domingo, 17 de fevereiro de 2013

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 20 - PARTE 2 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL

Capítulo XX – Parte 2

NO "GARDÊNIA AZUL"


Maria "Flor de Amor" tinha já os lindos olhos rasos de lágrimas e ergueu-os para a marquesa, suplicando-lhe:
- Por favor... Peço-lhe que não falemos mais nessas coisas, que reabrem a ferida do meu coração... Já perdi toda a esperança. Nunca poderei me unir ao homem amado. Ele está completamente perdido para mim!
- Tolinha! - exclamou Renata, segurando as mãos da jovem. - Escute e não me interrompa, porque no que vou dizer-lhe pode estar o segredo de sua futura felicidade!
- Da minha felicidade?
- Certo! Ouça-me atentamente: quero confiar-lhe um segredo que lhe trará grande alegria. Você me disse o nome do homem que a amou um dia e que depois se uniu em matrimônio com outra. Eu, que gosto de você, quis informar-me a respeito dele e de sua companheira... E soube de coisas que aliviarão muito os seus sofrimentos, minha pobre querida!
- Não compreendo... O que poderá aliviar meus sofrimentos, já que estou diante do fato consumado, que é constituído pela união de Luís Paulo com outra mulher?
A marquesa Renata sentou-se no leito, enquanto Maria "Flor de Amor", quase inconscientemente, se aproximava dela cada vez mais.
- Maria"Flor de Amor" - disse Renata, esforçando-se para falar docemente - o seu Luís Paulo não é feliz!
- Que foi que disse?!
- Luís Paulo não é feliz! O matrimônio é uma tortura nas suas condições!
A voz da maligna mulher tornara-se baixa, sibilante e Maria "Flor de Amor" estremeceu.
- Não é possível... - balbuciou - nada no mundo é mais terrível do que um casamento infeliz!
- Tem toda razão, querida! Um casamento infeliz é uma verdadeira maldição, principalmente quando a infelicidade é causada pela infidelidade da esposa!
- Deus meu! - gemeu Maria "Flor de Amor" toda trêmula. - Você está acusando a baronesa Denise de Rastignac! Então ela é infiel ao marido?!... Mas não é possível!
Não pode ser! Como poderia deixar de ser fiel a ele, já que Luís Paulo é digno de ser amado em tudo e por tudo, devendo até ser venerado por ela?
- Você tem razão, sempre que o observa com os seus olhos! - replicou Renata. - Oh, não tenho a mínima dúvida: você poderia ser infinitamente feliz com Luís Paulo e não existiria outro homem no mundo para si! Mas para Denise, sua esposa, é bem diferente.
Ela toma liberdades impróprias para uma senhora da sua estirpe! Sei de fonte segura que ela se encontra com um antigo conhecido, um ex-noivo.
Maria "Flor de Amor" estava tão aturdida que cobriu o rosto com as mãos. A marquesa Renata, percebendo que exagerara um pouco, sentiu-se na obrigação de acrescentar:
- Oh, sei que não deveria perturbar a sua alma inocente com a narrativa de ações tão indignas, mas você precisa conhecê-las, porque é da maior importância para saber a verdade a esse respeito. Denise está envenenando a vida de seu marido!
Maria "Flor de Amor", pobrezinha, estava bem longe de se regozijar com o fracasso da união entre Luís Paulo e a mulher por quem ele a abandonara.
- E Luís Paulo - perguntou a moça, quando se recobrou da surpresa - não desconfia de nada?
Renata deu de ombros.
- Qual o quê! Não imagina sequer a bela figura que está fazendo! Oh! Você ainda é muito moça, querida, mas garanto-lhe que não existe nada mais ridículo do que um homem que se deixa enganar pela esposa! A qualquer lugar que vá, ao teatro, ao clube, às corridas, as pessoas murmuram às suas costas sem que ninguém, contudo, tenha a coragem de avisá-lo! E ele precisa justamente disto: de uma alma caridosa que o avise, que o detenha, antes que seja tarde demais!
- Mas quem o faria? - murmurou Maria "Flor de Amor", cujos belos olhos já estavam cheios de lágrimas. - Quem teria a coragem de intrometer-se entre o casal, causando a infelicidade de um deles pelo menos? Confesso que eu nunca teria coragem para tanto!
