terça-feira, 14 de maio de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 27 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXVII

Na fazenda, enquanto tudo isso acontecia, Elisabeth não se conformava:
- Como fui perder a hora, Dadi? Eu devia ter alertado Claude e Rosa ontem à noite, mas a tenda estava tão visitada que quando os procurei já não estavam mais na festa...
- Calma, dona Elisabeth. Deus é pai, não é padrasto! – Responde Dadi, mas por dentro sentia um certo frio na barriga.
- Eu vou ver nossa borboletinha. Preciso enviar boas energias para Claude e Rosa. Principalmente para Rosa! E para Chantal. - Diz ao subir a escada, baixando o tom de voz.
Assim que chegaram de volta à fazenda, Claude entrou com Rosa nos braços na casa sede. Rosa pedia por Fernanda insistentemente.
- Meu pai! O que aconteceu com dona Rosa? – Exclamou Dadi, aflita, vendo Claude caminhar até o sofá.
- Depois eu explico, Dadi. Onde está minha filha? – Pergunta preocupado.
- Fernanda está com seus pais e dona Elisabeth no quarto dela. – Dadi nota alívio no olhar de Claude.
- Merci, Dieu! – Murmura – Está vendo, chérie? Borboletinha está bem protegida! Por favor, Dadi, chame o médico de planton da festa, oui? – Pede Claude – vendo Dadi sair apressada, sem dizer ou perguntar mais nada.
Rosa ainda estava em estado de choque ao ser colocada no sofá da sala. Agarrou Claude pelo pescoço como se fosse cair do mundo:
- Não me solta! – Suplicou desesperada, sentindo-se sem chão.
- Calma, gatinha. Você está a salvo, hã? – Diz Claude, passando a mão pelo rosto de Rosa delicadamente - Estamos na sede da fazenda, non tem mais perigo algum.
- Todo esse drama só porque o pangaré do seu cavalo saiu em disparada?! Se queria ser o centro das atenções, você conseguiu, queridinha! Já pode deixar o teatro de lado! – A voz cínica de Nara fez Claude estremecer ligeiramente, enquanto Rosa apertava sua mão, empalidecendo.
Claude levanta-se do sofá. Sua expressão não era da melhores ao dizer à Nara:
- Você non vale nada Nara! É muito pior do que eu pensava! O que foi que você fez a Chantal?
- Eu não fiz nada! Se sua esposinha não sabe montar – Fala com desdém - não deveria se arriscar em cima de um cavalo!
Claude aproxima-se de Nara, com os punhos fechados, controlando-se para não agredi-la fisicamente.
- Acontece que minha mulher sabe montar. Eu mesmo a ensinei. Chega de bancar a santa que você nunca foi, Nara. Confesse de uma vez! Que diabos você fez a Chantal? Deu algo para deixá-lo agitado?
- Eu não confesso nada! E pare de me comprometer e tentar colocar palavras na minha boca! - Nara começava a alterar seu tom de voz.
- Eu non preciso fazer isso! Você mesma disse a quem quisesse ouvir, que queria vê-la morta. Testemunhas non faltaron!
- Testemunhas?
- Geralmente é como son chamadas as pessoas que relatam o que viram ou ouviram sobre um determinado acontecimento, mediante um processo.
- E o que eles viram? Um cavalo desgovernado por falta de habilitação da amazona!?– E solta uma risada histérica - E eu falei em francês, idiota!
Claude sorri fria e ironicamente, formando um arco com seus lábios, antes de dizer:
- Oui! Tem toda razon: falou em francês. Foi uma péssima escolha de idioma, Nara. Está ton desequilibrada, ton doente, que esqueceu dos seus amigos franceses no grupo. Todos entenderam perfeitamente seu comentário. E quando forem chamados a depor, repetiron exatamente o que ouviram.
- E de que vai me acusar, Claude? – Fala, espalmando as mãos e movimentando-as no ar - De ter desejado a morte de sua querida mulherzinha? – Pergunta Nara, divertindo-se com as palavras e virando as costas para ele.
Claude cruza os braços e diz, o mais calmo que consegue:
- Tentativa de assassinato. Isso é crime, Nara. Agravado pelo fato de ser premeditado, hã? Isso dá cadeia no Brasil. E devo lembrá-la que os presídios aqui non son exatamente os melhores do mundo... Mas os meus advogados son.
- Isso é ridículo! Totalmente ridículo! – Insiste Nara em negar.
