sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 98 - AUTOR: TONI FIGUEIRA


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 98

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DELEGADO FALCÃO
RODRIGO
DUDA
ENFERMEIRA
BRANCA
GASTÃO
LÍDIA
JERÔNIMO

CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

DELEGADO FALCÃO  -  (movendo o palito entre os dentes)  Não me custa nada fazer a sua vontade. Eu vou até Belo Horizonte!

RODRIGO  -  Duda insiste em afirmar que esse tal de Ernesto Bianchinni é Lourenço D’Ávila. Está convicto de que um e outro são a mesma pessoa.

Falcão bateu com a ponta do cigarro contra a madeira desbotada da mesa. Havia cinza em todos os cantos e manchas gordurosas de café e manteiga.


DELEGADO FALCÃO  -  Acho isso um absurdo.

RODRIGO  -  Já estive em São Paulo para me certificar.  A minha investigação foi completamente negativa. Mas agora, com essa nova coincidência, acho melhor irmos ver de perto.

DELEGADO FALCÃO  -  A gente vai.  Mas tem uma coisa. Posso até mostrar jornais da capital de São Paulo. Comentam muito o afastamento do grande jogador. Os jornais dizem que Duda foi vítimas de uma crise nervosa. Em consequencia desse atordoamento foi até contundido em campo...

RODRIGO  -  É, eu sei de tudo isso... Não quero dizer que acredito nele... mas também estou novamente em dúvida.

DELEGADO FALCÃO  -  (levantou-se, abotoando o jaquetão cinza, de corte antiquado)  Bem... não custa nada a gente ir ver esse tal de Bianchinni.

RODRIGO  -  (ajeitando as abotoaduras de couro)  Quando podemos ir?

DELEGADO FALCÃO  -  Hoje mesmo.  Agora, se você quiser.

O delegado estava pronto. Como policial não poderia deixar para mais tarde um assunto que envolvia vidas e destinos de muitas pessoas. Inclusive a dele próprio.  Falcão cruzou a sala e se dirigiu a um armário. Rodrigo observava os seus movimentos. Retirou uma arma de cano curto, algumas balas. Encheu o tambor. Rodou-o e olhou o interior do cano fino. Tudo em ordem.

RODRIGO  -  (fez o convite)  Vamos no meu carro.

Saíram juntos.

CORTA PARA:

CENA 2  -  BELO HORIZONTE  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE LOURENÇO  -  INT.  -  DIA.


Duda aguardava. O tempo corria e a enfermeira não o convidava a entrar no quarto de Ernesto Bianchinni. Olhou o relógio: há 20 minutos esperava ordem para visitar o “amigo”. Entrou inopinadamente. E viu o homem estendido, com o rosto coberto de gaze avermelhada pela tintura. Branca não dizia palavra. Duda admirava a placidez, a respiração cadenciada do acidentado. Deixou o quarto com um misto de decepção e desconfiança.


BRANCA  -  (pôs a mão no seio, aflita)  Quando isto vai ter fim?

ENFERMEIRA  -  Estou com medo! Se os médicos desconfiam, estou perdida!

GASTÃO  -  Calem a boca! (ordenou, movendo os lábios por entre a gaze tinta)  Isto já vai terminar!

BRANCA  -  Talvez não! O jogador não está convencido.

ENFERMEIRA  -  Ele vai continuar fazendo perguntas (admitiu, com os lábios trêmulos e mais pálida do que o normal).

GASTÃO  -  Com certeza.  Mas as coisas foram muito bem feitas... Ninguém viu quando a gente levou o doente daqui!

BRANCA  -  (fitando o crucifixo pregado à parede)  Estou muito preocupada com ele!

GASTÃO  -  Ele está muito bem! Não se aflija! Foi levado com muito jeito... está em tratamento. A mocinha me ajudou bem.

ENFERMEIRA  -  Até agora não entendi por que estão fazendo isso...

GASTÃO  -  Não precisa entender, moça!  Você vai receber a sua grana pra ficar calada.

BRANCA  -  (esfregando as mãos com nervosismo) Quando vamos ao encontro do meu marido?

GASTÃO  -  Hoje mesmo. Vamos só dar tempo ao tempo... porque o cretino do jogador de futebol pode voltar aqui...

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  CASA DE JERÔNIMO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


Positivamente as coisas não corriam bem no lar do prefeito e Lídia percebia que, a cada dia, mais se afastava do esposo. Mesmo morando juntos, dormindo juntos, viviam separados um do outro. Lídia esperou que o marido regressasse à casa. Era notinha. Coroado descansava depois de um dia de trabalho.


LÍDIA  -  Jerônimo!

JERÔNIMO  -  (virou o rosto, ao mesmo tempo em que jogava o paletó sobre o encôsto da cadeira)  Tá escondidinha aí?

LIDIA  -  Não vou continuar mais. Eu desisto.

JERÔNIMO  -  Não tou entendendo...

LÍDIA  -  Não dou pra isso, não, viu? Esse negócio de sofrimento, ciúmes, não é comigo. Eu vou renunciar a tudo, Jerônimo.

JERÔNIMO  -  (segurando as bochechas da esposa entre as mãos)  A tudo, o quê?

