quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

FIC - À PRIMEIRA VISTA - CAPÍTULO 46 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

CAPÍTULO XLVI - O INICIO, O MEIO, O FIM

C: E quem disse que já encerramos a noite, mon amour? –Ele não a deixa pegar o bombom – Rosa, tem um jantar inteiro esperando a gente, você non ta com fome non?
R: Claro que estou! Mas deixa eu comer um bombom. Unzinho só...
C: Non, doce só depois da comida! Non é assim que você faz com nossos filhos?
R: Mas eles são crianças e se fizerem isso não comem...
C: E você se fizer, também non vai comer, porque eu te conheço. Enton, Madame Geraldy, queira me acompanhar até a sala de jantar. – Ele oferece o braço a ela.
R: Oui... enchanté, Monsieur Geraldy – ela entra na brincadeira, fazendo uma reverência com um lindo sorriso.
Assim que saem do quarto:
R: Que bom que a música ficou no repeat. Eu adoro ouvi-la e dançá-la com você.
C: Ah... oui, Madame! Após o jantar, nós iremos terminar a nossa dança ou começar outra, hã? A sua roupa é muito apropriada para isso. - Diz pela camisa dele que ela vestia.
Claude a conduz até a mesa, puxa a cadeira para ela e ocupa o seu lugar também.
Ele faz questão de servir Rosa. Eles jantam e conversam vários assuntos.
 Depois vão para a sala de estar e sentam no sofá.
C: Você prefere vinho ou champanhe para nosso último brinde em Paris?
R: Vamos de champanhe, que já está aberta. – Claude se levanta e vai até o quarto pegar a bebida.
Ele serve uma taça à Rosa e uma para si. E volta a sentar ao lado dela.
C: A que vamos brindar, chérie?
R: Ao nosso amor, que nos deu João e Anna e à vida que fez com que isso acontecesse.
C: D’accord, ao nosso amor e à vida enton... e a quem mais vier.
R: A quem mais vier? Ela olha pra ele, perguntando com os olhos.
C: Oui!  Agora que já sabemos o endereço da cegonha, que já conhecemos o caminho, por que non?  Já temos dois, o que é muito bom, mas três... ia  ser “demais!” Você  topa?
R: Meu Deus, você realmente gostou de ser pai.
C: Oui, eu gostei mesmo, hã? Mas eu devo confessar que gosto mais, muito mais de encomendá-los. – Ele retira a taça da mão de Rosa, largando-a no chão mesmo, pois tinha pressa em sentir nos seus lábios o gosto do champanhe que ainda restava nos lábios dela.
C: Você ainda non disse se topa. – Ele interrompe o beijo e a olha intensamente.
R: Eu não posso recusar, eu amo ser mãe e amo nossos filhos, amo meu marido e essa foi a maneira mais linda que você já encontrou pra dizer que gosta de fazer amor comigo, não sexo, mas amor, o nosso amor.
Claude afunda suas mãos pelos cabelos dela, atraindo seu rosto junto ao dele até encostar sua testa na dela.
C: Se você non tivesse acontecido em minha vida, non seria com mais ninguém, eu nunca saberia o que é o amor de uma mulher, nunca saberia o quanto um homem pode amar uma mulher. Non saberia nem que o amor realmente existe.
R: Mas ele existe e aconteceu pra nos provar que a vida tem seus caminhos próprios, que não adianta tentarmos fugir ou pegar um atalho, porque, no fim, ela, a vida, encontra um meio de fazer acontecer o que tem que ser, de unir ou separar.
Suas mãos acariciam o rosto dele e ela fica na ponta dos pés, unindo sua boca a dele, numa entrega simples e pura. Seus corpos se abraçam, quase que involuntariamente.
E sem que percebam começam a dançar, pois a música continuava  tocando.
C: Ma belle amie, tu es ma lover (Minha bela namoradinha, tu és minha amada /amante)
E enquanto dançam, se procuram, se encontram e se perdem  nos carinhos e nas carícias, algumas  doces e  inocentes, outras ousadas e  torturantes e  quando se dão  conta estão  no chão, sobre o tapete,  se amando e se entregando mais uma vez  ao desejo de serem um só de corpo, coração e alma.
Momentos depois, ainda deitados no tapete, de frente para a janela, observando a neve que caía incessantemente, estão os dois cobertos apenas com o roupão de Claude, apesar do frio.
C: Mon Dieu essa foi a melhor maneira de você dizer que aceita minha proposta, você foi incrível. – ele desliza seus dedos pelo braço dela, indo e vindo.
