terça-feira, 13 de novembro de 2012

FIC - À PRIMEIRA VISTA - CAPÍTULO 30 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

CAPÍTULO XXX – PURO ÊXTASE

Durante a madrugada o tempo muda e uma chuva torrencial é inevitável.
Rosa começa a ficar agitada, diante do sonho que tem. Sonhava com Júlio entrando no apartamento, na casa, na construtora e ela tentava escapar dele, mas ele sempre a alcançava. E dava gargalhadas do desespero dela,  enquanto gritava :
“Eu sempre esperei por essa vingança!”
“Você vale muito mais viva que morta!” 
“Eu quero os milhões de dólares, belezinha, mas se você vier junto eu não vou  reclamar!“
 E ela chamava por Claude, pedia ajuda, socorro... Mas a  imagem de Júlio, armado,  era a  que aparecia:
Pode gritar, sua idiota... ele não vem... eu dei um jeitinho no seu francês!”
“Agora, eu vou terminar aquela minha ‘conversa’ com você! Não tem mais ninguém pra te salvar, Serafina!”
“Nunca! Ela consegue responder – Prefiro a morte!”
“Então morra, sua estúpida”- E atira nela.
Nesse momento um raio cai muito perto e ela acorda gritando: 
R: Não!  Não!
C: Rosa! Que foi? – Pergunta um Claude assustado pelos gritos dela e a amparando.
R: O Júlio... ele me seguia, me  ameaçava... – Fala nervosa - Eu corria pra longe, mas ele sempre me alcançava, eu chamava por você e ele dizia que tinha dado um jeito em você... que ele ia... ia  ficar comigo, eu disse que preferia morrer e ele atirou em mim, Claude!




C: Xiii... Calma!  Foi um pesadelo... só um pesadelo, chérie!  E esse tiro... foi só um raio que caiu... e você associou  isso no sonho, hã?
Outro raio cai, seguido de trovões e  relâmpagos. Rosa estremece.
C: Tá vendo... é só um temporal!
R: Parecia tão real...
C: Mas non é real, Rosa... é só seu corpo reagindo... um meio de você desabafar, hã?  Vem cá...
Ele se recosta na cabeceira da cama e Rosa se ajeita em seu corpo.
C: Deita sua cabeça aqui sobre o meu coraçon... escuta ele batendo por você...
R: Ele tá muito rápido... Isso foi muito lindo... e romântico... 
C: É... meu coraçon tem pressa de te fazer feliz, chérie! – Enquanto fala dá suaves beijos nos cabelos de Rosa e desliza suas mãos pelo braço dela, indo e vindo... Tenta dormir de novo, mon amour...
R: Eu já estou mais calma... foi  bobagem ficar assim por causa de um sonho...
C: Esquece, hã? Presta atençon na chuva... No ritmo dela... Um dia, alguém muito importante e especial em minha vida me disse que a chuva cai, inunda tudo, varre as coisas ruins e o sol volta a brilhar...
Ela levanta o olhar pra ele e sorri:
R: Hum... essa pessoa especial, por acaso disse que você  é o sol da vida dela? E sempre vai ser?
C: Oui... ela disse muitas coisas... mas já faz  um tempo que ela  non diz que me ama...
R: Ah, é?  Então... – ela literalmente fica sobre o corpo dele e olha bem dentro de seus olhos – eu falo por ela... te amo, te amo... E o beija. E, embalados pelo ritmo da chuva, eles voltam a dormir.

