quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 103 - AUTOR: TONI FIGUEIRA


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 103

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

PEDRO BARROS
ESTELA
BRANCA
LOURENÇO
ENFERMEIRA
GASTÃO

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

Para o Coronel Pedro Barros a presença de Estela tinha o caráter de mau negócio. Inoportuna, desagradável, sem sentido. Lembrou-se de que no dia seguinte teria de comparecer ao juiz para os arremates no processo de desquite amigável, proposto por ele e aceito, sob coação, pela esposa. O vestido leve, de organdi, e a sandália barata davam a perceber a má situação em que se encontrava a mulher do dono de Coroado. O coronel sorriu de zombaria ao ver a decadencia.


PEDRO BARROS  -  O que é que você quer?

ESTELA  -  Vou direto ao assunto. Pensei muito esta noite. Nem consegui dormir de tanto pensar e cheguei a uma conclusão. Depois que vi Juca de noivado com a filha do falecido prefeito Jorginho... veio à minha mente uma idéia luminosa.

Como um cão de caça, Pedro Barros pareceu erguer as orelhas para captar o que Estela teria a dizer.


PEDRO BARROS  -  Que idéia?

ESTELA  -  Imagine o que aconteceria... (modulou a voz, alcançando a intensidade do sussurro)  se eu revelasse à polícia tudo o que sei sobre o tiro que atingiu o prefeito e matou ele! (Barros estremeceu)  Pois é! Eu conheço toda aquela história. Ingênua que eu era... nunca pensei que isto pudesse forçar você a me ceder metade dos seus milhões...

Pedro Barros parecia explodir, com as veias grossas a latejar e a cara avermelhando-se à medida que a mulher relatava as suas decisões.


PEDRO BARROS  -  Isso é chantagem!

ESTELA  -  Uso as suas armas, meu querido... Imagine... por incrível coincidencia, há pouco fiquei sabendo que você está querendo derrubar o atual prefeito... e que para isso usou seu próprio filho.

PEDRO BARROS  -  (gritou, fora de si)  Cale a boca!

ESTELA  -  Está bem. Eu só queria avisar que convém você aceitar as minhas condições, amanhã, na presença do juiz... porque, do contrário... seu filhinho querido... vai parar na cadeia.

As últimas palavras foram ditas com clareza e suficientemente altas para serem ouvidas em toda a casa-grande. Felizmente, para o coronel, não havia ninguém por perto do escritório.

Com um valente murro na mesa ele deu por finda a entrevista com a mulher.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  - SALA  -  INT.  -  DIA.


E de fato Pedro Barros portou-se como um filântropo diante do juiz, acolhendo todas as exigencias formuladas pela mulher.Estela retornou à fazenda, saltitante, gritando pela nova dona da casa.


ESTELA  -  Mingas! Mingas! (enxugando a mão no avental, a mãe de Juca Cipó chegou à sala, onde Estela se achava atirada sobre o sofá, cantarolando uma musiquinha de carnaval)   Estou felicíssima, radiante, Mingas! Pedro teve que ceder em todos os pontos.

DOMINGAS  -  Ele cedeu?

ESTELA  -  Contra a vontade, é claro. Parecia querer me esganar, na frente do juiz! (riu com vontade, ao mesmo tempo em que preparava um drinque forte, gim com vermute, meio a meio).

DOMINGAS  -  (incrédula)  A senhora obrigô ele a cedê?

ESTELA  -  Ele não merece outra coisa, Mingas. Vou receber uma boa grana. Milhões, minha cara! Milhões! (deu uma volta em torno de si, como um pião humano)  Vou montar uma casa de modas em São Paulo, fazer miséria! Ai, que felicidade a gente se desquitar de um marido rico!

A pergunta se mantinha encravada na garganta da mulher. E ela a fez com a naturalidade de quem nada teme.

DOMINGAS  -  E o que a senhora fez... para conseguir isso?

ESTELA  -  Bem... isso não interessa!  Como está passando seu filhinho Juquinha?

DOMINGAS  -  Um pouco nervoso, ainda...

ESTELA  -  (Irônica, murmurou, ao pé do ouvido da velha)  Ah... coitadinho. Pois olhe. Dê um beijo nele. Nunca pensei que fosse adorar o Juquinha!

DOMINGAS  -  Adorar! (julgava que fosse brincadeira o que a outra dizia. Ou um engano de palavras).

ESTELA  -  É! Eu devo a ele a fortuna que acabo de receber do Pedro!

CORTA PARA:

CENA 3  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


Branca acendeu a luz de poucas velas ao lado da cabeceira da cama e avisou, em voz baixa, ao marido.


BRANCA  -  Dona Iolanda veio fazer os curativos...

LOURENÇO  -  Ainda bem... vê se me levanta dessa cama, moça, e juro que num se arrepende...