R: Incrível é o que você me faz sentir e “como” você me faz sentir. – Ela retribui o carinho pelo peito dele, mas sua voz já é sonolenta. – Isso tudo me deu muito trabalho, eu gastei muita energia contigo mereço aquele bombom agora.
C: D’accord, agora pode. Eu vou buscar. – Ele se levanta, tenta pegar o roupão, pois está frio, mas Rosa não deixa.
R: Não, você não me deixaria passar frio, deixaria? – Ela pergunta com os olhos fechados e segurando firmemente o roupão.
C: Non, eu non deixaria, se eu non precisasse dele, hã? Põe a minha camisa, ela fica muito melhor em você, muito mais sexy que em mim. – Dá um selinho nela.
R: Bobo, bobo e mau! Essa camisa é muito fina vou congelar de frio.
Claude põe o roupão e vai até o quarto buscar os bombons. E além deles volta com um edredon, pois do quarto não dá pra ver a neve.
Antes de entregar o bombom à Rosa, ele desliga o som, depois vai até ela a cobre com o edredon e se abaixa.
C: Rosa...
R: Hummm?
C: O bombom, chérie...
R: Ah... sei, o bombom...  - Ela estende a mão e pega o bombom – Deita aqui pra me esquentar... tá muito frio... – Sua voz é sonolenta.
C: Rosa... você non vai comer o bombom, non é?  Rosa!
R: Hummm, que foi, amor?- Diz, praticamente dormindo... com o bombom na mão...
C: O bombom... me dá aqui, hã? Vamos dormir... - Ele se deita ao lado dela, bem juntinho, debaixo do edredon.  E sussurra: Quand je m'endors contre ton corps Alors je n'ai plus de doute...L'amour existe (Quando adormeço contra teu corpo, então, não tenho mais dúvidas...o amor existe)... Je t'aime…
R: Te amo também, Claude! - Ela se ajeita no corpo dele e são as últimas palavras antes de adormecerem.

Na manhã seguinte, assim que acorda, Rosa retira todas as rosas dos vasos e as embrulha. Claude desperta e a observa.
C: Chérie, porque tá embrulhando as rosas?
R: Não imagina para onde elas vão?
C: Ah! Oui!  Para o baú dos tesouros, d’accord!
R: Melhor nos apressarmos, o vôo sai dentro de três horas.
Eles decidem tomar o café no Aeroporto em companhia de Sérgio e Roberta, enquanto se despedem.

Na hora prevista, o vôo é anunciado. Claude e Rosa seguem para a sala de embarque, de volta ao Brasil.
O avião em que Rosa e Claude viajam aterrissa em Guarulhos, no horário previsto. Assim que entram pelo saguão de desembarque, eles avistam todos: Dadi, Rodrigo, Frazão e Janete, D. Amália e S. Giovanni, com João e Anna, que, ao verem Claude e Rosa, saem correndo ao seu encontro.
Am: Crianças!!! João! Anna! Não corram! Meu Santo Antonio, agora que deveriam, eles não obedecem.
G: Agora eles estão com os pais, Amália.
Claude e Rosa se abaixam, na altura das crianças, e as abraçam, beijam, fazem cócegas nos dois “ao mesmo tempo”.
R: Meu Deus! Que saudades, que saudades de vocês, meus amores!
João: Papai, mamãe “cegalam”.
Anna: Eu “quelo” a mamãe!
C: Mon dieu! Quinze dias apenas e eles parecem maiores, eston mais falantes.
E cada um vai para um colo. Eles caminham até os amigos que ali estavam.
J: Rosa, minha amiga! Você está linda! Ui! A França ou o francês te fizeram bem, hem?
R: Janete! Olha as crianças! Rsrsrs - Linda está você com essa barriguinha. Já sabem o sexo?
J: Frazão não quer saber, quer ter a surpresa do momento. Mas, agora eu te entendo amiga: tem dias que eu me sinto uma elefanta de tão devagar que eu ando, sem contar o tamanho, né?
R: Falta pouco, não é? Dois meses?
J: Acho que nem isso, Rosa. Uns quarenta dias no máximo, é o que eu aguento! Rsrsrs
F: Claude, meu querido...Você está com uma cara ótima! Pelo jeito, pelo visto a França rendeu!
C: Frazon, mon ami. Prazer revê-lo, hã? Mas hoje nem suas piadinhas von me aborrecer, oui?
F: Rosa, você está encantadora!
J: Claude, que bom que voltaram!
Depois, eles cumprimentam D. Amália e S. Giovanni, e Dadi.
D: D. Rosa, Rodrigo tá fazendo sinal que já pegou a bagagem de vocês. Podemos ir quando quiserem.
