O conto que reproduzimos abaixo, intitulado “Apelo” é da autoria de Dalton Trevisan.
Para maiores informações sobre o autor, favor consultar: educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u476.jhtm.
Boa leitura!
APELO
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.
Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Que lindo! É assim mesmo, depois que perde dá valor, até as pequenas coisas que irritava, agora sente falta...Amei!!
ResponderExcluirÉ triste mais real, quando somos distraídos só tempo mostra a profundidade provocada pela ausência, e até que ponto nos afetará realmente. Mais quando somos, usando uma expressão mais atual, antenados a dor da perda, a ausência começa na possibilidade, acentua na realidade e parece não ter fim o apelo vem logo.Dalton Trevisan foi feliz em abordar a questão com esta delicadeza e fazer-nos refletir!!!!!
ResponderExcluirLindo e verdadeiro, muitas vezes precisamos perder para dar valor. Gostei muito!
ResponderExcluirnão é muito bonito
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