Estas palavras não deviam combinar com os sentimentos de Renata, porque esta riu longa e sardonicamente.
- Se é assim que você pensa – disse, finalmente - acho que nunca amou verdadeiramente Luís Paulo!...
- Não é verdade! - replicou Maria "Flor de Amor" impetuosamente. - Ainda o amo! Amo-o tanto que seria capaz de dar-lhe a minha vida se soubesse que faria a sua felicidade com isso! Mas desmascarar sua esposa... Não, jamais o farei! Não tanto por ela, mas pelo sofrimento que causaria a Luís Paulo!
- É - concordou Renata com uma entonação estranha na voz - se Luís Paulo, um dia, chegasse a saber da verdade, seria capaz de cometer alguma loucura...
- Por favor! - exclamou Maria "Flor de Amor", juntando as mãos como numa prece. - Não fale mais nisso... Tenha piedade de mim! É realmente assustador o quadro que pinta aos meus olhos... Contudo, temo que esteja com razão: Luís Paulo seria capaz de comportar-se exatamente como está dizendo, se por um infeliz acaso viesse a saber deste segredo terrível! Não sobreviveria à sua desonra! E a mulher miserável que é sua esposa seria a responsável pela sua morte, ao passo que seria seu santo dever fazê-lo feliz! Ah, como a vida é cruel!
A jovem parecia oprimida pelo peso de seus pensamentos.
Ao invés de deixá-la em paz, porém, Renata prosseguiu, continuando a tecer a sua sórdida e venenosa trama:
- E sabe o que sucederia depois... Depois que Luís Paulo se suicidasse? Ninguém pensaria em punir a verdadeira responsável, pode ficar certa! Atualmente, as mulheres como Denise são muito procuradas no mundo do espetáculo e pode ser até que lhe ofereçam um contrato para trabalhar no "Mogador", nunca se sabe!
- Não é possível! - gritou Maria "Flor de Amor", balançando a cabeça desesperadamente.
- Pois é assim! A princípio, algum amigo, mais afeiçoado que os outros, talvez lhe levasse algumas flores na sepultura, mas depois essas homenagens acabariam e todos pensariam em Luís Paulo de Rastignac como num louco, que se suicidou por causa de uma mulher!
- É espantoso! - soluçou Maria "Flor de Amor", olhando em volta assustada. - Você me deixou numa dúvida atroz! Por que me contou tudo isso? Por que quis me revelar a perfídia da esposa de Luís Paulo? Que posso fazer por ele agora?
- Você pode salvá-lo, Maria "Flor de Amor"! - afirmou Renata com ênfase. - Pode evitar que ele tenha esse fim!
- Mas como... Como?
A marquesa ergueu-se e disse:
- Se você o ama realmente e verdadeiramente o quer salvar, deve achar a força necessária para ir procurá-lo e avisá-lo! Só você está em condições de fazê-lo!
- Mas eu não posso! Preciso de provas! Como poderei tirar a máscara dessa Denise, se não possuo prova alguma de sua culpa?
- Claro - admitiu Renata - é necessário ter provas, caso contrário ele não acreditaria em você.  Luís Paulo não ama Denise, disto eu estou certa, mas é muito orgulhoso para acreditar em simples acusações...
Renata ficou olhando para o teto, com ar pensativo.
- Não é o caso de desesperar-se - disse em seguida, voltando-se para a jovem – vou providenciar as provas de que precisa! E estou certa de que se agora você tem dúvidas a meu respeito, um dia, vai se convencer de que eu fui a sua melhor amiga!
Na manhã seguinte, a marquesa Renata saiu antes do meio dia, dizendo que ia procurar um lugar seguro para lhes servir de moradia.
Estando a sós e não tendo nada para fazer, Maria "Flor de Amor" se sentou junto à janela, mergulhada em seus pensamentos, olhando de vez em quando para a rua abaixo que, para dizer a verdade, não era muito animada.
Havia algo, porém, que lhe inquietava, se bem que não a perturbasse demasiadamente.
