segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FIC - UMA CHANCE DE AMAR - CAPÍTULO 21 - PARTE 3 - AUTORA: JOYCE FEITOZA

No capítulo anterior...
Rosa aproximou seus lábios dos de Claude. Ele roçou os dele sobre os dela e segurando Rosa, a beijou. Um beijo apaixonado, cheio de carinho e um amor que tinha nascido, que eles deixaram vingar.
Claude: Eu te amo .(sussurrou)
Rosa: Eu também te amo, mesmo você sendo um chato implicante.
Claude: Haha! Janta comigui hoje à noite?
Rosa: Hum, sim.
Claude: Lá em casa, sozinhos, hã.
Rosa: Tem um menino travesso planejando coisas más.
Claude: Coisas muito perversas.

CAP- 21: PARTE 3

Claude: “É difícil dizer o que estou sentindo, é uma sensaçon nova ton estranha. Um frio na barriga, o coraçon acelerado. As pessoas chamam isso de paixão, amor. Será que pra descobrirmos ou assumirmos que amamos alguém temos que quase perdê-lo ou perdê-la. Sabe, às vezes, fico lembrando do sorriso dela e me pego sorrindo sozinho. Non quero perdê-la mais, não mais.”
(20:30 – Casa de Claude)
Claude mandou Dádi preparar um jantar e disse que ela podia ir para casa de sua irmã durante o final de semana. Assim, ela fez preparou a comida, mas Claude fez questão de arrumar tudo.
Ele estava na sala andando de um lado para o outro agoniado. Será que ela viria? Será que ela o amava mesmo?
(20:36 – Casa de Rosa)
Janete: Nossa amiga, você está linda.
Rosa: Obrigada, vou jantar na casa do Claude e não sei se volto hoje.
Janete: Entendi o recado tá, sua danadinha. É muito bom ver vocês juntos, dois loucos combinam perfeitamente.
Rosa: Eu vou contar a ele agora à noite.
Janete: Eu aposto que ele vai amar.
Rosa: Não sei, o Claude não gosta de crianças, lembra. Bem, já vou, porque estou atrasada.
Janete: Boa sorte.
Rosa pegou sua bolsa e saiu. Entrou no elevador e estava nervosa.
Rosa: “Muita coisa aconteceu comigo nesse ultimo mês. Minha vida mudou totalmente, nada é como planejei. Eu reencontrei o Claude, aquele homem que um dia vi sair pela porta da nossa casa em Paris e achei que jamais veria. E, hoje, estou aqui apaixonada por ele como nunca estive. Espero que ele aceite essa gravidez.”
(21:00 – Casa de Claude)
Ele estava sentado batendo o pé no chão. A campainha tocou e seu coração acelerou. Claude levantou, foi rapidamente até a mesa e acendeu as velas. Rosa estava nervosa do lado de fora, então tocou novamente. Ele correu, se olhou em um pequeno espelho, ajeitou a gola da camisa e foi abrir a porta.
Claude: “A mulher mais linda do mundo era ela naquele momento. Vestia um vestido azul muito bonito, seu cabelo caía sobre os ombros, segurava uma bolsa pequena com as duas mãos. Se o amor muda a forma de ver das pessoas, eu não sei, só sei que os olhos dela eram lindos e aquele sorriso fazia meu corpo estremecer.”
Rosa: Oi.
Claude: Oi.
Os dois ficaram se olhando por alguns instantes sem dizer nada.
Claude: Entre.
Rosa: Claro.
Rosa entrou e foi caminhando até próximo aos sofás. Claude ficou parado na porta, recuperando o fôlego. Estava nervoso sem saber como agir.
Ele entrou e Rosa estava de costas e só sentiu as mãos de Claude em sua cintura antes de sentir os lábios dele nos seus. Ele a girou rapidamente e encostou seu corpo no dela dando um beijo intenso.
Rosa: Hummmm... Isso tudo é saudade?
Claude: É que você me deixa louco.
Rosa: É... Louco é...? (perguntou roçando os lábios sobre os dele)
Claude: Você gosta, né?
Claude a beijou novamente e foi guiando Rosa pra o sofá. Ele foi pesando seu corpo sobre o dela fazendo-a quase deitar.