R: Ah, que bom, Dadi. – Ela se volta para os pais – Vocês vão lá pra casa, não?
Am: Não, filha. Vocês estão cansados da viagem, com certeza querem descansar e matar a saudade desses dois pedacinhos de gente. Outro dia, a gente vai, não é, Giovanni?
G: É vero, Amália. Filha, descansa com tuo marido, sim?
Enquanto conversam, eles caminham para o estacionamento.
R: Bom, então, até amanhã! – Ela se despede de todos – E obrigada por tomarem conta dos meus filhotes.
Eles se despedem mais uma vez.
Claude, Rosa e os gêmeos – ops! - João e Anna - seguem com Dadi no carro de Claude. As crianças, claro, nas cadeirinhas.
Rodrigo leva S. Giovanni, D. Amália e a bagagem.
Frazão e Janete em seu próprio carro.

Já esta anoitecendo, quando eles, finalmente, chegam em casa.
D: D. Rosa, esses dois se comportaram muito bem, visse? Não deram um pingo de trabalho.
R: Que bom, Dadi!  Dadi, eu nunca vou poder retribuir o suficiente para o que você faz pela gente. Você é muito especial, sabia?
D: Que isso, D. Rosa! Faço tudo de coração, vocês são a minha família. E agora a senhora me diga o que eu faço pro jantar?
R: Faz só um lanche, Dadi. Um lanche leve! E deixa eu ver o que o Claude tá aprontando  com aqueles dois.
Quando Rosa entra na sala, Claude está sentado no chão com João e Anna, mas de costas para ela e não percebe a sua entrada.
C: Mon Dieu! Se a mamãe nos pega fazendo isso... hummm, ela non vai gostar nenhum pouquinho, hã, hã! – Diz, balançando a cabeça negativamente.
R: O que é que eu não vou gostar, Dr. Claude Geraldy? O que você tá aprontando com eles?
C: Nada, non chérie! – Ele coloca o bombom inteiro na boca, enfia o papel no bolso e se levanta rapidamente, tentando “esconder” os gêmeos. Rosa vai se aproximando.
R: E por que minha necessaire está aberta... Claude você tá...
C: Calma chérie...  A Anna, ela...
Mas João sai detrás de Claude com a boca suja de chocolate e um pedaço na mão... Olha pra Rosa e diz, sorrindo:
João: “Qué”, mamãe? - E Rosa, que já ia se zangando com Claude, não contém um sorriso.
R: Não, meu amor, esse é seu!  O papai já ia dar um pra mim também, antes do jantar, não ia, papai? – diz olhando pra Claude.
C: Claro, chérie. - Ele pega mais um bombom, desembrulha, se aproxima de Rosa, o coloca em sua boca e diz baixinho - Pardon, Anna abriu sua nécessaire e viu os bombons... Eu non resisti aos pedidos deles, hã? – Diz, colocando o cabelo dela para trás, num carinho.
R: Pardon... pardon... Só vou te perdoar, porque... porque.... Esse bombom é muito bom mesmo!  Hummmm! E senhorita Anna Geraldy – ela olha pra Rosa – Quantas vezes eu já disse pra não mexer nas coisas da mamãe, hã? Tem que pedir primeiro!
Rosa pega os bombons restantes, fecha a nécessaire e fala:
R: Todo mundo lavando as mãos! Pensando bem, acho melhor um banho, pra limpar esse chocolate todo das mãos. Dadi tá preparando um lanche e nós vamos comer e depois... hora da história!!
Assim que o lanche fica pronto, eles comem, depois ficam na sala brincando com as crianças, até que elas se cansam e dormem exaustas.
Claude e Rosa os levam para seus quartos. Então, é a vez deles se banharem e, mais que exaustos, dormirem também.

Quarenta e cinco dias depois, Rosa e Claude chegam ao escritório, após o almoço e depois de visitarem Janete, que havia dado à luz naquela manhã.
R: Frazão tá todo bobo, igualzinho a alguém que eu conheço ficou! – Diz olhando para Claude – Mas também não é para menos. O Pedrinho é lindo!
C: Realmente, o Frazon é muito bobo, mas finalmente ele ficou sem palavras pra fazer piadinhas, hã? Pedro Henrique... gostei do nome de nosso afilhado.
R: A Janete está tão feliz! Pra quem estava com medo de ser mãe, não dar conta... rsrrs  Não demora muito e eles tem outro.
C: Oui, também penso isso. E nós? – Ele puxa Rosa de encontro a seu peito – Quando teremos outro?
R: Nós? Hummm, assim que a cegonha trouxer a resposta.