Ela ouvia no quarto ao lado, sem parar, um ruído de passos pesados, como se um homem caminhasse para cima e para baixo no mesmo.
Por outro lado, através da parede fina, chegavam-lhe a intervalos, os sons de imprecações abafadas. O homem devia estar sozinho no aposento, porque não se ouvia voz alguma que lhe respondesse. Coisa estranha...
Maria "Flor de Amor" não conhecia seu vizinho de quarto, não sabia quem era, mas aquele contínuo vaivém tornava-a nervosa e inquieta. Quase sem o querer, a moça se aproximou da porta que dava para o corredor para verificar se estava trancada à chave. Depois, retornou ao seu posto junto à janela, esforçando-se para não se preocupar mais com seu irrequieto vizinho.
Naquele instante, sua atenção foi atraída por uma carruagem de aluguel, que parava em frente ao hotel. Não podia ser a sua protetora, pois esta possuía carruagem própria.
Uma desconhecida, realmente, que parecia muito jovem e elegante, desceu do táxi e, depois de hesitar um momento, entrou decididamente no hotel.
Isto lhe causou certa surpresa, porque não parecia certamente o tipo adequado à clientela daquele hotel de terceira categoria, mas seus pensamentos eram tantos, que ela logo se esqueceu do fato. Mas estremeceu de repente, atraída por novo rumor do quarto ao lado, provocado provavelmente pelo bater de uma porta.
E devia ter sido isso, porque logo após, através da parede fina, chegou-lhe uma voz masculina que dizia:
- Oh, até que enfim você chegou! Julgava que eu poderia esperá-la até o dia do juízo final? Devia conhecer-me bastante para saber que não sou nada paciente!
Uma voz feminina respondeu:
- Deixe de tanta conversa. Recebeu meu aviso?
- Se não o recebesse, como é que estaria aqui? Mas como tenho minhas dúvidas sobre a sua habilidade, depois do que vi, imaginei que tivesse arrumado alguma complicação!
- Que bela maneira de me receber!
- Trouxe o dinheiro, afinal?
- Sim, sim, é claro que trouxe...
Aos ouvidos de Maria "Flor de Amor" que, embora não saindo de seu lugar, ouvia como que fascinada, chegou uma exclamação abafada.
- Ah! Isto é que é uma bela notícia! E seu marido? Não desconfia de nossos negócios? Não sabe que você vendeu os brilhantes?
- Não, mas faltou pouco para que soubesse!
- Que está querendo dizer?
- Que eu me encontrei com meu pai no joalheiro ao qual eu devia vender os brilhantes!
- Diabos! E ele?
- Não é nenhum tolo! Descobriu tudo!
- Imagino a cena que ele lhe fez! Ah, ah, ah!
- Ainda tem a coragem de rir? Bela maneira de agradecer-me!
- Bem, o que disse seu pai?
- No momento, nada, é claro, comportou-se como o cavalheiro que é... Mas, em seguida, quis que eu lhe contasse tudo, tim-tim por tim-tim!
- Que palidez é essa? Fique tranquilo, não lhe falei de você. Justamente quando me julgava perdida, tive a inspiração de pôr a culpa em meu marido, dizendo que estava vendendo as joias para ele...
- Magnífico! E que desculpa arranjou?
- A mais simples deste mundo: disse que ele jogara e contraíra dívidas de honra e que para pagá-las, eu era obrigada a vender as joias, se não quisesse que ele se suicidasse diante de mim. E meu pai, para nossa sorte, engoliu a mentira.
- Ah, ah, ah! Você se saiu bem de verdade! Mas eu confiava plenamente em você! Sei que é um verdadeiro demônio, quando se trata de enganar o próximo.
Denise, pois era ela a dama elegante que Maria "Flor de Amor" não reconhecera, fechou os olhos por um instante.
Pelo menos por um momento, não queria ver o rosto de Afonso Houdin, que lhe recordava de modo atroz todo o seu passado, do qual ela não se sentia em nada orgulhosa por mais corrompida que estivesse.
Maria "Flor de Amor", no outro aposento, também não desejava ouvir ou saber mais nada...