Rosa: Espera... é muito feio comer sobremesa antes do jantar, sabia?
Claude: Hum, o que é que tem sair das regras?
Rosa: Eu tenho algo pra falar com você.
Claude: Alguma coisa séria?
Rosa: Não amor, vamos jantar primeiro. (disse levantando)
Claude: Espera, eu ouvi bem?
Rosa: O que?
Claude: Você me chamou de amor?
Rosa: É o que você é pra mim, meu amor.
Claude: Qual o nosso relacionamento, hã? Somos casados e namoramos?
Rosa: Somos apaixonados, é isso que importa.
Claude: Tenho uma surpresa pra você.
Claude segurou na mão dela e a guiou até a sala de jantar. A mesa estava linda, tinha um vaso com flores no centro da mesa, um jantar que aparentava ser delicioso e velas vermelhas acesas.
Rosa: Nossa! Jantar à luz de velas.
Claude: Preparei tudo, claire que tirando a comida.
Rosa: Está tudo lindo.
Claude puxou a cadeira e Rosa sentou.
Rosa: Hum, o cheirinho está delicioso.
Claude: Comida italiana. Pedi que Dádi preparasse.
(22:21– Casa de Claude)
Claude levantou foi até o som e colocou uma música.
Claude: Dança comigui?
Rosa: Claro.
Rosa levantou segurando na mão de Claude e ele a puxou contra seu corpo.
Claude: Sabe mesmo que eu non gostasse de você no passado, talvez por insegurança e medo do futuro, eu quis que você saísse naquela janela e pedisse pra eu ficar.
Rosa: Verdade?
Claude: Sim.
Rosa: Engraçado.
Claude: O que?
Rosa: Eu quis que você não fosse pelo mesmo medo.
Claude: Nosso casamento non começou do jeito certo.
Rosa: Às vezes, temos que fazer do jeito errado para que dê certo, lembra? (disse olhando nos olhos dele)
Claude: É por esse seu jeito lindo e maluco de ser que eu te amo. (disse segurando o queixo dela)
Ainda embalados pela música, colaram suas testas, aproximando seus lábios.  Um turbilhão de emoções percorreu o corpo dos dois. Um beijo apaixonado com amor que, aos poucos, foi ficando intenso e exigente. Claude apertava Rosa ainda mais contra seu corpo. Ele foi beijando sua face e deslizando os lábios para o pescoço dela.
Rosa: Espera. (disse se afastando)
Claude: O que foi? Fiz algo errado?
Rosa: Não, pelo o contrário. Mas não quer beber alguma coisa, a noite é longa.
Claude: Você non vai fugir de mim por muito tempo Serafina.
Rosa: A última coisa que quero nessa vida é fugir de você.
Claude: Tudo bem, o que você bebe?
Rosa: Um licor de frutas.
Claude: Hum, eu tenho um bom aqui.
Claude serviu Rosa, depois foi se servir de uísque.
Claude: Hoje o dia foi longo, estou precisando de férias.
Rosa respirou fundo, virou a taça de licor e olhou para Claude.
Rosa: Claude, eu tô grávida.
Claude engasgou com o uísque e sentou na poltrona tossindo. Rosa ficou desesperada e tentava ajudar Claude.
Claude: Tem certeza?
Rosa: Tenho.
Rosa estava aflita, com medo da resposta de Claude. Ele estava sério e olhava para o nada como se procurasse uma saída para aquilo, o que deixou ela ainda mais nervosa.
Claude levantou, passou a mão no cabelo e olhou para Rosa.
Claude: Eu vou ser pai. (gritou, agarrando Rosa pela cintura e tirando ela do chão)
Rosa abriu o sorriso e abraçou Claude aliviada. Ele sorria também, ainda surpreso, rodopiando Rosa pela sala.
Rosa: Espera! Para, se não eu vou ficar enjoada.
Claude: Mon Dieu, eu vou ser pai! É sério?
Rosa: Sim.
Claude: Quando você descobriu?
Rosa: Quando fui ao médico.
Claude: Mon Dieu, por que non me contou?
Rosa: Eu fiquei com medo, Claude, porque você disse que não gostava de criança.
