terça-feira, 26 de março de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 15 - AUTORA: SÔNIA FINARDI


XV

Na manhã seguinte, quando Rosa acorda, Claude  está com a  máquina entre as mãos.
- Suas fotos ficaram muito boas! Magnifique! Tia Elisabeth tem razon, você devia expor suas fotografias. E o vídeo também, oui?
- Isso é só um passatempo! Obrigada pela máquina, não era preciso, eu sei que fui a maior responsável  pela nossa queda... Se eu não tivesse ido tão dentro da pista...
- Voilá! Mas devo admitir que também fui culpado, hã? Quanto à máquina, era preciso sim... Senon, como explicar  aos nossos filhos que  quebrei a máquina da mãe deles e por isso ela não pôde fotografá-los? – Diz sorrindo.
- Filhos? – Pergunta Rosa surpresa.
- É o que geralmente acontece quando duas pessoas se amam e...  fazem amor. Filhos primeiro, com o tempo chegam os netos e quem sabe se tiverem sorte , bisnetos.  Non pensou que te ofereceria menos, pensou? – Fala, colocando a máquina de lado e voltando-se para ela.
- Pra falar a verdade... – Começa a dizer – Eu pensei que você quisesse apenas ficar comigo durante algum tempo. O tempo da obra...  – E desvia seu olhar, virando a cabeça para o lado.
- Mon Dieu, minha reputaçon está abalada! O que foi que a Janete andou falando sobre mim, hã?
- Não muita coisa.  – Rosa tenta olhar para alguma parte do rosto dele que não fossem os olhos - Mas ela disse que se tinha alguém que podia enfrentar e domar você esse alguém era eu.
- Nisso eu tenho que concordar com ela. Você conseguiu enfrentar meu mau humor como uma veterana. Que mais ela disse?
- Mais nada...  – Sua voz sai insegura.
- Tem certeza?
- Bem... Ela disse algo sobre uma ex-noiva francesa...
- Nara foi um grande erro em minha vida. E na verdade non chegamos a noivar.  Era uma relaçon baseada unicamente em sexo. Mas, voltando ao motivo de nossa conversa, vai querer ser a mãe dos meus filhos, non vai?
- Eu... - Começa a falar, mas Claude a impede de continuar.
Aproveitando seus lábios entreabertos, os lábios dele  abafam o som de suas palavras e  boa parte daquela manhã foi cheia de suspiros e frases doces, entrecortados por momentos silenciosos, onde apenas seus corpos falavam a inexplicável linguagem do prazer, que chegou impetuosamente em ondas de tremor incontroláveis, tal qual as ondas de um mar  bravio...
Horas mais tarde...
Rosa está na varanda, observando a paisagem, completamente encantada com a exuberância da natureza do pantanal.
- Pronta? – Pergunta Claude, abraçando-a por trás carinhosamente e encostando seu rosto ao dela.
- Pronta. Quem diria que ontem choveu daquele jeito? Toda nossa roupa secou rapidamente nesta manhã ensolarada.
- Uma pena. Você estava muito provocante toda molhadinha de chuva. – Fala, subindo suas mãos pelo corpo dela, sensualmente.
- Claudeee... Se continuar com isso, vamos nos atrasar...
- Non seria uma má ideia, gatinha! Porém, você tem razon. Vamos?
- È só o tempo de fechar as janelas e poderemos ir.
Minutos depois, estão ajeitando as mochilas. Rosa pega seu capacete e enrola o cabelo para colocá-lo.
- O dia não está perfeito? – Pergunta sorrindo.
- D’accord! Mas só está perfeito porque estou contigo. – Ele devolve o sorriso. - Espera, non coloca o capacete ainda.
- Por quê? O que houve?
- Porque com capacete non dá pra te beijar, hã?
Depois de um beijo suave e arrebatador, ele se afasta dizendo:
- Melhor nos apressarmos ou perderemos o almoço na Estância Mimosa. Non quero abusar da cordialidade de Freitas. Nem da boa vontade do Pimpinone.
- Pimpinone? Vamos encontrar com ele? – Fala, subindo na moto e segurando em Claude.
- Oui. Ele vai estar lá por dois motivos. Primeiro, porque tenho que entregar a chave diretamente para ele e segundo, porque ele quer conhecer você, gatinha...
Rosa ia perguntar o porquê, mas Claude já descia a trilha estreita e ela achou melhor não desviar sua atenção.
Fizeram o caminho de volta sem paradas, até chegarem à Estância. Pimpinone já os aguardava e depois das apresentações, os três se acomodam para almoçar.
Depois de almoçarem, Claude se ausenta até o banheiro e na volta acaba parando para falar com Freitas.
Rosa se encanta com jeito do velho Pimpinone. Sua fala é calma, daquelas de quem tem a sabedoria da vida na alma. Sua voz é firme, mas não ríspida.
E o sorriso, ah! O sorriso dele era algo contagiante, transmitia uma alegria imensa.
Era isso, pensava Rosa. Ele era feliz! Apesar de tudo, ele era feliz.  A felicidade dele consistia em fazer os outros felizes e por isso sua presença era tão significativa.
Pimpinone também “aprovou” Rosa e quando soube do seu apreço pelas borboletas e mariposas, emocionou-se profundamente.
- Minha falecida esposa também adorava borboletas e mariposas. Ficava horas observando-as pousar de flor em flor, principalmente depois que a doença tomou-lhe o organismo todo. Foi aí que resolvemos vir pra cá. Construí aquela cabana para ela. Foi onde passamos uma grande temporada até ela ter que ser hospitalizada, pois as dores eram insuportáveis...
- Eu sinto muito... – diz Rosa – O senhor devia amá-la muito.
- Tanto quanto esse francês a ama. Ou melhor, tanto quanto se juntássemos o amor que existe entre vocês dois. Sabe, Rosa, seus olhos são muito expressivos. Eu pude ler neles que você o ama, mas está com receio de que esse amor seja apenas atração física por parte dele. Muito embora, ele já deva ter confessado que a ama.
- Céus! O senhor lê pensamentos?
- Não – diz com uma risada leve e autêntica – Eu vivi praticamente a mesma história. Só que no meu caso, ela não era estrangeira, mas era de uma família tradicional e rica. Eu tinha uma boa situação, uma casa confortável, um bom emprego. Mas era... sou negro.
- E o que isso tem a ver?
- Há quase trinta anos atrás? Meu bem você nunca assistiu “Adivinhe quem vem para o jantar” na Sessão da Tarde?
- Muitas vezes! E chorava na mesma parte todas as vezes... É história de uma jovem branca que começa um romance com um renomado médico afro-americano...  O senhor era médico! - Rosa exclama, perplexa. – Deus, que coincidência!
- Uma tremenda brincadeira do destino! Assim como no filme, nossos pais se chocaram ao saber que estávamos noivos. Um negro, noivo de uma branca, não era algo comum ou bem visto pela sociedade.
- Mas quando nos apaixonamos, o coração não difere cor, nacionalidade, condição social...
- O coração não, mas há tanto preconceito por aí, minha querida! Enfrentamos os mais absurdos preconceitos, não apenas dos pais dela, mas dos meus também. E também de outros brancos e de outros negros, amigos e parentes de ambos os lados. Foram tentativas e tentativas de encontrar algo desabonador em mim,  que servisse  para nos afastar.
- Mas só descobriram qualidades morais e profissionais acima da média. Tenho certeza! – Fala Rosa, suavemente, colocando sua mão sobre a dele, ao perceber lágrimas nos olhos dele.
- Pimpinone foi um apelido que ela me deu.  É o nome de uma ópera cômica italiana. E pegou... rsrrs – Sorri tristemente, como se tentasse afastar a lembrança de algo.
- O senhor cuidou dela até os últimos minutos, não foi?
- Foi... Quando ela partiu, eu a tinha em meus braços! E pensar que eu quase desisti do nosso amor!
- E o que fez com que não desistisse?
- Uma história que ela me contou. Uma lenda eu creio. Quer ouvi-la?
- Ficarei honrada por me contar uma coisa tão pessoal...
Pimpinone respira profundamente antes de começar.
- Sabe, eu creio que vai servir pra você se decidir também...  É uma história simples, mas tem uma moral, nos dá uma lição incrível. Você vai gostar...