C: Mon Dieu! Você non está pensando em arrumar outra atriz vestida de cegonha, hã, chérie?
R: Por que não? Se o resultado for positivo, estamos perto da Páscoa, pode ser uma coelhinha no lugar da cegonha.
C: Hummmm, resultado positivo, é? E se non for a gente pode tentar outras vezes, quantas forem necessárias. – Ele desce seus lábios até os lábios dela num beijo delicado, mas não sem desejo. Suas mãos a apertam ainda mais para si.
Rosa o abraça e suas mãos logo procuram os cabelos dele.
R: Quer dizer que se for positivo, você vai me dar folga? – Ela diz bem baixinho junto ao ouvido dele.
C: Folga? Esta é uma palavra que desconheço com relaçon a você, hã? Quer dizer que te dou muito trabalho? – Pergunta.
R: Ah, dá sim! Mas é um trabalho muito prazeroso, se é que me entende. E o envolve num beijo apaixonado.
C: Eu adoraria prosseguir com isso, mas preciso te mostrar uma coisa. - Ele se afasta, pega um envelope sobre a mesa e volta – Vêm aqui, vamos sentar no sofá.
R: Nossa! Um envelope tamanho ofício. O que é?
C: Abre e lê!
Rosa abre o envelope e retira alguns papéis. Conforme vai lendo, desvia seu olhar para Claude com um sorriso e volta a ler.
R: Eu não acredito! Como você conseguiu isso?
C: Antes de irmos para a França, eu pedi ao Freitas e ao Antoninho que estudassem essa possibilidade e eles conseguiram essa autorizaçon especial com a ajuda da Vera, assistente da Janete.
R: Meu Deus! Claude, você tem noção do que tá me proporcionando? Esse sempre foi o meu sonho: restaurar o casarão!
C: D’accord, eu sei disso, chérie... Mas com o tombamento do casaron, teria que haver licitaçon, muita burocracia. E o Freitas encontrou uma brecha na lei e conseguiu essa autorizaçon, já que a construtora se compromete a arcar com os custos.
R: Mas, Claude...
C: Rosa, é o mínimo que eu posso fazer, hã? Você foi a responsável por meus sonhos se realizarem, agora é a minha vez de realizar o seu.
R: E como vamos fazer isso com meus pais por lá? Eu conheço S. Giovanni, ele não vai querer sair de lá nem por decreto.
C: Eu já pensei nisso também. E achei uma soluçon: eles viajam em uma lua-de-mel atrasadinha.
R: Viajar? Meu pai? O mais longe que ele já viajou foi...
C: Itália. Eles vão pra Itália, chérie. Eu vou presenteá-los com isso: um mês passeando pela Itália. Que você acha?
R: O que eu acho? Sempre foi o sonho da vida dele, levar minha mãe até a Itália, onde ele nasceu.
C: Eu já providenciei tudo, mon amour. Bem, eu non, hã? O Antoninho: passaporte, hospedagem, até um interprete pra eles, mas parece que Roberta e Sérgio vão estar por lá e tem seu irmão que está jogando por lá, non tem?
R: Sim.
C: Enton, só falta avisá-los. Depois, quando eles voltarem, ficam no nosso apartamento, até concluirmos a obra. E o pessoal de lá também vai ganhar com isso, hã? Eu pensei em fazer uma lavanderia, já que eles usam o mesmo espaço. Bem, a gente vai dar uma reformada geral. Ah, sim! Você tem que fazer o projeto da restauraçon pra podermos encaminhar ao Departamento de Engenharia e Arquitetura da Prefeitura. Depois que eles apostilarem, voilá!
R: Meu amor, você faz idéia do que isso significa pra mim? – Diz ela, com os olhos brilhantes. – do quanto isso me faz feliz?
C: Oui, sei muito bem e é isso que eu quero: ver você feliz, chérie! E acaricia o rosto dela.
R: Pois, você me deixou muito, muito feliz! – Ela retribui o gesto – E esta noite eu prometo que você vai ficar feliz também.
C: Humm, essa noite é? Isso quer dizer uma noite especial de amor?
R: Isso é uma surpresa, mas garanto que tem amor no meio dela. Mas, agora eu vou começar o projeto então. Ah... não vai dar, eu preciso das plantas originais.  A Silvia me faz uma falta agora que ela é assistente do Gurgel.
C: Acontece, mon amour, que eu sou  um homem prevenido... a Fernanda,  que ficou no lugar de Silvia, já providenciou isso.
R: Sério? E onde estão essas plantas?
C: Na sua sala, chérie, esperando por você. – Rosa caminha até a porta rapidamente, mas assim que vai abri-la, ela volta até Claude.