Claude: A menos que ela seja minha. Mon Dieu, Rosa, é um pedacinho meu que está aí em sua barriga.
Rosa: Ai, Claude me abraça.
Claude a abraçou e a apertou forte contra seu peito.
Rosa: Eu tive tanto medo que você não aceitasse esse filho, que achasse que eu engravidei só pra te prender a mim.
Claude: Maluca, doida. Rosa essa foi a melhor noticia que já tive na vida e eu quero ficar preso a você. Non quero te deixar nunca mais.
Claude retirou uma mecha do cabelo dela e a beijou. Então, ele a pegou no colo e foi subindo as escadas.
Rosa: Ei, o que você pensa que está fazendo?
Claude: Eu dissi que non fugiria de mim por muito tempo.
(07:01 – Casa de Claude)
Claude acordou e notou que Rosa não estava ao seu lado, seu coração disparou, mas se acalmou ao ver o vestido dela ainda no chão. Então, ele levantou, foi até o closet, pegou uma samba canção azul marinho e vestiu. Quando saiu do banheiro, Rosa estava sentada na cama o aguardando.
Ele se aproximou dela e, apoiando seus braços com punhos fechados um de cada lado dela, deu um beijo.
Claude: Bom dia, meu amor.       
Rosa: Bom dia, amor.
Claude deu outro beijo nela e foi pendendo seu corpo até deitar sobre ela na cama.
Claude: Non gostei dissi, hã.
Rosa: Disso o que?
Claude: De acordar sem você do meu lado.
Rosa: Fui preparar o café e também você estava tão lindo dormindo que não tive coragem de te acordar.
Claude: Non tem problema, vou acordar ao seu lado o resto da minha vida.
Rosa: É?
Claude sentou e puxou Rosa para o seu colo.
Claude: Quero que venha morar comigo.
Rosa: Como?
Claude: Issi mesmo que você ouviu. Você é minha esposa e quero um relacionamento mais que sério e duradouro com você.
Rosa: Ai, eu não sei, morar em território inimigo, rsrs.
Claude: Issi é um sim?
Rosa: Se você se comportar bem, sim.
Claude: Eu te amo! Além do mais, quero participar da gravidez do nosso filho ou filha. Já sabe o sexo?
Rosa: Não, rsrs. Ainda é muito cedo pra saber. Mas tenho uma consulta mês que vem no médico.
Claude: Ah, non. Vamos antes, cherry.
Rosa: Mas, amor...
Claude: Eu quero saber como tá nosso bebe, hã. Mon Dieu, eu preciso contar pro Frazon, pro Freitas, pra todo mundo.
Rosa: Só não vai anunciar no jornal. Então, daqui a duas semanas nós vamos, certo?
Claude: Certo.
Rosa: Agora tem alguém aqui que precisa comer por dois e tá com fome de dois leõesinhos.
Claude: Antes me dá um beijo.
Rosa: Só um, tá?
Claude: Se você resistir, só um.
Rosa: Bobo, rsrs.
(08:55 – Casa de Claude)
Depois de tomarem café, os dois estavam no sofá abraçados.
Claude: Acho que non tem problema se chegarmos tarde a construtora, hã.
Rosa: Hoje é sábado, amor.
Claude: Mas temos que cuidar da tal propaganda.
Rosa: Ai, que eu to morrendo de preguiça, por mim ficaria aqui o dia todo.
Claude: Por mim também, mas especificamente na nossa cama.
Rosa: Nossa já?
Claude: Eu sou seu e você é minha. Enton, tudo é nosso.
Rosa: Quem disse que sou sua, hein?
Claude: Seus olhos, seu sorriso, seus lábios, seu beijo. (disse roçando os lábios nos dela)
Os dois tomaram banho juntos. Rosa vestiu seu vestido branco, que ficou na casa de Claude e seguiram para a construtora.
(09:58 - Construtora)
Entrar de mãos dadas chamou atenção desde o porteiro do prédio a Silvia, que ficou boquiaberta.
Rosa: Bom dia, Silvia.
Claude: Bom dia.
Silvia: Bom... Bom dia, dona Rosa e Dr. Claude.
Claude: Me passe os recados, hã.
Os dois entraram na sala rindo da cara de Silvia.
Rosa: Sabe do que eu lembrei agora?
Claude: Do que?
