sexta-feira, 21 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 77


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 77

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JOÃO
MARIA DE LARA
SOUZA
LOURENÇO
BRANCA
PADRE BENTO
JERÔNIMO
RODRIGO
LOCUTOR

CENA 1  -  CABANA DA FLORESTA  -  INT.  - DIA.

Braz tinha voltado a Coroado para levar notícias de João á esposa, quando foi prêso. A cidade fervilhava de boatos quanto á possível desforra de Pedro Barros. Os grupos volantes até então nada haviam feito, nem sequer localizado os esconderijos da turma do garimpeiro marginalizado. Dias depois dos acontecimentos da cabana, Lara voltara lá, intrigada com os mistérios do bilhete e dos vestidos rasgados.

Não esperava defrontar-se com o marido. João entrou, abrindo a porta com um gesto rude.


JOÃO  -  Esperava que eu viesse, não esperava? Já avisou Falcão?

Com a mão contra o seio, ofegante, Maria de Lara queria falar e as palavras não saíam. A muito custo conseguiu responder ao marido.


MARIA DE LARA  -  João, eu não sei o que você está dizendo. Só sei que está correndo perigo.

JOÃO  -  Sei que ele vai voltá aqui, pra me agarrá. Você vai ficá pra assisti o espetáculo?

MARIA DE LARA  -  Você está sendo injusto... (respondeu contrariada e com os olhos cheios de lágrimas correu a abraçar o esposo. João se mantinha frio. Como se fosse uma figura de pedra)  Estava com tanta saudade, tanta! Por que está me tratando assim?

O rapaz afastou os braços da mulher com gestos grosseiros e deu alguns passos no interior da sala.


JOÃO  -  Será possível que não se pode confiá em você nem um segundo?

MARIA DE LARA  -  De que é que você me acusa, amor? Eu não tive culpa se Falcão prendeu o Braz. Eu estava aqui com ele... ia te encontrar, quando Falcão chegou, por casualidade. Eu não fiz nada pra isso, João. Por que não acredita em mim?

Lara estava próxima de uma crise de histeria, diante da frieza do homem a quem amava.

JOÃO  -  No duro, eu não sei como é que ocê pode sê tão cínica!

MARIA DE LARA  -  (resolveu reagir, fugindo ao comodismo de uma posição submissa)  Bem... você tem o direito de pensar o que quiser, mas não tem o direito de me ofender, João!

JOÃO  -  Afinal... quem tá diante de mim, agora? A minha mulher... Lara? Ou... a doida da Diana? Que é que você resolve sê, agora?

MARIA DE LARA  -  Você fala como um insensato!

JOÃO  -  Ah... ela usa uma palavra bonita! Então, é Lara. Não é a doida da Diana que me entregou pros home do Falcão e do pai dela. Não é a doida que anda pela cidade dando escândalo, gozando todo mundo, dando confiança pro Falcão, andando pra baixo e pra cima, com ele... dando direito a ele de espalhar coisas, por aí, a teu respeito!

Lara ouviu as revelações, entre incrédula e assustada; as lágrimas já lhe corriam por sobre as faces macias.

MARIA DE LARA  -  É tão absurdo tudo isso que está dizendo, que não há resposta, João! Em minha defesa... só posso lhe dizer que, se deixei sua companhia... foi conscientemente. Para evitar que Falcão o prendesse.

JOÃO  -  (olhou-a, pela primeira vez, de forma amena)  O quê?

MARIA DE LARA  -  Ele foi até lá. E eu evitei que ele te agarrasse.

JOÃO  -  Evitou... como? Que foi que você lhe prometeu?

MARIA DE LARA  -  Apenas, voltar. Você não é obrigado a acreditar nisso. Mas estou certa de que enquanto não me curar desse estranho mal... que faz com que eu não tenha consciência de meus atos... eu não posso pensar em ficar com você.

João estava dilacerado pelo ciúme e pela desconfiança. Não podia aceitar a versão da mulher e muito menos encontrar razões para a súbita e sucessiva mudança de uma para outra personalidade. Dentro de sua ignorancia, João Coragem não entendia os problemas complexos da mente de Lara e dos males misteriosos que a afligiam.

JOÃO  -  Eu vim te avisá que não admito que tu suje o meu nome, mais do que já sujou. Fala com o advogado. Com quem você quisé. Mas trata do tal de desquite... antes que eu perca a cabeça... e cometa o primeiro crime da minha vida. Lara ou Diana, eu acabo com ocê!

O garimpeiro atravessou a estrada correndo, perdendo-se na escuridão da mata.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CLUBE DE JOGOS -  EXT.  -  NOITE.


O carro, um Plymouth modelo antigo, parou frente á porta do clube. Souza olhou para ambos os lados da rua e, abrindo a porta, instalou-se em seu interior ao lado do passageiro sentado no banco de trás.


SOUZA  -  Fez bem em não entrar. Tem gente conhecida, no clube.

LOURENÇO  -  Vim buscar a carta de Estela.

Souza vasculhou o bolso interno do paletó de xadrez e retirou de lá um pequeno papel cor-de-rosa.


SOUZA  -  Aí está.

LOURENÇO  -  (agitado pela emoção)  Diz... onde ela está?

SOUZA  -  Não. Mas, pelo selo, você vê que veio de São Paulo.

LOURENÇO  -  Então... ela está em São Paulo!

SOUZA  -  Abre e lê de uma vez!

LOURENÇO  -  Você escreveu a ela que... eu não tinha morrido?

SOUZA  -  Era louco de escrever uma coisa destas? Só pedi notícias... dizendo que havia uma pessoa que estava ansiosa por notícias dela. Mas... leia logo, homem de Deus. Eu não tenho muito tempo.