R: Eu não sei se mereço tanta felicidade! Obrigada, eu te amo! Diz, beijando ele e saindo em seguida pra sua sala.

Algumas horas depois...
C: Rosa... chega por hoje,  hã?
R: Só mais um pouquinho, amor, to quase acabando.
C: Você me disse a mesma coisa há uma hora atrás, chérie. Vamos, já é tarde e João e Anna já devem estar cansados de nos esperar. Daqui a pouco é a hora da história e non estamos lá. Eu adoro essa hora de contar histórias pra eles.
R: Tá certo, você tem razão.  Isso pode esperar até amanhã. Mas nossos filhos não... Pega a minha bolsa ali pra mim. – Pede, enquanto desliga o computador e guarda os projetos na gaveta. – Pronto! Vamos.

Assim, eles voltam para casa. Quando chegam, João e Anna já jantaram.
D: Olhe, d. Rosa, pensei que iam demorar, já são quase oito horas. Eles jantaram agora a pouco. Fiz mal?
R: Não, Dadi! Fez certo! Eu é que me atrasei, desculpa, eu me empolguei com um projeto, Dadi. O projeto da restauração do casarão!
D: Dr. Claude conseguiu? Ele tava tão preocupado com essa resposta... disse que era uma surpresa pra senhora.
R: E foi mesmo, então você sabia e não me falou nada?
D: D. Rosa, eu tenho boca de siri, esqueceu? Rsrsrs
R: Sei... boca de siri... tá bom...
C: Ah, isso ela tem mesmo. Eu ainda me recordo de alguns segredinhos que vocês compartilharam, hã?
R: Bom, mudando de assunto... Vamos ficar com eles, brincar um pouco, depois que eles dormirem, a gente janta.
C: D’accord, chérie. Vamos lá!
Assim, eles ficam na sala de estar, brincando com as crianças por algum tempo. Na hora das crianças dormirem:
R: Hoje é dia de contar história em dupla, você escolhe ou eu?
C: Pode escolher, chérie, eu confio no seu gosto.
Mas antes que Rosa escolhesse, Anna pega um livro da mesinha e fala:
A: Esse aqui, mamãe! – E coloca o livro nas mãos de Rosa.
R: A Gata Borralheira... – Diz Rosa em voz alta.
C: Gata Borralheira, é? Isso me lembra uma certa noite por aqui mesmo, hã? E acaricia Rosa, dando um selinho nela.
R: Amor... cuidado... João e Anna...
C: O que tem eles, chérie? Eles ton vendo que eu te amo, hã? E vou beijar eles porque também são meus amores. – Ele beija os dois e os coloca na cama. Cada um na sua. – Agora vamos ler pra eles, você começa?
História da Gata dos irmãos Grimm …O Primeiro Livro a contar a história foi publicado em 1812, na Alemanha.
Contam ser esta a verdadeira História inspirada na sabedoria popular. Ela lembra que a grandeza da alma resiste às cinzas da humilhação e que o bem-estar e a sabedoria também se conquistam através do contacto com os Animais e a Natureza. A narrativa tradicional da Gata Borralheira possui equivalentes em diferentes épocas e geografias. Os Grimm trouxeram-na da Alemanha; mas no Egipto ela é a Cortesã Grega a quem uma Águia rouba o sapatinho para o fazer voar até aos aposentos do Faraó. Este também promete casar com a misteriosa donzela. No Vietnam, a história assume o título de Bo Than, com a heroína rezando a Buda …  … conheça mais de perto a verdadeira História dos Irmãos Grimm …”
Apesar de aparentemente destinados a crianças e serões caseiros, estas narrativas foram recolhidas da tradição oral do alemã onde se congregam influências francesas, sérvias e indo-europeias em pleno Romantismo oitocentista… Aprendi a contá-la mais ou menos assim 
“Era uma vez um homem muito rico e feliz que tinha uma única filha muito suave e bela. Passado um tempo, a sua boa esposa e mãe da menina adoeceu gravemente. Antes de morrer, ela chamou a filha para perto de si e disse-lhe: “Minha filha, minha menina tão amada,  peço-te que sejas sempre boa e generosa como eu mesma sempre desejei ser. Vou viajar para muito longe, mas quando chegar ao Céu, pedirei a Deus que te acompanhe e velarei sempre pelo teu bem“.
Rosa passa o livro para Claude.
C: Apesar do sofrimento, a menina assim prometeu fazer e todos os dias visitava o lugar do túmulo da Mãe. Era lá que chorava a sua solidon e a saudade. No Inverno seguinte, aquele lugar silencioso ficou coberto de uma neve ton espessa que só os raios primaveris foram capazes de derretê-la ...”