O Sábio e a Borboleta

Havia um pai que morava com suas duas jovens filhas, meninas muito curiosas e inteligentes. Suas filhas sempre lhe faziam muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não fazia a mínima ideia da resposta.
Como pretendia oferecer a melhor educação para suas filhas, as enviou para passar as férias com um velho sábio que morava no alto de uma colina.
Este, por sua vez, respondia todas as perguntas sem hesitar.  Já muito impacientes com essa situação, pois constataram que o tal velho era realmente sábio, resolveram inventar uma pergunta que o sábio não saberia responder.
Passaram-se alguns dias e uma das meninas apareceu com uma linda borboleta azul e exclamou para a sua irmã:
- Dessa vez, o sábio não vai saber a resposta!
- O que você vai fazer? - perguntou a outra menina.
- Tenho uma borboleta azul em minhas mãos. Vou perguntar para o sábio se a borboleta está viva ou morta. Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar para o céu. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la rapidamente, esmagá-la e assim matá-la. Como consequência, qualquer resposta que o velho nos der vai estar errada.
As duas meninas foram, então, ao encontro do sábio, que se encontrava meditando sob um eucalipto na montanha. A menina aproximou-se e perguntou:
- Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me, sábio, ela está viva ou morta?
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
- Depende de você. Ela está em suas mãos...

Antes

- Que linda história... quem é o autor?
- Desconhecemos o autor...  – Continua Pimpinone – Mas assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém porque algo deu errado. O insucesso é apenas uma oportunidade de começar novamente com mais inteligência. Somos nós os responsáveis por aquilo que conquistamos ou não. Nossa vida está em nossas mãos, como uma borboleta azul... Cabe a nós escolher o que fazer com ela, só a nós. Por isso, não deixe nada, nem ninguém interferir na sua felicidade, Rosa. Nunca...
- Eu não vou deixar, prometo! – Rosa diz, emocionada.
- O que você não vai deixar, gatinha? – Pergunta Claude, sentando-se e passando os braços pelos ombros dela.
- De lembrar que as borboletas azuis estão em minhas mãos. – Diz, trocando um olhar e um sorriso com Pimpinone...

Continua...

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