Lourenço abriu o envelope e começou a ler, excitado, a cada linha. Parecia-lhe ouvir a voz adocicada da mulher de Pedro Barros.


LOURENÇO  -  Pobre Estela... o que tem passado... mas não se queixa... só fala na filha... nem uma vez menciona o meu nome.

Entregues á discussão, os dois não perceberam o vulto que rodeou o automóvel, depois de parar, por segundos, á porta de entrada da casa de jogos.

Alcançou a janela traseira do lado esquerdo e falou, inesperadamente, acentuando as palavras com um toque de ironia:


BRANCA  -  Carta de Estela, Lourenço?

Os dois homens sobressaltaram-se. Lourenço tentou guardar a carta, mas, mais rápida, Branca apanhou-a, agarrando-a com raiva.

LOURENÇO  -  Branca!

BRANCA  -  Seus... trapaceiros!

Souza apontou o motorista, colocando o dedo diante do nariz pontiagudo, a pedir silencio.

SOUZA  -  Cuidado, Dona Branca!

BRANCA  -  (a Lourenço)  Foi por isto que você não me procurou?

LOURENÇO  -  Não posso dizer nada, agora. Você não está vendo? (mostrou o chofer, com um movimento de olhos).

BRANCA  -  Desça, então, pra conversarmos.

LOURENÇO  -  Não posso, Branca. Compreenda!

BRANCA  -  Compreender... o quê? Que você não cumpriu sua palavra? Que me fez de tola... que me enganou, dizendo que vinha logo me buscar... para ficar aí... aguardando resposta daquela safada?

LOURENÇO  -  Eu dei tempo ao tempo  (cortou, evitando que a conversa chegasse aos ouvidos do motorista)  Não podia vir, como combinamos. Era arriscado! Como ainda é, Branca! Estamos aqui, mas estamos pondo nossa vida, nossa segurança, em perigo!

BRANCA  -  Estou há vários dias esperando por você. Desde quando pensei ter te visto, aqui no clube. Mas, agora, não te deixo mais. Você tem que tomar uma atitude... tem que dar explicação que me convença... ou eu te delato! Digo a verdade ao Delegado Falcão!

LOURENÇO  -  (tremeu)  Está louca?

Deu uma ordem breve ao motorista e o carro arrancou. Souza desceu alguns quarteirões além, enquanto Lourenço seguia, estrada a fora, no rumo de Morrinhos.

CORTA PARA:


CENA 3  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

De instante a instante o alto-falante da praça de Coroado interrompia a programação musical para divulgar os resultados das primeiras urnas. Jerônimo perdia nìtidamente para o farmacêutico Manuel Pereira.

De repente a coisa se inverteu. Jerônimo passou a diminuir a distancia que o separava do concorrente. Centenas de pessoas torciam nas proximidades do palanque, á espera do movimento total. Havia quem apostasse, quem brigasse e quem rezasse contritamente. Padre Bento, um deles.

A voz do locutor, forçando os erres, voltou a encher de espanto os eleitores. Manuelzinho farmacêutico perdia pontos.


LOCUTOR  -  (off)  “Atenção, senhoras e senhores: Jerônimo Coragem acaba de disparar à frente das eleições hoje realizadas para a prefeitura de Coroado, com boa margem de diferença para Manuelzinho, da farmácia. E atenção para o último boletim: Jerônimo Coragem, 840 votos. Manuelzinho Pereira, 569 votos. Vamos repetir...”

Palmas e gritos de alegria irromperam da multidão postada na praça e em todos os botecos das imediações. Coroado voltava a agitar-se.

Jerônimo apareceu na rua e atravessou a praça, sob a ovação dos correligionários. Margarida, sempre a seu lado, alegre, sorridente. Padre Bento avizinhou-se do candidato a prefeito.


PADRE BENTO  -  (abraçou, comovido, o filho de Sinhana)  Já pode soltar os foguetes, Jerônimo!

JERÔNIMO  -  Calma, padre! As coisas ainda podem mudar.

RODRIGO  -  (interveio na conversa)  Agora, nesta altura, não mudam mais!

O amplificador, que apitava estridentemente, convidou o povo ao silencio. O locutor ia fornecer um novo boletim.


LOCUTOR  -  (off)  “E atenção! Acaba de chegar o resultado da última urna, com o total de votos contados pela mesa apuradora. E atenção, povo de Coroado! As urnas falaram e elegeram o novo prefeito da nossa cidade: Jerônimo Coragem!”

O delírio tomou conta da multidão. Foguetes espocaram, chapéus foram atirados ao ar e os botecos começaram a servir doses maciças de pinga, chope e cerveja geladinha. Jerônimo foi levantado no ar, percorrendo a praça sob os gritos do povaréu. O alto-falante repetia a notícia e dava sequencia a uma série de dobrados militares. Jerônimo vencera a segunda etapa de sua carreira.

FIM DO CAPÍTULO 77
Jerônimo, o novo prefeito de Coroado, é aclamado pelo povo!


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** JOÃO ORGANIZA UM PLANO DE AÇÃO PARA TIRAR BRAZ CANOEIRO DA CADEIA!

*** PEDRO BARROS DESAFIA JERÔNIMO, COMO NOVO PREFEITO, A AJUDAR NA PRISÃO DO IRMÃO FORAGIDO DA JUSTIÇA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 78 DE

Um comentário:

  1. Toni, gostei desse capítulo, Jerônimo prefeito! Mas as coisas não vão ser fáceis pra ele, Pedro Barros não vai dar trégua! E Maria de Lara, quanto sofrimento! João, fugitivo da justiça, coitado que situação! Por enquanto, só quem se deu bem, foi Lourenço! Bjs.

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