(...)
R: A boa menina trabalhava intensamente: lavava, esfregava, varria, amassava, costurava, ia buscar água ao poço, carregava lenha e atendia a todas as exigências da madrasta e suas filhas.  Extenuada e sem aconchego, adormecia diariamente à beira da lareira, bem perto do borralho que lhe enfarruscava as roupas, as mãos e o rosto. Foi assim que as três maldosas começaram a chamar-lhe Gata Borralheira.
(...)
C: Quando entrou na sala, todos ficaram espantados, incluindo a madrasta e suas  filhas que desconheciam a identidade da formosa desconhecida. Quanto ao Príncipe, ficou maravilhado com a sua beleza e dançaram toda a noite. Um pouco antes do final da festa, a menina correu em direçon ao bosque e aí se escondeu para devolver os seus sapatinhos e o vestido encantados
(...)
R: Com a pressa em regressar a casa, a jovem menina esquecera afinal um sapatinho dourado na escadaria. O Príncipe pegou nele com ternura e prometeu encontrá-la.
(...)
R: O Pai de Gata Borralheira mandou chamá-la e, para espanto de todos, a menina calçou o sapatinho sem qualquer dificuldade.
(...)
C: Eles casaram e foram felizes para sempre, o que non aconteceu ao Pai, à Madrasta e suas filhas maldosas que foram expulsos pelos outros habitantes. Quanto à Princesa Gata Borralheira, ela continuou sempre a ser boa,  amando e sendo piedosa. E, sobretudo, visitando a Avelaneira e a Pomba junto ao túmulo da sua Mãe.
João e Anna  já estavam quase dormindo. Rosa e Claude dão um beijinho neles, dizem boa noite e saem do quarto.
R: Nossa, eles dormiram logo hoje, devem estar exaustos. Amor eu acho bom a gente contratar uma babá de novo, assim, a Dadi fica mais tranquila, eu sei que ela gosta deles, como se fosse avó mesmo e isso não vai mudar. É só pra ela não se cansar demais.
C: D’accord. Mas Dadi vai estar sempre vigiando a babá... rsrss, você vai ver... Vamos comer alguma coisa?
R: Vamos, tô morrendo de fome.
Eles fazem um lanche e depois vão para o quarto. Rosa entra primeiro no banho e sai de roupão.
C: Chérie, você non está esquecendo de nada? – Pergunta Claude, indo em direção ao banheiro.
R: Não, não que eu me lembre... rsrsrs – Responde, sem olhar pra ele.
C: Oui, você é uma graça quando faz piadinha. As palavras “noite e  feliz” non te fazem lembrar alguma coisa?
R: Ah sim. Eu lembro da  música: “Noite feliz... noite feliz... Oh senhor... la lala lala la lalala lalala...”
C:  Mon Dieu... melhor eu tomar um banho frio, hã? E entra no banho sem esperar pela resposta de Rosa, que sorri, pega um envelope da gaveta da cômoda, retira o roupão que escondia uma camisola azul na altura dos joelhos, mas com um decote frontal  generoso e as costas toda trançada com fitas.
Ela esconde o envelope embaixo do travesseiro, apaga a luz, deixando só o abajur iluminando o quarto e  senta como uma sereia na cama, esperando por Claude.
Momentos depois, ele sai do banho, cabelos molhados, só de short, com o roupão aberto e vai direto pro seu lado da cama, sem falar com Rosa.
R: Você vai deitar com o cabelo assim?
C: Ah! Você ta aí? Boa noite, hã? – E vai se deitando de costas pra ela.
R: Claude, você tá bem? Eu fiz alguma coisa errada? Falei alguma coisa que não devia?
C: Eu estou ótimo. Você que parece ter adquirido uma amnésia súbita sobre essa noite.
R: Claude...
C: Non. Pensando bem, você falou algo, mas non fez nada. Algo sobre me fazer feliz essa noite. - Claude continua sem olhar pra ela.
R: Ah... é isso... Mas, a nossa noite ainda nao acabou. Ela mal começou, a não ser que você não queira, porque eu sei muito bem o que eu quero e não tenho nenhum problema de amnésia súbita não.
C: Hum, enton, é uma vingançazinha tardia pela nossa noite na França?
R: Amor, eu nem tinha pensado nisso, eu só queria fazer um suspense. – Ela se inclina sobre ele -  Desculpa,  olha, você nem reparou na minha camisola nova, hum.
C: É azul e  muito decotada; você non devia andar com ela por aqui, fica difícil  pra eu resistir, hã? –Diz, se virando sobre a cama de frente  pra ela.