Rosa: Da mesinha de telefone que você colocou pra ser minha mesa, seu cínico sem vergonha.
Claude: Haha, você ficou ton irritada.
Frazão bateu na porta e os dois se afastaram quando ele entrou.
Frazão: Bom dia, vocês dois já viram os jornais. Claude, você se saiu como herói e isso foi muito bom pra nossa publicidade, afinal todos falam da construtora.
Claude: Que ótimo, viva o nosso sucesso.
Frazão: Bem, eu vim deixar esses papéis aqui pra vocês assinarem. (disse colocando os papeis sobre a mesa de reuniões)
Claude sorriu para Rosa e a puxou, dando um beijo impetuoso.
Frazao: Então, vocês... Credo! Não respeitam mais nem as horas matinais.
Claude parou de beijar Rosa e sorriu.
Claude: Frazon, eu descobri que amo essa mulher.
Frazão: Vai te catar, Claude. Isso todo mundo já sabia.
Claude: Mas tem uma coisa que você non sabe.
Frazão: Que você vai ser pai? Ah! Claude, qualquer um que estudou biologia sabe disso. Só fiquei calado pra não te assustar.
Rosa: Não foi a Janete que te contou?
Frazão: Aquela lá, quando tem um segredo com você, não abre a boca nem pagando.
Claude: Eu tô muito feliz.
Frazão: Parabéns, Claude, parabéns, Rosa querida. Agora, sem brincadeira, desejo toda a felicidade do mundo pra vocês.
DUAS SEMANAS DEPOIS
Os negócios na construtora melhoravam cada vez mais. Vários empresários estrangeiros passaram a investir na empresa. Rosa já preparava as coisas para mudar-se para a casa de Claude e Janete só chorava, pensando na ausência da amiga.
Janete: Eu me acostumei com você aqui, Rosa.
Rosa: Eu também, minha amiga. Mas você vai casar, eu vou morar com meu marido. Mas a nossa amizade nunca vai acabar.
Janete: Vou sentir falta de você.
Rosa: Eu também, mas sabe onde me encontrar.
Janete: Eu sei, sua chata sem coração. Eu amo você, amiga.
Rosa: Eu também te amo muito, sua desmiolada.
As duas se abraçaram com lagrimas nos olhos. O celular de Rosa vibrou e ela viu a mensagem de Claude avisando que estava lá embaixo.
Rosa: Bem, depois eu termino de arrumar isso, agora tenho consulta com a médica. Talvez dê pra saber o sexo do bebe.
Janete: Ai, me conta assim que souber, tá?
Rosa: Tá.
Rosa pegou sua bolsa e desceu correndo, entrou no carro de Claude, deu um beijo nele e seguiram para a clínica.
(10:12 – Clínica)
Rosa estava deitada na maca com o gel sobre a barriga. A médica fazia a primeira ultrasonografia.
Doutora: Estão ouvindo?
Claude: É o coraçon do meu filho?
Rosa: Ai, que lindo.
Doutora: Do seu filho não, dos seus filhos.
Rosa: Como assim doutora? A senhora quer dizer que...
Claude: Son gêmeos?
Doutora: Sim, ainda não sei o sexo deles. Mas são duas crianças lindas.
Rosa: Como? Isso é verdade, doutora?
Claude: Como assim? Mon Dieu!
Doutora: Sim.
Claude: Non brinca com issi, doutora, ou eu tenho um troço. Dois filhos, mon Dieu! (disse com um sorriso nos olhos)
Doutora: E estão crescendo muito rápido, já, já, vai da pra notar a barriga.
Rosa: Gêmeos, amor, nossos filhos.
Depois daquela noticia, Rosa ligou radiante pra Janete e contou sobre o sexo, também disse que passaria a noite com Claude.
(20:30 – Casa de Claude, futura de Rosa)
Eles jantaram e estavam na sala, Claude a abraçava por trás e beijava seu pescoço, sussurrando coisas românticas em seu ouvido.
Ele contornou Rosa, parou em sua frente e se ajoelhou abrindo uma caixinha de veludo com um solitário de diamante.
Claude: Serafina Rosa Petroni... Geraldy, rsrs, você aceita se casar comigui na igreja?
Rosa se espantou e sorriu ainda sem jeito.
Rosa: Aceito.

