quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 8 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

VIII

Até que a risada virou um silêncio perturbador...
- Estou começando a achar que minha tia tem razon...  Você mexe com a química do meu corpo, gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer, Rosa...
- Eu sei...
Foi tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se abrirem e invadir a sua boca...
- Misericórdia! – Escutam a voz de Dadi, parada na porta da casa – Eu ouvi o barulho, vim correndo... é... acho melhor ir embora...
- Não, Dadi! Espera, não é nada do que você está pensando! - Fala Rosa, saindo abruptamente de cima de Claude – A escada tombou e eu caí sobre o Claude...
- D. Rosa, vocês não precisam me dar explicação nenhuma, visse? Eu vou voltar pra minha cozinha...
- Dadi, não! Espera... – Mas Dadi já estava distante.
- Droga!  O que ela vai pensar agora?
- Que interrompeu a nossa diverson talvez?
- Diversão? Estava apenas se “divertindo” comigo?– Pergunta indignada.
- Você sabe que non foi com essa conotaçon que eu quis dizer, gatinha...
- Oras, seu...  seu grosso, estúpido e... aproveitador de mulheres indefesas!
- Você está longe de ser indefesa! – E admita, se aproveitou da situaçon tanto quanto eu!
Um intenso rubor atingiu as faces de Rosa. No fundo, sabia que ele tinha razão. O que mais teria acontecido se Dadi não tivesse aparecido ali?
- Isso não vai mais acontecer, tenha certeza! – Falou Rosa, zangada.
- Perto de você non existe certeza, gatinha!  E por que está tentando se enganar? Nós sabemos que isso vai se repetir! Mais cedo ou mais tarde, vai acontecer de novo...
- Não se eu puder evitar!
- Rosa, nenhum de nós quer, mas non conseguimos evitar,  já reparou nisso?- Diz, fazendo uma careta de dor, tentando levantar-se.
Sem saber por que, Rosa se ouviu dizendo:
- Quer que eu o ajude a levantar-se?  - E aproxima-se dele estendendo a mão.
- Non! Quero distância de você, d’accord? Dis-tân-cia! Você é muito perigosa!
- Pelo jeito, você não está tão mal quanto me fez pensar! – Fala secamente.
- Depende o que você entende por “mal” nesse momento... – Diz num tom que não deixava dúvidas ao que se referia.
- Você é desprezível! Insuportável!  E eu achando que tinha se machucado seriamente... Quer saber? Dane-se!
Rosa não espera pela resposta de Claude e sai praticamente voando dali. Sabia que se ficasse, acabariam um nos braços do outro. E isso era algo que ela não permitiria novamente! O que estava acontecendo com ela? Nunca fora assim com ninguém! Nem mesmo com Júlio! 
Ele nunca lhe proporcionara nem um décimo das sensações que Claude provocava em seu corpo.
Cruzou o pátio da piscina, sentindo o olhar dele sobre seu corpo. Desde o começo sabia que Claude era o problema. Um problema para o seu coração. Mas com ele seria apenas aventura, tinha certeza disso!E não estava preparada para ser uma simples aventura de alguém... Ou estaria?! Ele não parecia o tipo de homem que se casaria por amor!
- “Mas quem está falando de amor?” – Pensou – “É como ele diz, apenas uma reação física! Que poderia ser resolvida se nós... Deus o que estou pensando?”
Claude a seguiu com o olhar até que ela entrasse na casa sede. O traseiro lhe doía. Havia caído sentado em cima de uma caixa de garfos! Por sorte, nenhum penetrara sua pele devido à calça jeans... Estava confuso. Até onde teria ido se Dadi não tivesse aparecido?
E sabia a resposta, teria ido até o fim! Mas havia algo mais naquele desejo que sentia por Serafina Rosa... Desde o começo, sabia que ela seria um problema. Um problema para o qual não estava preparado. Porque com ela, não seria apenas uma aventura. Com ela seria casamento e filhos e... amor!
- Non! É somente desejo!
Rosa entrou na casa sede pela porta da sala.  Ao cruzar a sala de jantar, encontrou a tia de Claude. Pode notar que Elisabeth olhava para cartas de tarô sobre a mesa e sorria.
Sorriu também. Elisabeth era uma figura!  Estava vestida a caráter, ou seja,  com uma saia estilo cigano, blusa com mangas fofas e um lenço mega colorido na cabeça todo bordado com pedrarias.
- Aonde vai assim tão apressada, fugindo do destino? Que foi que Claude fez pra você agora, darling?
- Como sabe que ele fez alguma coisa?
- Então estou certa, não é? Estou lendo seu corpo: sua aparência, rosto corado, olhos brilhantes e... seus gestos, seu sorriso, influenciam na maneira como uma pessoa reage a você. Mas o modo como você diz alguma coisa é três vezes mais importante do que as palavras que usa... Acabou de fazer isso, chérie.
- Seu sobrinho é um insuportável, Ms. Smith! Toda vez que ele está por perto, acontece alguma coisa e a gente cai, geralmente, de uma forma muito... muito constrangedora e pra ele eu sou sempre a culpada!
- Hummmm... acidentes constantes... Isso é acúmulo de energia, mon cher! E só tem uma maneira de resolver: na cama. E non fique com essa carinha envergonhada, meu bem. Isso é a coisa mais natural entre um homem e uma mulher!
- A senhora é sempre tão direta! Admiro isso! – Fala, sentando-se na  cadeira em frente à Elisabeth.