R: Nossa,  você viu tudo isso sem olhar pra mim?
C: E quem disse que eu non olhei pra você, chérie? Foi quase impossível, mas eu desviei a tempo de non me hipnotizar. Você fica deliciosamente sedutora de azul, sabia? – E seus dedos passeiam pelo braço de Rosa.
Ele a puxa para perto e a beija, ardentemente.
R: Na França, você me deu rosas azuis, que significam o  verdadeiro amor:  eterno, raro, forte,  ou o alcance do impossível, não é  isso?
C: Oui. Por isso você está de azul?
R: É que eu também quero te dar algo azul, mas não é a camisola, é outra coisa.
C: Hummmm... outra coisa é? Enton, talvez eu deva procurar.
R: Não, pára, Claude! Não é isso... ainda não. – Diz, mordendo o lábio inferior -  É isso aqui – E  retira o envelope que está sob o travesseiro.
C: Uau... hoje é o dia dos envelopes e das surpresas... O que tem aqui? – Pergunta,  pegando o envelope das mãos dela e sentando na cama.
R: Abre e olha, se eu falar perde a graça e não seria mais surpresa.
Rosa volta a sentar sobre as pernas e fica observamdo a reação de Claude, enquanto ele abre o envelope e  encontra um cartão com três rosas brancas em alto relevo.
C: Um carton  com rosas brancas. – Ele olha pra Rosa -  Você disse azul...
R: Abre o cartão.- ela apoia as mãos nas pernas dele - As brancas não são a pureza dos nossos filhotes? – Completa ela.
Claude abre o cartão e encontra uma tirinha colada com a extremidade azul, onde se lia : POSITIVO e logo abaixo uma frase:
De duas vidas que se amam, uma nova vida  se fez... outra vez.. .. Te amamos...

S. Rosa P. Geraldy...& Cia Ltda”
Claude levanta os olhos pra Rosa, visivelmente emocionado:
C: Chérie, isso signif...
R: Que a cegonha escuta muito bem e gosta de você, porque ela sempre atende aos seus pedidos e alguém mais vem chegando. – Rosa coloca as mãos sobre seu ventre, sem deixar de olhar nos olhos do marido.
C: Mon Dieu! Isso é... maravilhoso, hã? Tem certeza?
R: Absoluta... Eu acho até que ela já veio da França com a gente.
C: “Ela”? – Claude se aproxima ainda mais de Rosa.
R: Hum hum... – é tudo que Rosa consegue falar, entre os beijos que Claude vai dando em seu rosto, pescoço, boca. 
Quando o beijo termina, Claude olha pra ela e diz:
C: Você realmente tá me fazendo muito feliz essa noite e eu também non sei se mereço tudo isso, mas amor non vai faltar... nunca... nem pra você, nem pra nossos filhos... te amo, Rosa...
Então, ele se abaixa até o ventre dela e a beija ali, por cima da camisola, subindo aos beijos até alcançar a boca de Rosa, num beijo que valia por três... Suas mãos seguem o caminho de sua boca, acariciando Rosa, que já enlaçava Claude pelo pescoço num gesto que ele tanto gostava...
Alguma horas depois, Rosa desperta, ouvindo o choro de Anna. Ela se levanta e coloca o roupão.
C: Que foi, Rosa? Non tá passando bem? – Pergunta ele, sentando-se na cama.
R: É Anna... ela ta chorando... Vou ver o que ta acontecendo.
C: Espera... eu vou contigo, hã? Ele se veste e acompanha Rosa até o quarto das crianças.
Quando entram, Anna está dormindo, mas está agitada.
C: Ela tá sonhando... Mon Dieu... e deve ser um pesadelo, hã? – Eles se aproximam e se abaixam.
R: Anna... Anna, querida, acorda. Mamãe tá aqui... papai também...
C: Filha, que foi, hã? Chérie, ela ta toda suadinha... mas non tem febre – Diz, colocando a mão  na face de Anna.
R: Vou pegar outro pijama pra trocar ela.
Anna acorda e assim que reconhece Claude, o abraça e depois chama por Rosa.
R: Eu estou aqui, filha.
A: Cadê a gata borralela e a mamãe malvada dela? – Pergunta choramingando e olhando para os lados.
R: Ah... você estava  sonhando com elas, meu amor? Elas já foram embora, viu... vamos trocar essa roupa, vem... – Rosa troca rapidamente Anna.
A: Tô com medo... ela quelia  me pega... a mamãe má...
C: Xiiiii – Claude abraça Anna – Non tem ninguém aqui, hã? Vamos dar uma voltinha, antes que o Joon acorde. - Ele pega Anna e desce até a sala, seguido de Rosa.
