domingo, 30 de setembro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 18 - PARTE 2 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA


O INFERNO
DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge


Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


- Mas não posso! - proferiu o barão Ernesto, que antepunha sua honra sobre tudo. - Luís Paulo não me pertence mais, agora, mas sim à justiça! Não se pode ocupar de outrem quando ele próprio, apesar de tudo o que disse, deverá responder à acusação de uma tentativa de morte e, eventualmente,receber o castigo!
Ao ouvir aquelas terríveis palavras, Luís Paulo cobriu o rosto com as mãos, arrasado. O conde Fernando, perplexo, malgrado seu, ante a sincera dor do rapaz, voltou-se para o barão e disse:
- Não o atormente mais, por hoje. Compreendo o quanto deve estar chocado com o que aconteceu, mas não deve esquecer que Luís Paulo é seu filho. Espero que aceite ser meu hóspede por esta noite e acredito que estamos todos necessitando de repouso. Amanhã falaremos com calma e de cabeça fria sobre o acontecido, e estou certo de que tudo se esclarecerá.
Quando o conde Fernando, curvado sob o peso de sua preocupação, saiu da biblioteca, o barão disse ao filho:
- E agora, que estamos a sós, explique-me uma coisa: Você mesmo quis que eu o fizesse internar na clínica do doutor Démon, para que descobrisse o que acontecera a uma certa moça. Posso saber como se chama ela?
- Não há nenhuma dificuldade, chama-se Maria... Seu sobrenome, eu não sei.
- Quem são seus pais? De onde é ela?
- Sei apenas que veio a Nova Orleans para obter notícias da mãe que, embora não fosse louca, parece que estava internada no manicômio desse médico maldito!
- Estórias! - cortou o velho - você já me quis impingir isso, mas basta! A clínica do doutor Démon não é um cárcere, mas um lugar onde se tratam doentes mentais! Estou certo de que a moça por cuja causa você fez tantas tolices não passa de uma sirigaita mentirosa que, por qualquer motivo o fez agir como você agiu, absurdamente!
- Papai, está enganado! Se o senhor tivesse conhecido Maria, não falaria assim! É doce e gentil, e eu tive compaixão do seu sofrimento e do seu triste passado!
Nervosamente, com as mãos nas costas, o barão permaneceu silencioso por alguns instantes, medindo à largas passadas, o salão. Finalmente, detendo-se, disse:
- De qualquer maneira, estou decidido a procurar agora mesmo o doutor Démon para esclarecer isso tudo e verificar se você disse a verdade. Enquanto isso, ordeno a você que não saia daqui e espere o meu regresso, antes de tomar qualquer decisão. Advirto-o, porém, de que, no momento em que verificar quão é falso o que você me contou, não terei escrúpulo nenhum em cumprir o meu dever!
- Pode fazê-lo, papai, faça como deseja! De nenhum outro modo, o senhor poderá se convencer, com maior exatidão, da minha inocência!
Embora já fosse noite alta, o desejo do barão de esclarecera situação era tal que, servindo-se de sua carruagem, não hesitou em se dirigir ao manicômio do doutor Démon.
Enquanto o veículo atrelado por bons cavalos corria veloz dentro da noite, Luís Paulo, na biblioteca do palácio condal, aguardava o retorno do pai, não totalmente tranquilo.
Tinha visto quanto o doutor Démon era hábil em simular, e temia que o malvado indivíduo inventasse outro qualquer expediente diabólico para falsear a verdade e desviar as pesquisas que pudessem conduzir à descoberta de algo que o comprometesse.
O tempo de espera pareceu uma eternidade ao rapaz. Apesar de tudo, porém, ele tinha fé no triunfo da verdade que, estava certo, haveria de vir à tona.
Olhando distraidamente os tições ardentes que se consumiam pouco a pouco na lareira do salão, pensava:
"Se meu pai conseguir esclarecer a situação, estarei finalmente livre e minha adorada Maria estará salva!”
Mais uma hora decorreu lentamente e, depois, ouviu o ruído de uma carruagem que percorria a alameda central do jardim.Não podendo dominar a impaciência, Luís Paulo abriu aportada biblioteca e atravessando rapidamente o vestíbulo, mal teve tempo de ver o pai que, no escuro e com a cabeça baixa,descia do veículo.
-Papai! - gritou.
Mas o barão Ernesto lhe cortou a palavra com um gesto imperioso:
- Cale-se,miserável! Agora estou mais convicto de que foi você quem apunhalou a pobre Flora Sardon! Você sabe mentir muito bem, e eu consegui verificá-lo! Tanto o doutor Démon, que de resto é uma excelente pessoa, como seus auxiliares, asseguraram-me que você fugiu do manicômio há alguns dias, conforme, aliás, já me haviam dito!
- São uns farsantes! - reprovou Luís Paulo, não podendo dominar a ira que o invadia. - Mentem! Todos eles mentem! Diga-me, então: deixaram que visse a moça? Que disse Maria a você?
Como única resposta, o velho fidalgo pôs diante do filho um papel:
- Tome, leia e verifique qual é a vontade daquela que você quer proteger, e que disse amar!
O jovem passou um rápido olhar pelo texto, que, mediante um engodo, o doutor Démon obrigara Maria a escrever,e sua fronte se cobriu de frio suor.
- Não é possível que ela tenha escrito isto! Este documento é falso! É parte de uma diabólica maquinação, cujo objetivo não posso entender!
- Mas eu entendo muito bem! - retrucou o barão. - Apesar da hora inoportuna da visita, o doutor  Démon mandou chamar a moça e ela, diante de mim, confirmou o que havia escrito!
- Não compreendo! - Balbuciou Luís Paulo - não entendo mais nada...
Suas últimas palavras foram abafadas pelo ruído de outro veículo que chegava. O barão foi à janela e disse, com um tom de voz um pouco mais doce e paternal:
- Desculpe-me, Luís Paulo, tive que chamar a polícia! Embora Fernando não o creia culpado pelo crime de que Flora foi vítima, todas as provas são contra você. Se há qualquer coisa que quis esconder-me, deverá dizê-la agora, diante dos representantes da lei. Eu cumpri com o meu dever.
Dois minutos depois, Pedro, o mordomo, surgia à porta da biblioteca, dizendo, com voz pouco firme:
- Com licença, senhor barão... Um inspetor da polícia, acompanhado de dois esbirros, procuram seu filho...