Mas Claude continua, falando sério e pausadamente:
- Pense bem, Nara. Podemos entrar num acordo: você confessa o que fez e nunca mais aparece na minha frente ou continua negando e vamos decidir isso nos tribunais. A notícia vai abalar sua reputaçon na França e, por conseqüência, a de seu marido. Ele pode perder muito dinheiro com isso. É claro que eu vou fazer você ficar detida durante o processo.
Nara finalmente entendeu que Claude não brincava. Sem mais nada a perder e descontrolada, confessou ter apertado a barrigueira de trás, cuja função é somente manter a posição da sela durante as manobras...
- ...e depois de apertá-la bem, eu desfiz alguns pontos da costura da fivela anterior. Para dar um equilíbrio na equação! – Fala sarcástica, de costas para a porta, não vendo a entrada de Edmond, que estarrecido diz:
- Eu não acredito que você foi capaz disso, Nara! Até onde vai sua irresponsabilidade? – Dizia Edmond, aproximando-se dela - A compressão da região abdominal é extremamente desconfortável para os cavalos! Eles reagem corcoveando, podendo causar a queda de quem o monta... Mon Dieu! – Murmura, compreendendo a extensão do ódio que Nara sentia.
Rosa que até então só ouvia a discussão, levanta-se, indo até Claude e ficando ao seu lado.
- Rosa, você non devia estar em pé, chérie! – Claude a ampara.
- Por quê? – Pergunta Rosa, olhando para Nara com piedade nos olhos - O que foi que eu fiz pra você me odiar assim?
- Você existe, sua imbecil! Quer melhor motivo que esse? Mas se o estúpido do cavalo ainda te protegeu, eu posso acabar com você usando minhas mãos agora mesmo – Fala entre os dentes, com o rosto totalmente transfigurado, avançando em direção à Rosa.
Mas Edmond a segura pelos braços, apertando-os com força, ao mesmo tempo em que Claude protegia Rosa com o próprio corpo, pondo-se a frente.
- Mon Dieu, você enlouqueceu, Nara! Eu quero você fora dessa fazenda, em uma hora no máximo! – Explodiu Claude – Ou, enton, chamaremos a polícia e você sai daqui direto pra cadeia.
- Venha, Nara! Você realmente perdeu a noção das coisas! - Fala Edmond, empurrando Nara em direção à escada e olhando para Claude - Claude, eu não sei o que dizer... Não se preocupe com Nara, eu a levarei daqui e do Brasil o mais rápido possível. E vou providenciar para que ela nunca mais se aproxime de vocês!
E subindo a escada, cruzam com François, Joanna e Elisabeth, que foram atraídos pelas vozes exaltadas.
Claude abraça Rosa, cujo corpo finalmente reagia, trêmulo pelos soluços que tentava sufocar, enquanto chorava compulsivamente.
- Isso, chore, gatinha. – Murmura Claude, apertando-a contra si - Non guarde isso dentro de você, hã? Eu nunca vou deixar nada de mal acontecer contigo, nunca! – Continuou falando, tentando conter as próprias lágrimas, vendo Dadi se aproximar com o médico.
Durante o atendimento do médico para Rosa, Claude relata o acontecido. Todos ficam indignados com o comportamento criminoso de Nara.
Fisicamente bem, mas com o emocional abalado, o médico indica apenas um sedativo leve para Rosa descansar e se refazer.
Claude concorda e após Rosa ser medicada, a leva para o seu antigo quarto. Rosa ainda tem tempo de ver Fernanda nos braços de Claude e sorri, feliz, ao vê-la, antes de adormecer profundamente.
Ele coloca Fernanda na cama, ao lado de Rosa, enquanto retira as botas que ela usava.
- Mama... – Balbucia Fernanda, tocando em Rosa e olhando para Claude em seguida.
- É, mamãe, borboletinha! Mas nós vamos deixá-la descansar, oui? Vem com o papai, hã? – Diz, estendendo os braços em sua direção.
Fernanda engatinha sobre a cama até alcançá-los e já no colo de Claude, bate as mãozinhas no peito dele, enquanto resmunga, sorrindo:
- Papa, papa, papa! Aga!
- D’accord.Você quer “água”? Vamos até a cozinha, oui? Dá tchau pra mamãe! – Fala, acenando em direção à Rosa e Fernanda imita seu gesto.
Já na cozinha:
- Dadi, me vê um pouco de água pra Fernanda, por favor, hã?
- Da-da-da – Repete Fernanda, que, com quase dez meses, descobria o mundo das palavras.