R: Eu vou fazer um leitinho morno pra ela.
Enquanto Rosa vai até a cozinha, Claude fica com Anna na sala, folheando uma revista que estava sobre a mesa, tentando distraí-la.
R: Pronto... olha só... a mamãe pôs o leite no seu copinho preferido. E tá uma delicia!
Anna pega o copo e toma o leite, ainda no colo de Claude. Depois devolve o copo pra Rosa e deita sua cabeça no ombro do pai, abraçando-o pelo pescoço, já mais calma.
C: Isso, agora meu anjinho vai voltar a dormir, hã? Eu vou passear com você até o soninho voltar.
Claude anda com Anna pela casa toda até que ela durma novamente. Ele sobe e a coloca na cama e volta a descer, pois Rosa não subiu com ele.
C: Rosa? Porque non subiu conosco, hã?
R: Me deu vontade de comer alguma coisa... mas não sei o que... – E procura pelo armário, na geladeira...
C: Mon Dieu... você non vai começar com geléia de goiaba de novo, hã? Rsrs
R: Não... acho que não... Chocolate! É isso!- Diz, pegando uma caixa de bombom.– Quer um?
C: Oui, bombom é nossa marca registrada... nossa “bandeira branca”.
Eles voltam para a sala e vão para o sofá. Rosa abre a caixa de bombons. Ela escolhe um e passa para Claude. Ele desembrulha o bombom e coloca o papel dentro da caixa, mas Rosa pega de volta.
C: Chérie, non me diga que você ainda guarda os papéis de bombom que a gente come.
R: Todos eles e eu tive uma ideia: eu vou transformá-los num quadro e por no nosso quarto. Arte Contemporânea... rsrsrs... Assim, se a gente  brigar ou discutir pode sempre  ver o nosso lado mais doce... e fazer as pazes.
C: D’ accord... Sabe, esse bombom me deu uma vontade enorme de fazer as pazes contigo. - A voz dele é só desejo.
R: Ah é? Que pena que a gente não brigou, não é? – Responde provocadora.
C: Nesse caso, a gente pode inventar... fingir que brigou, que você acha? – Ele se aproxima dela no sofá. – Porque, na verdade, eu quero mesmo é fazer amor contigo. – Diz, roçando sua barba no pescoço dela...
R: E pra fazer amor a gente não precisa brigar...
Depois de algum tempo, desejo saciado, eles conversam. Claude acaricia os cabelos de Rosa.
R: Isso foi loucura. Já pensou se a Dadi entra e vê a gente?
C: Hum, hum... eu adoro fazer loucura com você. E Dadi... ela teria dado meia volta e ido embora como sempre fez, hã?
R: Mas ela só pegou a gente assim num carinho. - Claude olha pra ela com um sorriso safado - Tá você venceu... nuns  amassos também, mas nunca assim como ficamos hoje.
C: Dadi é discreta, sempre foi, Rosa.  Lembra aquele dia da piscina no apartamento? Foi por causa de um bombom também, hã?
R: Meu Deus! Eu fiquei tão desconcertada. – eles se olham e caem na risada.
C: Ela já sabe da cegonha? – Pergunta, acariciando a barriga de Rosa.
R: Não, dessa vez, você é o primeiro a saber.
C: Voila! Eu posso contar pra ela? – Eles entrelaçam as mãos.
R Claro que pode. Amanhã, quero dizer, daqui a pouco você fala dela pra Dadi.
C: E porque você tem tanta certeza que vai ser ela?
R: Não sei, apenas sinto. E dessa vez você escolhe o nome!
C: Mon Dieu! É muita responsabilidade. Deixa eu pensar... você já usou o nome de seus pais e de minha mãe. Enton, restam o nome de minhas avós. “Charlote”, mãe de meu pai... non... é o nome de um doce ela vai ter problemas; já  “Déborah”, mãe de minha mãe é um lindo nome. “Déborah Amália Petroni Geraldy” que tal?
R: Amei! E você ainda se lembrou de minha mãe! Como é que eu posso não amar você? Ela também gostou.
C: Mon amour, é ton pequenino ainda, como você sabe que gostou? Non pode ter se mexido.
R: Não, ela soprou aqui no meu ouvido. Como se fosse um anjo. Nosso anjo.
C: Oui, agora eu vou ter quatro anjos em minha vida – ele desliza os dedos pelo rosto dela, que faz o mesmo com ele.
C: E se for menino?
R: Não vai ser. “É” uma menina.
C&R: Eu te amo. - E acabam adormecendo no sofá.

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