quarta-feira, 3 de agosto de 2011

SESSÃO SAUDADE - COLABORAÇÃO: MARIA DO SUL

MINHAS RECORDAÇÕES DAS RADIONOVELAS

A primeira radionovela que ouvi, chamava-se Apenas Deus por Testemunha. Eu devia ter uns dez anos e tinha começado a estudar no turno da manhã, e, depois do almoço, ficava azucrinando minha mãe com assuntos, tipo: - Mãe, adivinha quem vomitou na escola? Ou então: - Mãe, a professora deixou o Zé Roberto de castigo no recreio!  Minha mãe gostava de ouvir as novelas da Rádio Farroupilha, das 13 até 14 horas e acho que sentiu seu lazer ameaçado, rsrsrs e então teve uma ideia: contou-me detalhadamente a trama da novela, mais ou menos nesses termos: - A novela está muito boa, uma mulher má e um homem que ela namorava, mesmo sendo casada, a sem-vergonha, resolveram matar o marido dela, para ficar com o dinheiro dele. Então, amarraram e amordaçaram o homem e amarraram uma pedra pesada no corpo dele e o jogaram num rio, mas ele tinha um canivete no bolso, e conseguiu cortar as cordas e fugir. Os bandidos pensaram que ele tinha morrido. Agora, ele finge ser uma assombração: acende as luzes da casa no meio da noite, mexe nas teclas do piano e a mulher está apavorada, pensando que é um fantasma que faz isso!  Hoje a novela vai estar muito boa, quero ver o que vai acontecer! A partir deste dia, minha mãe teve sempre uma companheira para ouvir as novelas de rádio.
Lembro-me de tantas radionovelas boas! Vou citar algumas de que gostei muito: ¨Uma rua chamada esperança', 'O segredo do quarto amarelo', 'Castigo do céu', 'As minas de prata', 'Calúnia', 'O italianinho de cara suja e muitas outras, que lembro a história, mas não lembro o  nome. Não recordo muitos nomes de autores, mas minha mãe gostava muito das novelas de Dulce Santucci, Janete Clair, Ivani Ribeiro entre outros. O elenco era daqui do sul mesmo, acho que a Rádio Farroupilha comprava as novelas da Rádio Nacional e com seus radioatores, por sinal ótimos, fazia novelas inesquecíveis! Logo eu estava ouvindo também a novela das 15h  e das 16h  a qual terminava às 16,30h, quando começava uma novela em outra emissora, que eu também ouvia. Eu tinha que regular bem os meus horários pra acompanhar tantas novelas, (eu ainda não tinha rádio de pilhas): lavava a louça nos intervalos da novela das 13 h, comprava o pão para o café antes da das 15h, fazia os deveres de casa depois das 17h. Quando fiquei mais velha (com uns 12 anos), comecei a ouvir a novela das 20 horas, no radinho de pilhas que ganhei quando terminei o antigo primário, (promessa de meu pai, por eu não ter repetido nenhum ano). Nessa época minha mãe já tinha cortado as novelas da tarde, só me deixando ouvir a das 13 horas, e pensando bem era exagero mesmo, rsrsrs.
Quando ainda não tinha rádio de pilha, vocês precisavam ver a choradeira que eu fazia quando faltava energia e eu não podia ouvir a novela! Uma ocasião, era um penúltimo capítulo, muito decisivo, e faltou luz! Eu quase tive um chilique, e minha mãe então sugeriu que eu fosse ouvir a novela na casa de minha tia, que morava perto. Fui e o rádio dela, que funcionava com bateria, não estava funcionando, (acho que com a bateria descarregada)! Eu entrei em desespero, e minha tia muito bondosa, falou com a vizinha, que eu mal conhecia, e pediu para eu ouvir a novela com ela, eu fui e fiquei sentada ouvindo a novela enquanto a mulher lavava a louça e comentava a novela com a irmã. Quando terminou, saí rapidinho para contar o capítulo para minha mãe, nem sei se agradeci a gentileza da vizinha...
As radionovelas eram um bom lazer, proporcionavam momentos alegres, assunto para os encontros de amigas, e também serviam para as mães  escolherem  os nomes de seus bebês, tive muitos primos e vizinhos que receberam nomes de mocinhos e mocinhas das radionovelas.
Os homens não ouviam radionovela, mas um dia meu pai contou a trama de uma novela, que minha mãe ouvia baixinho no rádio, no horário das 20 horas, nos primeiros anos de casamento. Ela disse que pensava que ele estivesse dormindo na hora da novela, rsrsrs.  Ele contava tudo com riqueza de detalhes: era a história de um homem que descobria que um dos quatro filhos, era fruto de uma traição da mulher, mas não sabia qual deles era, e então resolvia destruir todos. Um era engenheiro e no dia em que ia inaugurar a primeira obra, uma ponte, esta caía, por causa da sabotagem do pai. Outros dois, também tinham suas vidas destruídas pelo pai, que só a um deles não conseguia fazer nenhum  mal. No final da novela, o homem estava morrendo, e implorava para  a mulher dizer qual dos filhos não era filho dele, a  mulher então cochichava no ouvido dele e o público não ficava sabendo qual era! Mas meu pai, conversando com os amigos, chegava a conclusão, que não era filho justamente aquele que ele não conseguia prejudicar! Achei engraçado eles debaterem novela, pois afinal, novela era coisa de mulher.
As radionovelas não tinham imagem, mas geralmente tinham um narrador, que descrevia os personagens, os lugares, as expressões dos personagens, as roupas, tudo com riquezas de detalhes, que era como se víssemos. Eu gostava muito!
Quando todo mundo começou a ter um televisor, as radionovelas foram cedendo espaço, e eu também fui me desinteressando, e quando percebi, já não existiam mais radionovelas. Mas deixaram muita saudade!


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=IqUCT746sSc

4 comentários:

  1. Maria, adorei sua narração sobre as radionovelas! Muito boa mesmo! Do jeito que você conta, a gente visualiza, ou tenta visualizar, como era... imagino como era gostoso esse entretenimento.
    E a sua agonia na iminência de perder o penúltimo capítulo da novela? a vizinha foi bacana mesmo.
    Sua mãe te incentivou a ouvir as radionovelas e aí você ficou viciada... muito bom.

    Só não entendi esse vídeo: achei muito amador essas pessoas (atores?). A voz sem inflexão nenhuma, lendo o texto muito mal.

    Mas adorei sua recordação e a partilha. Beijos!

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  2. Maria do Sul, curti muito sua sessão saudade! Quando era moleque, pequenininho, em Barbacena rsrsrs lembro de minha mãe ouvindo novelas de rádio. Lembro de alguns nomes como: "A Última Testemunha", "A Escrava", "Algemas de Ouro", etc.
    Muito legal, vc escreve muito bem!.

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  3. Mariaaaa, como sempre, fiquei encantada com seu relato. Sou sua fã, você sabe disso né kkkk Olha, achei tão interessante a forma que apresentou suas lembranças que me atreverei a dar uma sugestão: O que acha de escrever sobre essas radionovelas que lembra pra nós? Pelo que vi, você ainda consegue lembrar bem de algumas dessas estorias e poderia tentar relatá-las com mais precisão; narrá-las mesmo, que tal? Bem, é uma ideia, rsrs. Bjoss tiaaa e obrigada por compartilhar suas experiencias aqui!!

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  4. Maria, sinceramente, invejo sua memória rsrsrsrs a única novela que me lembro e ouvi pelo rádio foi 'A Cabana do Pai Tomás' era muito boa...bjos.

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