- Está bem. Mande-os entrar.
O mordomo se afastou para dar entrada a um homem alto de feições severas, seguido de dois outros, uniformizados.
- Luís Paulo de Rastignac - disse o recém-chegado, sem sequer cumprimentar - em nome da lei, declaro-o detido,sob acusação de tentativa de homicídio contra a senhorita Flora Sardon!
- Mas eu não atentei contra ela! - replicou Luís Paulo, lançando um olhar angustiado em direção ao pai. - Posso fornecera prova da minha inocência!
- Se é assim, terá ocasião de demonstrá-lo perante o juiz de instrução - cortou o inspetor. - Por ora, acompanhe-me!
Resignado, de cabeça baixa, Luís Paulo se dirigiu para a porta.
Não havia, porém, ainda transposto o umbral, quando o velho barão se aproximou e, cercando-o com os braços, atraiu-o contra o peito, soluçando:
- Filho, meu filho! Rogo a Deus que você não seja realmenteculpado... Mas, seja como for, dê-me um abraço antes de ir!
Incapaz de reagir ante aquelas palavras, com os olhos cheios de lágrimas, Luís Paulo se deixou estreitar pelos braços paternos, enquanto, respeitando a dor dos dois homens, os agentes da lei esperavam. Por muito tempo, depois da partida do pobre moço, o barão Ernesto permaneceu imóvel, de pé, enquanto na biblioteca reinava um silêncio profundo, tétrico, angustioso...


2 comentários:

  1. Pobre Luía Paulo, que situação! O Doutor Démon é terrível, consegue enganar todo mundo, e falta muito pra ser desmascarado pelo jeito! Mas, acho preferível Luís Paulo ir para o presídio, do que voltar para a clínica desse monstro, eu temia isso, espero que não aconteça. Flor de Amor está sozinha, mas pelo menos no momento acho que não corre risco de enlouquecer, como aconteceu com a mãe. Paulo, está emocionante!

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    1. Olá Maria, só pra te tranquilizar, a sua chará fugirá do manocômio, você nem imagina em que horripilante situação... e outra situação dramática se abaterá sobre ela. Anime as meninas ai do chat à leitura de "O Inferno de Um Anjo".
      Um grande abraço.

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