- Darling, senhora está no céu, como vocês brasileiros dizem, hã? Me chame de você, de  tia Elisabeth... Afinal é o que vou ser mesmo! Você e Claude ainda vão se entender!
- Com certeza, no dia que eu entregar a obra.
- Non... As cartas non mentem, Rosa! E aqui mostra você e ele juntos...
- A senhora acredita nisso mesmo? – Pergunta, apontando para as cartas sobre a mesa.
- Minha tia acredita até em duendes, elfos e fadas. Por que non acreditaria em cartas de tarô? – A voz de Claude é levemente irônica.
- Sente-se aqui, Claude Antoine, e escute bem o que vou falar. – O tom de Elisabeth era o tom de quem dava uma ordem e mesmo contra sua vontade, ele sentou-se ao lado de Rosa.
- Para sua informação, o tarô é um jogo de cartas jogado na França, inclusive com regras próprias. Mas, desde o século XVIII essas cartas passaram a ser usadas para a previsão do futuro  e atualmente elas são o centro  do esoterismo moderno ao lado da Cabala, da astrologia e da alquimia medieval.
- Particularmente, acho o pôquer mais interessante, titia!
- Sempre com sua ironia e descrença, non é, Claude Antoine?  Pois bem, eu lhe digo que aqui – E aponta para as cartas - eu vejo o seu fim: casamento. E por amor, d’accord? Nada de conveniências como você queria fazer...
- Só falta dizer que será com dona Serafina Rosa!
- Ohhh! Parece que você já sabe disso! Maravilha!
- Mon Dieu, titia, non confunda as coisas, hã? E pare de querer adivinhar o meu futuro! Ele non pode ser ao lado dessa pessoa!
- E não pode por quê? – Rosa sente-se ofendida pela maneira que Claude fala- Não tenho nenhuma doença contagiosa, sabia?
- A non ser me derrubar!  Exatamente o que acabou de fazer! E sabe onde eu caí? Sobre uma caixa de talheres, garfos para ser mais preciso. Nem quero pensar se um deles tivesse atingido o meu... amiguinho. Você parece ter prazer nisso! Já o acertou por duas vezes...
As palavras saíram naturalmente, mas não foram as mais adequadas para o momento. Rosa fica extremamente vermelha, enquanto Elisabeth, que ouvia tudo de camarote, solta uma exclamação:
- Ulalá!
- Como se eu tivesse culpa! As duas vezes foi você que atravessou o meu caminho!  E pode ter certeza não senti  nenhum prazer nisso! – Ela fica em pé, agitada.
- Non mesmo? Non foi isso que senti na sua reaçon enquanto nos beijamos! – Ele acompanha o movimento de Rosa.
Os dois ficam frente a frente, numa batalha pessoal.
- Fui pega de surpresa, apenas isso. Não tive tempo de prevenir meu corpo contra suas investidas...
- Ah é? Enton tente se prevenir agora! – Diz, segurando-lhe a cabeça entre as mãos e beijando-a ardentemente. Isso bastou para que Rosa ficasse trêmula e assim que tomou consciência disso, empurrou-o com toda sua força, dizendo: 
- Chega! Você não tem o direito de fazer isso comigo! - E sai correndo, sem ver o que acontece...
Claude cai sobre cadeira que cede ao impacto e acaba no chão.
- Mon Dieu, ela conseguiu de novo! – Exclama apoiando-se na mesa para levantar e encontrando o olhar de satisfação de tia Elisabeth - Eu a proíbo de fazer qualquer comentário, muito menos que isso estava escrito nas cartas!
E sobe a escada, rumo ao seu quarto, de cara amarrada.
-Well... Um bom tarólogo é aquele que integra conhecimento com intuição.E eu conheço quando um coração está pronto e aberto para o amor...  O meu radar está captando esses sinais e as cartas confirmam... Ainda teremos muita confusão! Rsrsrsrrs!
Uma semana depois, Rosa, aos poucos e com a ajuda de Milton, nas horas de folga, havia retirado quase todos os móveis da casa da piscina. Claude não tinha mais se aproximado dela, mas vigiara de longe essa ajuda.
O sábado chegara e a equipe havia voltado para a cidade. Há quinze dias fora de casa e na solidão noturna da fazenda, foram dispensados por um fim de semana. Até porque as obras estavam adiantadas.
François e Joanna haviam viajado para Campo Grande para encontrar Janete e Frazão e trazê-los para a fazenda.
Claude estava fora o dia todo. Apenas Rosa e Elisabeth na casa.
- Darling, non é saudável uma jovem como você ficar isolada nessa fazenda o tempo todo!
- Eu estou bem, tia Elisabeth. – Ela insistira tanto que Rosa acabara cedendo em chamá-la de tia.
- Non está nada! Você emagreceu nesses quinze dias! Non tem parado um só instante de trabalhar. Quando non é com os empreiteiros, que, aliás, são a visão do paraíso, está enfiada naquela casa da piscina. François não devia ter dado essa tarefa a você!
- Eu me sinto ótima! Adoro fazer esse tipo de trabalho: reformar ambientes.
- Mas precisa se distrair,  ver gente da sua idade e deixar  meu sobrinho com aquela pulguinha atrás da orelha, chérie!
- Tia Elisabeth, eu não...
- Você precisa dar uma lição nele, querida! Que tal irmos até a cidade curtir a noite?
- Não acho uma boa ideia sairmos sozinhas por essa estrada deserta, nessa escuridão. E eu nem trouxe roupa apropriada para isso...
- Roupa non é desculpa. Tenho certeza que encontraremos uma que sirva em você em uma de minhas malas!  E quem disse que iremos sozinhas?

Continua...

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