu não sou normal,  João... Você sabe que há alguma coisa de muito estranho em mim.

Apertou mais fortemente as mãos da mulher.


JOÃO  -  Olha, eu não ligo pra isso. O Dr. Rafael disse que você pode ficá boa... que o nosso casamento era um passo... pra lhe dá segurança... a segurança que você precisa... porque ele percebeu, Lara, que você gosta de mim...
    
Maria de Lara abaixou os olhos, ruborizada
.

JOÃO  -  Será que ele se enganou?

MARIA DE LARA  -  Não, João. Ele não se enganou. Mas, eu quero que você tenha a certeza... de que todas as loucuras que eu pratiquei não foram conscientes...

JOÃO  -  Consciente ou inconsciente, Lara... eu não me incomodo. O importante... é que eu tenho você... Você é minha, Lara... e eu não quero mais nada da vida. Vou vendê meu diamante, vou sê um home rico... vou ajudá muita gente, é verdade... mas o que eu quero mesmo... é construí pra você um casarão como nunca se viu igual por estas banda... com muito criado... muita riqueza... só pra você, Lara.

Ela sorriu dos caprichos do rapaz.


MARIA DE LARA  -  Eu não quero nada disso, João. Preferia ficar curada pra não lhe dar trabalho. Se eu me sentisse bem... hoje mesmo... eu iria para sua companhia.

Os dois olharam-se demoradamente e Lara, pela primeira vez, passou a mão carinhosamente sobre o cabelo do marido.


MARIA DE LARA  -  Em parte... estou em paz comigo mesma. Você é tão bom, tão puro, João, que eu já estou certa... de que o que sinto por você não é pecado.

JOÃO  -  Se não lhe magoasse... eu gostaria de falá... do nosso filho.
   
MARIA DE LARA  -  (estremeceu) A gente fala depois, João.

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  IN.T - DIA.

Domingas, ao abrir a porta, deparou com Ritinha.


DOMINGAS  -  Nossa Mãe do Céu! Que surpresa é essa, menina? Virge Maria! Quase que você me mata do coração! Como é que aparece assim, de repente, sem avisar nada?

RITINHA  -  Eu tive que vir, Dona Domingas... Não havia mais condições de eu continuar sozinha, lá no Rio de Janeiro!

DOMINGAS  -  Por que, Ritinha? Por quê?

RITINHA  -  Mingas... é tanta coisa! Tanta coisa! Deixa eu descansar da viagem... tou morrendo de cansada. Não é brincadeira passar mais de doze horas sentada num ônibus...

A ama olhou discretamente para o ventre da jovem, como a medir as palavras.


DOMINGAS  -  E neste estado! Foi loucura você vir assim.

RITINHA  -  Eu tinha que vir, Mingas. Preciso muito de você... até do papai... preciso de carinho... preciso ter a certeza de que não estou só.

DOMINGAS  -  E... o Eduardo?

Ritinha sentou-se esticando as pernas e levantando os cabelos negros por sobre a cabeça. Abanou-se durante alguns segundos.


RITINHA  -  O Eduardo... coitado... ele não tem culpa de tudo. É que vivo num meio, Mingas, que não há lugar para mim, entende?
  
DOMINGAS  -  Não, Ritinha.
   
RITINHA  -  Depois explico, Mingas. Agora, me deixa ver a minha casa, o meu quarto. Pelo menos aqui eu não vou me sentir mais desamparada. Esse conforto, esse calor humano... eu não encontrei lá. Não encontrei, Mingas!

As duas mulheres se abraçaram e Domingas emocionou-se até as lágrimas.


DOMINGAS  -  Aqui você vai ficar bem, Ritinha, eu te prometo. Prometo, por tudo o que é mais sagrado. Vai, vai ver teu quarto, tua casa.

Maciel entrou completamente embriagado. Trocando as pernas e escorando-se nas paredes. Cabelos desgrenhados, barba de muitos dias, o médico dava rédeas ao vício que o consumia
.

DR, MACIEL  -  Me disseram... que viram minha filha... descer do ônibus.

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA  -  INT.  -  DIA.

Rita de Cássia acabara de entrar no quarto, jogando-se sobre a cama de lençóis alvos e frescos.

CENA 6  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  - DIA


Maciel cambaleava.

DR. MACIEL  -  Onde tá minha filha?

Domingas respondeu, nervosa, recriminando o estado de embriaguez do médico.


DOMINGAS  -  Não tem vergonha! Teve que beber de novo!

DR. MACIEL  -  Claro... fui arrasado... hoje... na Delegacia... Mas, cadê minha filha?

Maciel mal se aguentava em pé. As pernas trôpegas, a vista embaçada, a cabeça rodando... Ouvia as palavras de Domingas como se proferidas por um longo tubo de aço.


DOMINGAS  -  Está lá dentro. Mas, não vai ver ela nesse estado. Tem que curtir essa bebedeira, primeiro.

Domingas concluiu a frase empurrando o médico para fora de casa. Maciel tentava reagir, buscava forças que não existiam em seus braços e em suas pernas.


DOMINGAS  -  Vai embora! Vai tomar um remédio! E só volta aqui curado! Está me ouvindo bem? Curado!

Fechou a porta com estrépito e descansou a cabeça na madeira lisa e dura. Do lado de fora, Maciel resfolegava.

CORTA PARA:


CENA 6  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Ritinha regressava á sala, de roupa mudada e cabelos enrolados em touca. Viu Domingas apoiada á porta.


RITUNHA  -  Quem era?

DOMINGAS  -  Era... ah... um sujeito pedindo esmolas...

RITINHA  -  Pensei que fosse papai.