De costas para cima, o bandido suportou com leves gemidos o trabalho da enfermeira. À medida que limpava os ferimentos, a mulher se admirava da resistência do paciente e não entendia como ele não procurava um hospital ou casa de saúde, dotados de recursos que lhe permitissem recuperação mais rápida e menos perigo de uma recaída perigosa.


ENFERMEIRA  -  (arriscou uma sugestão, através de uma pergunta)  Sabe que tinha de estar em tratamento mais enérgico?

LOURENÇO  -  Que nada! Tou me dando muito bem com o tratamento caseiro. Daqui a pouco posso até me levantá dessa maldita cama.

ENFERMEIRA  -  (com absoluta franqueza, anunciou)  Eu não garanto nada. O caso é muito sério.

CORTA PARA:

CENA 4  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


Três dias depois, Lourenço já se sentava na cama, denotando melhor aspecto e impressionando a enfermeira com a surpreendente recuperação que demonstrava. O homem era mais forte do que aparentava. De uma resistência animalesca, havia pensado a mulher. Um ruído na sala chamou-lhe a atenção, provocando-lhe um arrepio na nuca.


LOURENÇO  -  (gritou)  Branca, é você?

Com os olhos na porta, Lourenço estremeceu ao ver surgir Gastão, acompanhado da enfermeira Iolanda.


LOURENÇO  -  (procurou controlar o espanto)  Oi, velho! Te julgava longe!

GASTÃO  -  Dona Iolanda me contou umas coisas que não me agradaram.

ENFERMEIRA  -  (interferiu para explicar a verdade)  Eu só disse a ele que aquela moça foi ao hospital fazer perguntas, Uma repórter...

GASTÃO  -  O caso tá complicando muito, não acha?

LOURENÇO  -  Tou melhorando. Quando puder me levantar, tudo muda de figura.

GASTÃO  -  Se confiasse em mim, tudo se resolvia fácil. Bastava você dizer onde tá o diamante. Pego ele e levo pro estrangeiro. Faço negócio e não vou te tapear...

Argumento frágil para indivíduos acostumados à traição e à deslealdade.

LOURENÇO  -  (gargalhou)  Você é besta! E acha que eu caio nessa?

A um sinal, a enfermeira se aproximou. Gastão deu a volta em torno da cama e se afastou para o canto do quarto semi-apagado.

ENFERMEIRA  -  (a Gastão)  Que vai fazer?

GASTÃO  -  Só massagens...

ENFERMEIRA  -  Tome cuidado.  Há um ponto delicado.

GASTÃO  -  Que é que acontece?

LOURENÇO  -  Você tá querendo me matar?

Gastão segurava-o pelas costas, com os dedos pressionando um determinado ponto à altura da região lombar.


GASTÃO  -  Só quero que me diga onde tá o diamante.

LOURENÇO  -  Eu não vou dizer... e se você me mata é pior. Nunca ninguém há de saber onde encontrá ele!

A admoestação não impediu que o outro continuasse a tortura. O marginal duplicava a força da pressão dos dedos. Lourenço torcia o rosto numa careta de dor.


GASTÃO  -  Aguenta, seu...

LOURENÇO  -  Pare ai!, com isso! Miserável! Pense bem, se eu morro é pior. E eu não vou dizer... não, ai! Patife! Não faça isso... eu não digo... não adianta... morro... mas não digo. Pode me matar, seu filho...

CORTA PARA:

CENA  5  -  BELO HORIZONTE  -  CASA DE LOURENÇO  -  COZINHA  -  INT.  -  NOITE.

Branca retornava da rua. Mergulhou a chave no buraco da fechadura, rodou-a e abriu a porta. Enquanto colocava as compras na pia da cozinha, gritou para o interior do quarto:


BRANCA  -  Lourenço! Já cheguei! Recebi um dinheiro dos doces que fiz e aproveitei para comprar alguma coisa de que necessitamos... Comprei uma porção de coisas... Já vou aí.

O silencio não fôra quebrado.

CENA  6  -  CASA DE LOURENÇO  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


BRANCA  -  Deve ter caído no sono... (e acendeu a luz, para certificar-se) Mas... o que é isso? (surpresa)  Lourenço... será possível... você pôde se levantar? Lourenço! Lourenço! Onde está você?

CENA  7  -  CASA DE LOURENÇO  -  SALA  -    INT.  -  NOITE.

Branca começava a desesperar-se ante a ausencia do marido. Correu a casa de ponta a ponta. O marido não se encontrava em lugar nenhum. Desaparecera.

FIM DO CAPÍTULO  103
Ritinha (Regina Duarte) e Gabriela (Gabriela Duarte)
e no próximo capítulo... 
 *** João Coragem é encurralado na torre da igrejinha de Coroado, que é cercada por Falcão e seus homens. 
*** Lázaro se oferece para subir á torre, dizendo ao delegado que faz questão de atirar em João!
 
 NÃO PERCA O CAPÍTULO 104 DE

Um comentário:

  1. Toni, Lourenço se deu mal, rsrsrs. E Estela se deu bem. Gostei desse capítulo. Bjs

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