Ao amanhecer, Rosa acorda e sorri ao sentir o braço de Claude sobre o seu corpo...
A chuva dera uma trégua, e o silêncio imperava...
Ela escuta um ruído vindo da parte de baixo da casa, mas se convence que foi sua imaginação. Mas o ruído se repete, de novo e de novo...
R: Claude, acorda... que barulho foi esse? - Diz Rosa apreensiva... – Vem lá de baixo!
C: Barulho? Que barulho, Rosa? Deve ser sua imagi... – Então ele também escuta... Fica aqui, hã? Eu vou lá ver o que é...
Ele coloca o roupão e desce com cuidado. Procura pela sala, mas não vê nada fora do lugar, as janelas e portas estão fechadas. Ele vai pra cozinha...
Rosa não se contém e vai até o início da escada, quando ouve a voz de Claude:
C: Mas o que você está fazendo aqui, hã?
R: Claude... quem tá ai? – Ela vai descendo os degraus até ouvir a risada dele, que vinha em sua direção.
C: Chérie, nós temos visitas, hã? Olha só... – Ele segurava um gato todo molhado – Ele estava tentando entrar pela janela da cozinha... Ok... eu confesso, ficou entreaberta... pardon...
R: Ufa! É só um bichano... Dá ele aqui... adoro gatos..
C: Eu sei... afinal você está comigo, non?
R: Convencido! Eu vou enxugá-lo e dar comida... ele deve estar com fome e com frio, tadinho...
C. Humm, já tô com inveja dele...
R: Bobo!  Depois eu cuido de você – Diz ela maliciosamente - mais tarde.
Ela enxuga o gato, dá alguma coisa pra ele comer e o instala num cantinho da sala, perto da lareira. Talvez pelo frio, talvez pelo carinho, ele se acomoda sem medo na velha manta que ela coloca de cama pra ele.
Claude só a observa, pensando que ela, com certeza, é a mulher da vida dele, com quem ele quer ter filhos...

Algumas horas mais tarde, a chuva volta a cair. Eles ficam na varanda, conversando e olhando pra chuva.
De repente, Rosa levanta e vai até os degraus que dão acesso ao jardim.
R: Nossa, me deu uma vontade de sair na chuva! E desce ficando sob a chuva.
C: Rosa! Põe a capa, enton... Você vai ficar ensopada... sai da chuva!
R: Vem comigo! Banho de chuva é tudo de bom! Vem amor... – Ela faz sinal com as mãos e estica os braços pra ele...
C: Rosa, você realmente gosta de ficar na chuva, hã? Vai pegar um resfriado outra vez...
R: Você quer que eu saia da chuva? Então vem me buscar!
C: Isso foi um desafio, dona Serafina Rosa? E vai com ela sob a chuva.
Eles se abraçam, se beijam e dançam sob a chuva e sob o domínio da paixão... até caírem exaustos num pedaço já gramado do jardim... eles ficam ali, deitados de costas, olhando pras nuvens  cinzas que cobriam todo o azul do céu...
C: Isso foi loucura, mon amour... uma loucura deliciosa, hã? E retira uma mecha de cabelos que caíra pelo rosto dela... Obrigado...
R: Obrigado?
C: É... por acreditar em mim... nos meus sonhos.... me fazer  feliz... o homem mais feliz do mundo neste momento... mesmo que seja  assim, todo molhado...
Ela sorri e recebe um beijo, que da boca segue para o pescoço...
R: Claude...
É quando o êxtase toma conta dos dois, ali entre as flores do jardim, sob as gotas finas de chuva, que insistia em cair, como se dissesse em nome dos deuses, que os abençoava...

Depois de completamente saciados, eles continuam abraçados e deitados. Por um breve instante, um raio de sol escapa por entre as nuvens...
C: Tá vendo como você é especial? Até o sol quer ter você em seus braços e enviou um raio pra roubar você de mim...
R: Impossível alguém me roubar de você! Estou presa a você pelas algemas do coração!
A chuva começa a engrossar.
C: O sol se foi e a chuva aumentou... Hora de entrar, mocinha!
R: Mas tá tão gostoso aqui na chuva... atchim!
C: Viu só? Já tá espirrando... Já para dentro, mocinha! Vamos...
Ela recolhe as roupas do chão e Claude a pega de surpresa, levando-a para dentro. Lá fora o vento se impõe sobre a chuva.
Assim que eles entram, um raio corta o céu e acaba a energia elétrica.
C: Bem, mon amour... o jeito vai ser  se esquentar de outra forma, hã? Eu vou buscar alguma coisa pra você vestir. Non sai daqui... ta ton escuro aqui dentro...
Ele vai até o quarto, veste seu roupão, procura pela mochila de Rosa e não encontra. Então ele leva uma toalha, uma camisa sua e um edredon para ela.
Assim que desce a escada, ele fala:
C: Rosa, non achei sua mochila com roupas, non... trouxe uma camisa minha e um edredon... Se seca primeiro... – E entrega para ela.
R: Droga! Ficou no carro... eu entrei só com a nécessaire... nem lembrei  de pegar ontem...
C: Bem... sem energia... vamos dar um jeito nisso... se temos uma lareira... vamos usá-la! Ainda bem que a produçon de Robertinha deixou isso tudo aqui! Agora é só acender...
Ele acende a lareira e, aos poucos, o ambiente vai se iluminando pela luz das chamas.