DOMINGAS  -  Não. Seu pai foi ver um doente. Acho que não vai demorar. Mas me conte... como é que vai o neném?
   
RITINHA  -  (sorrindo) É uma felicidade, Mingas, você nem imagina. É ele quem me dá forças pra tudo. Não fosse por ele e eu teria ficado no Rio, agüentando todas aquelas coisas... comendo o pão que o Diabo amassou.
 
DOMINGAS  -  E o Eduardo? Ele deixou que alguém te fizesse mal?

RITINHA  -  Não... ele não tem culpa... ele tentou me proteger, tentou se desligar de laços antigos... mas não conseguiu... você me entende?
   
DOMINGAS  -  (de cara amarrada) Não, eu não entendo e estou muito zangada com ele. Se você pode defender ele... por que não pôde continuar com ele?

RITINHA  -  Porque eu me cansei de ficar só e ele não pode fazer nada pra consertar esta situação. As obrigações dele não permitem.
   
DOMINGAS  -  E por que não? Puxa vida, se fosse assim, não havia jogador de futebol casado, Ritinha!

RITINHA  -  Eu não me ambientei... não tinha meio, nem amizades... só Eduardo.. e ele está muito ligado ao passado...
  
DOMINGAS  -  Que passado?

Ritinha conteve um soluço e fugiu á resposta. Com gestos controlados abriu o armário de estilo antigo e, de costas para a ama, preparou uma saída.

RITINHA  -  Quero que tudo seja como antes. Cadê minha xícara, o meu copo? As minhas coisas?

Domingas percebeu o nervosismo da filha de criação.

DOMINGAS  -  Foi... aquela mulher?

Com um leve movimento da cabeça a jovem disse sim.


RITINHA  -  Tive saudade da minha xícara...
  
DOMINGAS  -  Nunca pensei que Eduardo tivesse a coragem...
   
RITINHA  -  Mingas, eu era a intrusa. Ela já estava na vida dele. Não quis sair, pronto! Qual é o dela? Defendeu aquilo que julgava certo. Mas, pra isso... me judiou.

DOMINGAS  -  E você entregou os pontos! Foi uma boba! Tinha de ficar lá, desafiando essa sujeita...

RITINHA  -  Não agüentei... não agüentei...

Domingas abraçou-a, amorosamente, deslizando a mão por sobre a testa da jovem que criara desde menina.

DOMINGAS  -  Só deu chance a ela de agarrar teu marido. Mas, mal não fez. Agora, paciência.Já que tá aqui, daqui não vai voltar. Nesse estado é mais difícil reagir, eu sei. Depois que tiver seu filho, você toma uma atitude. Não vai perder seus direitos.

Rita olhou, serenamente, para a velha, quase súplice.


RITINHA  -  Você me ajuda, Mingas?

DOMINGAS  -  Ajudo. Ajudo. Agora, fica calminha e se anima.

A emoção dos primeiros instantes dava lugar á curiosidade que tinha em saber dos últimos acontecimentos da cidade. Sentou-se e forçou a ama a sentar-se a seu lado.

RITINHA  -  Me conte as novidades daqui!

DOMINGAS  -  Se eu te disser que a filha de Pedro Barros tá casada com João Coragem, cê acredita?
   
RITINHA  -  O quê! Essa eu não engulo! Essa... é muito forte!

DOMINGAS  -  Pois tá! E o casamento deu um bode que você nem imagina.

RITINHA  -  Me conte, Mingas, me conte!

CORTA PARA:

CENA 7  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Duda entrou como um raio no apartamento.


DUDA  -  Vim pegar minhas coisas.

Paula observou-lhe as mãos crispadas, o cenho cerrado, os lábios contraídos. Tentou negociar, hàbilmente.

PAULA  -  O apartamento é seu...

Retirou alvoroçado as roupas do armário embutido na parede.


DUDA  -  Você devia estar na cadeia. Eu não te perdôo. Consegui uma licença de três dias e vou até Coroado pra ver se resolvo a minha vida.

Com a mala na mão dirigiu-se para a porta de saída no instante em que Hernani entrava. O ex-amigo abria um sorriso de satisfação.


HERNANI  -  Olha ele aí! Por onde você andou, Duda? Te trago uma notícia de arrasar meio mundo...

O jovem parou a poucos passos da saída. 


HERNANI  -  Uma empresa de publicidade me chamou e mandou te oferecer uma nota pra fazer propaganda, na televisão, dos seus produtos.

DUDA  -  Que produto?

HERNANI  -  Glostora, brilhantina pro cabelo. Vais ficar milionário. E ainda tem mais, a diretoria do Flamengo vai te oferecer um jantar numa churrascaria, aí... Hoje, terás de ir á televisão para uma entrevista espetacular.

Duda se interessava pela proposta.


DUDA  -  Esperem, mas pra quê tudo isso?

HERNANI  -  Ora, pra quê? Você é ou não é o grande Duda?
  
PAULA  -  Pois é, ele está com vontade de abandonar tudo isso... pra ir catar pedra no garimpo...

HERNANI  -  Está louco! Você nasceu com a estrela do sucesso. Precisa aproveitar. És um sujeito de sorte. Estás com tudo.

Hernani o abraçou e Duda permaneceu estático sem saber que destino tomar. O amor ou a fama?

Os gritos alegres de Hernani e Paula confundiam-se com a luta interior que o dominava.


FIM DO CAPÍTULO 40 
Ritinha e Duda
 E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JOÃO E LARA ENCONTRAM-SE NA CASA DO DR. MACIEL E FAZEM PLANOS PARA O FUTURO.

DUDA CHEGA A COROADO E VAI DERETO PARA A CASA DO DR. MACIEL Á PROCURA DA ESPOSA.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 41 DE