Continua...

SESSÃO RETRÔ - VARIEDADES - VIVA MARÍLIA

A reportagem que reproduzimos abaixo foi publicada na revista Cartaz nr. 47 de 25 de janeiro de 1973.
Boa leitura!


SESSÃO RETRÔ - NOVELAS - A CABANA DO PAI TOMÁS

A reportagem que apresentamos abaixo foi publicada na revista Melhores Momentos - Telenovela Brasileira nr. 14, publicada no ano de 1980.
A novela A Cabana do Pai Tomás foi apresentada pela Rede Globo no horário das 19h e 19h30 de 7 de julho de 1969 a 1 de março de 1970.
Para maiores informações sobre a novela, favor consultar: www.teledramaturgia.com.br/tele/cabana.asp.
Boa diversão!


domingo, 30 de dezembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 4 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


2ª Parte - Capitulo IV

AS FLORES DESPEDAÇADAS

Mal o doutor George penetrou no quarto de Marta Aubert, que estava mergulhado na penumbra, foi logo sentindo um forte cheiro de violetas, o perfume preferido da louca, que impregnava o ambiente.
O local estava mobiliado com simplicidade, com sóbrio bom gosto e tudo fora disposto de modo a tornar o mais confortável possível a permanência de uma pessoa que apenas muito raramente saía ao ar livre.
Marta trajava um vestido branco singelo, que fazia ressaltar ainda mais a alvura de seus cabelos, estava recostada num canapé e nem sequer virou o rosto para ver quem havia entrado. Seu aspecto não havia mudado muito desde o dia em que o conde Fernando a fizera transportar para o palacete, embora estivesse sendo tratada com todo o carinho.
Continuava muito magra, pois de lá viera esquelética e de uma palidez cadavérica, mas o que nela mais impressionava ainda eram os olhos, que pareciam ser a única coisa dotada de vida naquele corpo que se encaminhava para a morte. Tinha sempre entre os braços uma boneca, que beijava com muita frequência, mantendo-a apertada ao coração e embalava para fazer dormir, com voz mansa e suave, repetindo sempre uma canção de ninar infinitamente triste.
George, de fronte enrugada, braços cruzados, esteve a observá-la de certa distância, demoradamente, sem que ela parecesse perceber a sua presença ou que alterasse em nada seu comportamento.
Depois o médico avançou uns passos para vê-la mais de perto e, então, Marta Aubert pareceu vê-lo, fixando nele os olhos de alucinada. Então, apertando desesperadamente a boneca contra o peito, pulou do canapé onde estivera até então recostada e correu a colar-se contra a parede, tremendo convulsivamente.
O médico, com a calma própria da profissão que exercia e a experiência do trato com outros doentes daquela natureza, sem fazer o menor movimento brusco, para que ela não se assustasse mais ainda, aproximou-se mais um pouco. Então, de repente, a louca soltou um grito estridente, dilacerante:
- Socorro! Socorro! Querem me tirar a menina! Socorro!
Àquele grito a porta se abriu de repente e Pedro penetrou no aposento.
- Doutor, que aconteceu? Precisa de mim?
George se voltou algo contrariado:
- Parece que eu lhe disse que desejava estar aqui sozinho!
- Desculpe "doutor". Ouvi os gritos dela e não pude me conter.
- Bem, já que está aqui, diga-me uma coisa. Você não tem ideia de que o conde Fernando tenha tido um filho com essa senhora?
- Sim, teve, doutor. Uma filha. É a atual baronesa Denise de Rastignac...
- É muito, muito estranho...
Pedro se aproximou um pouco mais, ao tempo em que a doente que provavelmente havia reconhecido nele alguém que lhe era familiar, foi se tranquilizando com impressionante rapidez e voltava a sentar-se, sempre ninando a boneca.
- Que é que o senhor acha estranho, doutor?
- Que a filha esteja viva e aqui perto dela, que ela, apesar disso, continue sua fixação sentimental numa boneca... Nunca soube de um caso como esse tão estranho e tão sem justificativa. O normal, o que sucede sempre, é o paciente maníaco transferir todo o seu afeto, sua atenção, seu apego, para algo que lhe traga a lembrança de uma pessoa que lhe foi arrebatada ou que morreu, como poderia ser, por exemplo, essa boneca. Mas, uma vez que a filha está viva e que ela a pode ver, essa transferência maníaca não tem causa, carece praticamente de fundamento...
- Mas... Se ela é uma louca, doutor... Como quer que ela saiba?
- Aí é que você se engana, Pedro. Em todas as ações cometidas pelos alienados ou os que chamamos loucos, até mesmo as mais extravagantes e inexplicáveis, há algo de lógico, e isso é o que é difícil perceber, tornando o tratamento custoso. Mas assim é. Estudando atentamente esses atos, essas reações, pode-se chegar ao motivo, à causa que desencadeou o impulso ou, então, a descobrir o motivo causador de determinado ato que se repete, recordando outro que foi a origem da perturbação, que lhe alterou o funcionamento normal da mente.
George se aproximou de Marta, que desta feita não reagiu como anteriormente e lhe tomou o pulso para contar as pulsações. Agiu como médico, evidentemente para assim se impor no espírito da doente.
- Quem é o senhor? - perguntou de repente a enferma.
- O médico que está incumbido de tratá-la, de pô-la boa, senhora.
- Por que isso? Quem está doente? Não preciso de médico. Vá embora!
George, impassível, em vez disso, sentou-se ao lado dela, olhando-a fixamente.
- Mas eu vim tratar também de sua filhinha - disse, com toda a naturalidade.
Marta lançou um olhar carinhoso, mas apreensivo à boneca.
- Doutor, não deixe que tirem minha filhinha. Ela é o único bem que me resta neste mundo e não saberia... Mas a menina está doentinha?
- Receio que sim, minha senhora.
- Sim, sim, é isso mesmo! Está doente... Envenenada! Agora me lembro... É isso! Foi envenenada...
- E a senhora sabe quem a envenenou?