Rosa já está com a camisa dele e enrolada no edredon...
C: Vem... vamos sentar perto da lareira pra nos aquecer... Olha lá... nosso hóspede non foi embora... tá bem quentinho...
Rosa começa a rir...
C: Falei alguma besteira?
R: Não! Eu só pensei que ontem eu era uma Cinderela; hoje to mais pra Gata Borralheira, né? Rsrsrsrsr
C: E non é a mesma história??
R: Na verdade, não... Cinderela é um dos contos de fada baseado num conto italiano popular chamado A Gata Borralheira. A versão mais antiga é originária da China. Mas, ela tem  versões em vários paises e culturas... eu li isso em algum lugar...
C: Você é uma caixinha de surpresas, hã? Mas continua com o seu príncipe! – E dá um selinho nela. – Non tá com fome, non?
R: To sim... “príncipe Valente” será que tem alguma coisa que não precise ser esquentada, pra gente comer?
C: Eu vou lá ver... não vá fugir, Gata Cinderela!
Ele volta com pão, queijo e uma garrafa de vinho. Ela se livra do edredon e eles comem, conversando sobre coisas sem importância... Rosa toma apenas uma taça de vinho.
C: Mais vinho, chérie? Vai te esquentar por causa da chuva, hã?
R: Não, eu não posso...
C: Non pode? Por quê?  Tá tomando algum remédio?
R: Não! Mas se eu beber mais vou precisar tomar... eu não quero ter dor de cabeça, só isso...
C: D’accord... Ele termina de tomar o seu vinho. Podemos passar a noite aqui. O que você acha? Assim em frente à lareira... jogando conversa fora...
R: Eu acho uma ótima idéia... deixa eu arrumar nossa “cama” então... – Ela estica o edredon pelo chão. – Pronto, podemos deitar...
E assim eles passam algumas horas, falando sobre o casamento duplo na igreja com Janete e Frazão, lembram de coisas da infãncia, dão risada, se divertem com essas histórias... De repente, Rosa fala:
R: O domingo está acabando... o conto de fadas também... amanhã querendo ou não o Jú...
C: Xiiiii, non pensa nisso agora... ainda é hoje, hã? – Chega mais perto dela, percebendo que ela treme. Isso tudo é frio, chérie?
R: Hum hum... essa sua camisa é muito fina... não aquece...
C: Por isso non... deixa que eu te aqueço... – e a toma nos braços, apertando-a contra o seu corpo, deslizando seus lábios pela sua face, seu pescoço... Te quero tanto... que nem sei... esqueço que existe tempo... porque o tempo eu quero ele só pra te amar...
R: Fala mais... assim pertinho do meu ouvido... – Ela retribui carinhos com os seus lábios pelo pescoço dele.
C: Você me pediu e eu te amei na chuva... agora eu que peço... faz amor comigo aqui  em frente a lareira...
E o amor que fizeram, madrugada afora, só teve um gato, que dormia por testemunha...