LÍDIA  -  Aos meus sonhos impossíveis.  Você não tem mais jeito, Jerônimo. Olha, quer um conselho? O melhor que tem a fazer é dar um chute nas convenções, nos preconceitos que te separam daquela moça. Manda tudo pro inferno e junta teus trapinhos com os dela. É a única coisa que te resta fazer...

Lídia se levantou, enquanto Jerônimo, boquiaberto, não encontrava resposta à argumentação da esposa.

JERÔNIMO  -  Espera aí, Lídia. Lídia!

A mulher desapareceu no interior do quarto, iluminado por uma luzinha vermelha que dava ao ambiente o aspecto de um laboratório de revelação fotográfica.


Depois de molhar o rosto e escovar os cabelos longos e negros, Jerônimo penetrou no quarto e olhou a cama onde a esposa se deitara com a cara escondida entre os travesseiros.


JERÔNIMO  -  Lidinha, espera aí! Vamos conversar... Eu tenho direito a uma explicação!

LÍDIA  -  (deixou aparecer a face)  Que explicação, Jerônimo? Se tudo está claro demais! Você não consegue reagir contra o sentimento que nutre por aquela moça. Pronto. O que não tem remédio, remediado está... E daí? Quem é que tem alguma coisa com isso? Nem eu tenho. Nesta história de amor... ninguém em o direito de dar palpite. Você não ama a mestiça?

JERÔNIMO  -  Lidinha...  Não é assim, bem! Você está pensando que eu sou um sujeito fraco, que não tenho coração, nem nada!

LÍDIA  -  Eu... não ia chegar a ponto de te ofender. Acho desnecessário, porque, afinal de contas, a ofensa não ia te fazer mudar os sentimentos.

JERÔNIMO  -  Escuta só um pouco, meu amor...

LÍDIA  -  Eu não posso arrancar esse sentimento de sua cabeça, do seu coração...

Jerônimo sentou-se á beira da cama, debruçando-se sobre o corpo moreno da mulher.

JERÔNIMO  -  Eu lhe pedi paciência, não pedi? Você prometeu compreender.

LÍDIA  -  Mais do que tenho feito? Mais paciência do que ternho tido? Já te disse. Cansei. Não tenho vocação nenhuma pra mártir!

JERÔNIMO  -  Você pode tá pensando que eu fui lá, na casa dela, porque não aguentei... Não é isso? Você soube que eu fui visitar Potira na casa de Maciel. Sabia que ela está muito doente? Talvez seja por isso que você tá criando todo esse drama...

LÍDIA  -  É verdade... eu pensei mesmo.

JERÔNIMO  -  É... em parte. Quero dizer... eu não ia se não tivesse o pretexto. Pretexto que você mesma me deu.

LÍDIA  -  (admirada)  Eu?

JERÔNIMO  -  Você se lembra... você me disse que as mulheres de Coroado iam desprezar Potira na missa de domingo.

LÍDIA  -  E daí?

JERÕNIMO  -  Daí... daí, Lidinha... me deu uma pena dela, que você nem imagina. Fui avisar... só isso... pra ela não vir na missa de domingo... pra não passar pela vergonha de ser humilhada. Eu não podia saber que ela ainda estava doente, sem poder se levantar... E não podia desejar que isso acontecesse. Me entenda, pelo amor de Deus! (começava a exasperar-se, ante o desenrolar da conversa)  Eu me sinto sempre culpado de tudo o que acontece de ruim na vida dela... A gente é feliz... a gente vive bem, apesar de tudo. Ela, não. Ela tá com o lar destruído... tá proibida até de sair de casa... o marido contra ela... a cidade contra ela... pensa bem. Eu era um sujeito muito ordinário se não me preocupasse um pouco com ela. Você se esquece de que somos criados como irmãos. Ela, desde pequenininha... (Lídia virou o rosto, atormentada pelas recordações do marido)  Você é humana, você, que tem demonstrado possuir uma bondade fora do comum... você acha direito que alguém sofra se a gente pode evitar o sofrimento?

Jerônimo abraçou-a, erguendo-lhe o busto e beijando-a nos lábios. Lídia fingiu esquivar-se do carinho.

LÍDIA  -  Não!

JERÔNIMO  -  Lídia, eu te juro diante de Deus. A gente não devia tá discutindo coisa nossa, particular, num lugar sagrado para o nosso amor... Eu quero viver bem com você. Eu te quero muito. E te peço uma última oportunidade. Fica comigo. E se eu fraquejar de novo, aí você tem o direito de fazer o que quiser, tá?

LÍDIA  -  Está bem.  A última oportunidade. Você prometeu.

Jerônimo premiu o interruptor e o quarto escureceu por completo. Não havia palavras, apenas movimentos e a linguagem do amor.

 

FIM DO CAPÍTULO  98
Enfermeira (Angela Leal) e Branca (Neuza Amaral)

e no próximo capítulo...
*** Jerônimio vai á Fazenda de Pedro Barros e o desafia, afirmando que tudo o que ele destruir em Coroado, vai reconstruir, deixando o velho coronel furioso!

*** Márcia / Lara vai a Belo Horizonte falar com a enfermeira, investigando a história de Branca e Lourenço.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 99 DE

2 comentários:

  1. Essas imagens antigas são muito legais..Angela Leal e Neuza Amaral ainda novinhas! Legal mesmo!

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  2. Toni, pobre Duda, vai passar por louco! E essa cena de Jerônimo e Lídia, foi bem legal! Bjs.

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