  
A louca baixou a cabeça, como se procurasse rebuscar no cérebro confuso um nome. E de repente ergueu o rosto e exclamou, arregalando os olhos:
- Claro que sei! Sei quem foi! Foi ela!
- Ela, quem? - perguntou George, sem se alterar.
- Ela! A mulher que me roubou o amor de Fernando e que me mantém prisioneira aqui! Oh, pobre de mim! Ninguém me ajuda! Ninguém me salva!
Excitada, Marta Aubert se atirou para trás, desesperada, deixando-se cair sobre o encosto do canapé. Grossas lágrimas lhe rolavam pelo rosto descarnado.
George havia escutado com o máximo interesse tudo o que ela deixara escapar, esforçando-se por compreender o que havia de escondido no significado daquelas queixas e daquela acusação. Compreendeu que o trabalho de tratar daquela pobre doente e de lhe penetrar na mente, para procurar trazê-la à cura, ia ser bem árduo, mas decidiu que tudo faria para alcançar aquela vitória, logrando seu objetivo.
Fez menção de levantar-se, para deixar a doente, porém esta o agarrou pela manga e puxou-o:
- Doutor... Não permita que me tirem a menina... Faça com que deixem a menina comigo... Ela é tudo o que resta em minha vida!
- Ninguém levará a menina, ninguém tocará nela, minha senhora. Fique tranquila.
- Mentira!... Está mentindo!... Sei que querem levá-la - lamentou-se a louca - e eu vou ficar sozinha, sem a minha filhinha, sem ninguém!
O doutor George, lentamente, quase com ternura, fez-lhe uma carícia na cabeça...
- Acalme-se, minha senhora. Vai ver como ninguém tocará um dedo na sua filhinha. Acalme-se e agora vá descansar.
Estranhamente obediente, Marta, sempre com a boneca apertada nervosamente contra o colo, cedeu em se estender no canapé e reclinou a cabeça numa das almofadas que tinham estado embaixo de suas costas.
- Então... Não vão levar mesmo a minha filhinha?
- Não. Pode ficar tranquila. Não tenha receio.
- Graças a Deus!
Quando George saiu do quarto, perguntou ao mordomo:
- A baronesinha Denise costuma vir visitar a mãe?
- Veio uma vez, doutor.
- E qual foi a reação da doente? Como a recebeu?
- Não sei muito bem, doutor, porque não vim com ela. Mas o conde ficou desolado. Ela a repeliu como começou a fazer hoje com o doutor...
O bom velho observou ansiosamente o rosto do psiquiatra.
- Acha... Que há alguma esperança doutor?
- Não sei... Não sei... Há certos aspectos que não entendo, há coisas que preciso esclarecer e só então poderei dar uma opinião. Enquanto não conseguir estabelecer certas ligações com o passado, nada feito. Sem isso, não podemos esperar nenhuma cura.

PARA MEDITAR

"Bom de briga é aquele que cai fora" (ADONIRAN BARBOSA).

SESSÃO BISCOITINHOS - SHMOO, A FOCA FOFA


Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=ZCAnGKi_lF8

sábado, 29 de dezembro de 2012

PARA MEDITAR

"Não jogue espinhos na estrada... na volta você pode estar de pés descalços" (AUTOR DESCONHECIDO).

SESSÃO FOTONOVELA - O QUADRO DO MAL

A fotonovela que reproduzimos abaixo foi publicada na revista Sétimo Céu nr. 224 de novembro de 1974.
Nossos agradecimentos à amiga Maria do Sul pela doação desse material.
Boa leitura!