A segunda-feira amanhece sem sinal da chuva que caíra no domingo.
O sol já abraçava com seus raios tudo o que estivesse ao seu alcance.
Rosa prepara um rápido café com o que ainda restava da cesta que Dadi preparara, enquanto Claude ainda dormia.
Ela arruma em uma bandeja e leva até a sala, onde passaram a noite, ao calor da fogueira e ao sabor de seus corpos... Rosa se abaixa perto de Claude:
R: Amor... hora de acordar.... – Ela passa as costas de sua mão pela face dele. – Claude... acorda... Temos que voltar, hum?
Ele apenas resmunga, fingindo dormir. Rosa chega com o rosto mais perto dele:
R: Claude pára de fingir que tá dormindo... tem tudo pra arrumar ainda...
C. D’accord... – Diz preguiçosamente, ainda de olhos fechados. – Se você me der um beijinho, eu levanto...
R: Um beijinho? Sei... No rosto, ok? – Ela se inclina para dar um beijo no rosto dele, mas Claude mais rápido, a puxa por cima de seu corpo e toma-lhe a boca num beijo terno, porém cheio de malícia...
C: Por que você tá com essa pressa toda, hã? - Pergunta entremeio ao beijo.
R: Segunda-feira... o mundo lá fora nos espera...
C: Rosa, ele vai continuar esperando, mesmo que a gente não vá... Enton... se acalma, oui? – Diz, sentando-se. – Hummm, café na cama... vai me acostumar mal... – Diz já pegando as canecas com café e dando uma a ela, com um largo sorriso.
R: Saúde! – Brinda ela, retribuindo o sorriso.
C: Muito bom... - E come alguma coisa - mas pelo jeito continuamos sem energia elétrica...
R: É... deve ter queimado algum disjuntor...  ou alguma entrada  do quadro de energia...
C: Nada como ter uma esposa que entende do negócio... - Diz percorrendo o corpo dela com o olhar descaradamente.
R: Bobo! – Ela se levanta, retirando a bandeja vazia e as canecas, voltando pra cozinha.
C: Rosa! – Ela a chama, quase num sussurro.
Ela se volta:
R: O que foi, Claude?
C: Te amo, hã?
R: Eu também te amo...  e joga um beijo pra ele, que pega no ar e “guarda” no coração...

Mais tarde eles já estão com tudo arrumado, prontos pra irem embora. Mas Rosa, anda pela casa toda e pelos arredores do lado de fora.
C: Rosa, non ficou nada pra trás, chérie... já está tudo no carro, hã..
R: Mas eu não acho ele...
C: Ele quem?
R: O Grimm...
C: Grimm? De que você está falando?
R: Nosso hóspede, amor... o gatinho... batizei ele de Grimm em homenagem aos contos de fadas...
Claude sorri:
C: Touché! Perfeito! Mas eu acho que ele só queria hospedagem por uma noite, até passar a chuva. Deve ser de alguma outra casa aqui por perto. Os gatos gostam de andar durante a noite... andam vários quilometros, só pra marcar território...
R: Que pena! Eu queria me despedir dele... enfim... Vou deixar esta manta aqui no cantinho da varanda. Assim, se ele aparecer, vai ter onde se deitar... Vamos?
C: Oui, madame Geraldy – E abre a porta do carro pra ela.
Eles voltam pra cidade, evitando ao máximo o assunto “dólares e Júlio”. Mas isso é inevitável e acaba acontecendo.
R: Claude, vamos parar de fingir que não estamos preocupados com o Júlio. Eu sei que ele vai fazer alguma coisa... só não consigo imaginar o que!
C: Rosa, pára de ficar “pré” ocupada... isso non faz bem, hã? – Olha aí, você já ficou pálida só de pensar nesse covarde... – Diz olhando pra ela rapidamente, pois está dirigindo. Ele coloca sua mão sobre a dela. – Mon Dieu, chérie, você tá com a mão gela...
R: Pára o carro, Claude... rápido...
Ele encosta rapidamente no acostamento. Rosa mal tem tempo de sair do carro e começa a vomitar...
Claude sai do carro e ampara Rosa.
C: Mon Dieu, de novo! Rosa, você vai comigo ao médico. Isso non pode ser... já passou  pro psicológico... non pode continuar assim, hã? Toda vez que falamos desse inútil, você passa mal...
R: Não... acho que foi aquele queijo de ontem que não me fez bem... com o vinho... mais o café de hoje! – ela tenta arrumar uma explicação...
C: Seja lá o que for, você vai comigo a um médico, chérie...
Rosa não diz nada... não consegue achar uma  saída, a não ser para “passar mal” mais uma vez, deixando Claude mais  preocupado...


Um comentário:

  1. kkkkkk, está difícil para Rosa esconder seu "segredo" de Claude! E Claude é meio bobinho, caso contrário já teria desconfiado. Legal Sônia! Bjs.

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