- Essa menina logo, logo tá falando, Dr. Claude! É muito esperta, presta atenção em tudo que a gente fala! – Comenta Dadi, entregando a água.
- Dá pra acreditar que ela vai fazer um ano, Dadi?
- E parece que foi ontem que ela nasceu! Dona Rosa já até começou os preparativos pra festinha dela!
- E vamos fazer uma festa muito bonita, non é, minha borboletinha? – Diz, beijando a filha – Dadi, fica com ela um pouco. Eu vou até as baias, quero conferir a sela de Chantal.
Dadi pega Fernanda no colo, que faz cara de choro.
- Filha, non chore, papai já volta. E aí vamos ficar com a mamãe, d’accord? – Diz acariciando o rosto de Fernanda e saindo.
Assim que chega às baias, vê seu pai, Joanna, Frazão e Janete conversando com Ramiro, o responsável pelos cavalos.
- Ela realmente fez o que disse, filho. Eu ainda não acredito que tenha descido tão baixo!
Ramiro mostra a sela de Chantal para Claude examinar.
- Cara, ela foi longe, longe demais! Premeditar um acidente pra prejudicar a Rosa? O que ela ganharia com isso? – Fala Frazão.
- Prejudicar só não, Frazão! Ela queria a morte de Rosa! Nara só pode estar doente. Seriamente doente. - Fala Joanna.
- Ela nunca me enganou com aquele sorrisinho falso! - Comenta Janete. – Pobre Rosa! Foi uma vitima das frustrações de Nara.
- Eu me sinto tão responsável por isso, filho! Se eu tivesse impedido ela de ficar na fazenda aquela noite!
- Papai, non se culpe, hã? Como diz tia Elisabeth, o que tem que ser, é. Talvez se estivesse fora da fazenda, aprontasse coisa pior, num momento em que non estaríamos por perto... Manda essa sela pro conserto, Ramiro.
- O serviço que ela fez, doutor, foi de profissional. Dona Rosa deu muita sorte, que era Chantal. Fosse um cavalo menos obediente...
- Tem razon, Ramiro. Apesar de tudo, Chantal non derrubou Rosa. Pelo contrário, parecia querer protegê-la. Ele merece um recompensa, hã? Dê-lhe alguns torrões de açúcar ou aqueles biscoitos concentrados, além da alimentaçon normal. Ou melhor, eu mesmo dou e agradeço a ele.
Enquanto Claude se dirige à baia de Chantal, os outros voltam para casa e Ramiro para o trabalho dele.
Enquanto isso na casa sede, Edmond descia com as malas, tendo Nara à sua frente. Tia Elisabeth, que acompanhava a movimentação, não perde a oportunidade e segura Nara pelo braço, falando:
- Nara, my darling! Que foi que você fez? Eu pensei que tinha escutado o recado das cartas para você, honey!
- Não me venha com essas tolices, me poupe, Elisabeth!
- Você devia ter mais cuidado com o que pensa e faz. Seus pensamentos e suas atitudes estão transformando você. Não é sua mente ou seu corpo, mas sim sua alma que está doente!
- Eu não tenho doença nenhuma!
- Essa sua fixação por Claude... E o ódio que tem por Rosa, não lhe faz bem. Desapegue-se, Nara. Encontre o seu caminho e seja feliz. Comece, aceitando a felicidade dos outros...
- Eu nunca vou aceitar a felicidade dessa... coisinha com quem o Claude se casou! E dispenso os seus conselhos. Guarde-os para você mesma! Ou melhor, pra alguém que precise deles!
- Você é uma tola, Nara. Não devia brincar de desejar o mal para outras pessoas... Como os jovens dizem hoje em dia, se não sabe brincar, não desce pro play! Será que entendeu agora?
Edmond chama Nara, rispidamente.
- Dane-se, Elisabeth! – Diz saindo, impassível - E diga ao Claude que eu deixei lembranças. Ele pode me impedir de entrar na fazenda, mas não pode me impedir de ficar no Brasil. Ele ainda vai ter notícias minhas!
Edmond e Nara entram no carro e saem da fazenda.
Depois da recompensa dada e de agradecer a Chantal, Claude volta para a casa-sede. Fica aliviado quando tia Elisabeth avisa que Nara já havia partido.
Depois de lavar as mãos e o rosto, Claude procura Fernanda e junto com ela vai até o quarto, onde Rosa ainda dormia. E com Fernanda, deita-se também, adormecendo, junto a Rosa...

Continua...

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