No entanto, uma força misteriosa, à qual ela, não podia resistir, prendia-a ao seu lugar. E não eram tanto as palavras que ela ouvira que a perturbava, mas sim o timbre das vozes de quem as haviam prenunciado.
A voz feminina, principalmente, ela sabia que já ouvira outras vezes, mas não conseguia se lembrar quando e onde.
Percebia somente que aquela voz tinha um som terrível para ela e que já a ouvira em algum momento grave de sua vida.
Mesmo sabendo que não devia fazê-lo, ela continuou a ouvir.
- Sim, é exatamente a quantia que eu pedi - dizia o homem. - Vejo que recobrou a razão e que achou melhor cumprir com o seu dever!
- Não é dever algum!- replicou a trêmula voz feminina. - Agi contra o meu dever e tudo isto que você me obriga a fazer é contra a minha vontade!
- Contra a sua vontade! Não me faça rir!
- Se soubesse o quanto eu hesitei antes de vir e quanto medo eu tive de ser reconhecida por alguém conhecido... Fico contente por lhe dar este dinheiro com o qual espero ficar livre definitivamente de você! Saiba que esta é a última vez que o vejo! Já é hora de deixar de me perseguir.
- Gosto de você mais ainda quando está com raiva! - respondeu o homem. - “Sinto-me ainda mais atraído”.
No mesmo instante, ele devia ter tentado abraçá-la, porque Maria "Flor de Amor" ouviu a voz feminina sibilar.
- Largue-me, não me toque, bandido miserável!
- Largá-la? - replicou o homem. - Mas você me ofende! Eu a amo, eu a adoro, só quero dar-lhe um beijo em homenagem à sua beleza! Se quando fomos noivos, eu a beijava, por que não iria permiti-lo agora que nos reencontramos?
- Porque não o quero mais! Porque você me enoja!
- Ah, então é assim? É muito tarde para arrepender-se, minha cara! Está na dança e tem que dançar! Não se esqueça!
- Se não me deixar ir imediatamente, eu gritarei por socorro!
- Pode gritar! Virá alguém e eu direi imediatamente: tenha a bondade de chamar a carruagem da baronesa Denise de Rastignac, que precisa reunir-se ao seu querido maridinho! Está cansada de ficar no "Gardênia Azul" com Afonso Houdin...
Àquelas palavras, Maria Aubert levantou-se de um salto, num movimento tão rápido e brusco que derrubou a cadeira.
Imobilizou-se um instante, temendo ter sido ouvida. Mas logo se tranquilizou com a confusão que havia no quarto ao lado do seu.
Agora sabia de tudo. Conhecia as duas pessoas que se achavam no aposento ao lado, separadas dela somente por uma fina parede...
"Afonso Houdin"...  Repetia Maria Aubert para si, "Afonso Houdin... Como é que Denise pôde amar a um homem igual aquele? Meu Deus, que horror!"
O coração bom e simples de Maria "Flor de Amor" não podia acreditar que a filha de um conde de Chanteloup pudesse rebaixar-se a este ponto!
Como era possível que uma mulher jovem, bela, invejada, pudesse dar ouvidos a um malfeitor como Afonso Houdin?
Naquele instante, a porta do quarto vizinho se abriu estrepitosamente e ressoaram passos no corredor.
Pouco depois, a maçaneta da porta foi sacudida violentamente, enquanto uma voz dizia agitadamente:
- Abra, por favor! Salve-me! Abra!
Maria "Flor de Amor", levada por um impulso generoso, ainda antes de refletir, já estava na portado seu apartamento e girava a chave na fechadura.
A porta se abriu imediatamente, empurrada pela moça elegante que ela vira na rua e que agora sabia ser Denise, a esposa de Luís Paulo.
Denise fechou a porta em seguida, mas não suficientemente rápido para impedir que Afonso Houdin, que chegara correndo, a avistasse.
O malfeitor tinha as feições contraídas pelo ódio e pela cólera. Além do mais, a luz do corredor era escassa para que pudesse reconhecer na moça que ajudava Denise, a vítima do doutor Judas Démon.
Ao mesmo tempo, Denise se atirara, quase sem sentidos em uma cadeira e cobrira o rosto com as mãos, dominada por uma crise de nervos.
Maria Aubert, por sua vez, não sabia o que fazer, se aproximar-se da moça ou se procurar de qualquer forma impedir que Afonso, do lado de fora, desencadeasse um pandemônio.
O ladrão, realmente, sem preocupar-se com o perigo que corria por estar sendo procurado pela polícia, começou a bater contra a porta, gritando como um possesso:
- Abra, abra! Não tem o direito de esconder essa mulher! Abra, eu já disse! Jogo essa porta abaixo se não abrir imediatamente!
- Não lhe dê ouvidos! - disse Denise toda trêmula, sem sequer olhar para Maria "Flor de Amor". - Não abra! Ele seria capaz de matar-me! E não somente a mim, mas a você também! Não sabe a que ponto ele é capaz de chegar!
- Coragem, vamos, acalme-se- disse Maria "Flor de Amor" com um fio de voz, tentando dominar o susto. - Não vou abrir, mas preciso chamar alguém que nos ajude...
- Não! Não! - gritou Denise, largando a cadeira e postando-se entre a moça e o cordão da campainha que se achava junto à porta. - Não o faça! Não chame ninguém! Se alguém me vir, estarei perdida! Eu sabia que isso acabaria assim! Eu sabia!...
A jovem senhora, vencida pela emoção, caiu ao solo sem sentidos.
Maria Aubert, por sua vez, aturdida, tentou erguê-la, ajudá-la de qualquer maneira, mas um golpe tremendo ressoou na porta e novamente a voz do criminoso gritou do lado de fora:
- Pela última vez: abra ou não responderei pelos meus atos! Tome cuidado, estou armado e, se não abrir, arrombarei a porta!
Evidentemente, no "Gardênia Azul", como aliás a pobre Maria "Flor de Amor" já pudera  constatar,estas cenas eram frequentes. Realmente, se bem que o barulho que Afonso Houdin fazia fosse enorme, nem o sonolento porteiro do hotel, nem outro empregado qualquer se dignaram a dar uma olhada. A um empurrão mais forte do que os outros, uma brecha se abriu entre a porta e a parede do aposento, o que significava que a fechadura começava a ceder. Maria "Flor de Amor", muito pálida, ergueu os olhos para o céu, murmurando:
- Protegei-nos, meu Deus!
Como se sua prece fosse atendida imediatamente, naquele exato momento em que a porta frágil ia ceder, ouviu-se uma voz ressoar no corredor:
- Aí está ele! Prendam-no!
Aquele grito, Afonso procurou fugir e, vendo que todas as saídas se fechavam para ele, esconder-se em seu quarto, em cuja porta começaram a bater violentamente. Maria "Flor de Amor", pelo contrário, ao invés de chamar alguém que a tirasse daquela situação difícil, permanecera ali muito pálida, estarrecida, não acreditando nos próprios ouvidos. Que estaria acontecendo?
Maria "Flor de Amor", de pé no meio do aposento, não o sabia. Não compreendia... A voz que ouvira ressoar no corredor tivera o poder de tirar-lhe as forças por um instante e a própria palavra.
Maria "Flor de Amor" conhecia-a! Era-lhe bem conhecida! Mas a tontura da jovem durou segundos apenas. Logo após, a compaixão a dominou e ela se virou apavorada para Denise que se erguia naquele instante e gemia fracamente.
- Rápido, senhora, fuja! - disse muito agitada, ajudando-a a levantar-se. - Precisa desaparecer, caso contrário estará perdida! Ouviu aquela voz?
- Uma... Voz? - balbuciou Denise, passando a mão pelos olhos enevoados e talvez reconhecendo Maria "Flor de Amor" somente naquele instante. - Que voz?... Está falando da voz do bandido?... Oh, meu Deus!
- Não, não! - exclamou Maria "Flor de Amor" desesperada. - É outro perigo que a ameaça! Trata-se de seu marido! De Luís Paulo de Rastignac!

Um comentário:

  1. Paulo a situação está se complicando cada vez mais! Renata vai meter Maria "Flor de Amor" numa fria! E o que será que Luís Paulo foi fazer nesse "hotel"? Acho que vem muita confusão por aí! Está muito bom! Bjs

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