quinta-feira, 25 de julho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 40 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XC

Quando finalmente eles chegam, ela corre ao encontro dos dois. Roberta, ainda por lá, só observava a cena.
- Mamãe, papai!!!! - Fala Fer alto, sorrindo - Eu pensei que você tinham... Por que  vocês  demoraram tanto e estão molhadinhos?
- Porque o papai foi pescar com a mamãe, Borboletinha...
- Hummmm – Diz, não acreditando muito - E cadê o peixinho?
- Pois é o rio non tava pra peixe! Mas me deu essa sereia aqui, hã? – Disse, beijando Rosa com paixão.
Roberta solta chispas de raiva no olhar
- Conforme-se, moça – Disse Gideon para Roberta, percebendo a inveja   – Nunca vai ter esse amor pra você!
- Isso é o que veremos! – Responde Roberta entre os dentes e  andando em direção à Claude continua com a voz rouca e afetada e ignorando Rosa -  Claude,  até  que enfim você chegou!
E disse isso jogando os braços em torno do pescoço dele, sem chance de  desvio. Rosa reparou que Roberta havia trocado de roupa. Estava com um vestido vermelho muito justo e decotado. E segurou-se para não dar vexame na frente da filha.
Mas então, Roberta  encostou seus lábios na boca de Claude e o beijou.
Mas é muito  abusada e ordinária!”– Pensa – “Se não fosse por Borboletinha, você ia ver sua... sua...  piriguete francesa!”
Claude reage, segurando os braços de Roberta e afastando-a bruscamente de si, ao mesmo tempo em que Fernanda, vendo toda a cena, pergunta:
- Por que você tá beijando meu papai na boca? – Segurando e puxando como dava a  saia do vestido de Roberta, onde o drapeado pemitia pegar, na intenção de separá-los – Solta ele, só a minha mamãe que pode! E puxava com toda sua força de criança. Talvez por ser tão justo, uma parte da costura se desfez, na lateral do vestido
- Borboletinha, cuidado, não faça isso... – Pedia Rosa ao mesmo tempo, mas não conseguiu evitar...
Roberta, furiosa, segurou a mãozinha de Fernanda e soltou-a no ar, bruscamente:
- Sua garotinha feia e malvada! Olha só o que você fez no meu vestido! – Gritou Roberta, quase histérica.
- Não/Non fala assim da/de minha filha! – Exclamam Rosa e Claude ao mesmo tempo – E Claude segura a mão de Roberta, antes que ela alcance Fernanda, enquanto Rosa se coloca na frente da filha.
- Nunca mais levante a mão para minha filha, Roberta! – Exclama Claude e segura  com força o pulso dela.
Assustada,  Fer dá alguns passinhos para trás e começa a chorar. Gideon rapidamente a pega no colo e leva para dentro, enquanto a discussão aumentava:
- Com certeza, essa pivetinha brasileira nem é sua filha! Olha só o estrago que ela fez na minha roupa!  
- Mas é muito abusada e... vulgar! – Devolve Rosa, num tom  mais alto que o normal de sua voz. – como ousa insinuar que...
- Insinuar? – Roberta fala com desdém  - Eu estou afirmando! Você deu o golpe da barriga no Claude e ele caiu direitinho, porque sempre quis ter filhos... Você só omitiu que  a barriga era de outro, não é, meu bem?
- Ah, sua... – Disse Rosa, deixando a raiva tomar  totalmente conta de sua pessoa e partindo em direção à Roberta, mas é segura  pela cintura por Claude, que a coloca atrás dele:
- Non, chérie... - e é interrompido por Roberta.
- Então, agora você percebeu o erro que cometeu, casando-se com ela? Você  me ama, Claude, sempre me amou! Eu sei que a Nara foi apenas um passatempo em sua vida...  É só você se divorciar e voltar pra mim... Eu posso te dar filhos também...
- Mon Dieu, quanta sandice! - E volta a segurar nos pulsos de Roberta, mantendo-a longe de si. - Você foi  um erro, Roberta! Talvez até da natureza, hã? Eu nunca poderia amar uma mulher invejosa, fútil e inescrupulosa como você, capaz de  ameaçar uma criança!  E se segurei Rosa, foi para non  deixá-la descer ao seu nível de baixaria. Ela é minha  mulher, a mulher da minha vida e nunca vai  haver outra, mas se houvesse, com certeza non seria você!
- Oh, God! Mas  o que está  acontecendo? Eu estava meditando, quando escutei o choro de  Fernanda e vocês com as vozes alteradas... Claude, porque está segurando Roberta dessa forma? O que foi que você aprontou, honey?
- Nada, Elisabeth... Seu sobrinho é que se doeu pela mulherzinha dele...
- Mas é muita petulância de sua parte! – Explode Claude, apertando as mãos, para não ser violento com Roberta. – Com licença, tia Elisabeth ou non respondo por meus atos! Vem,  chérie, precisamos de um banho e nada melhor que tomarmos juntos, hã? – E abraçando Rosa, entra na casa.
- Well! – Fala Elisabeth séria -  Roberta, eu nunca fiz isso, mas gostaria que você se retirasse de minha propriedade, por favor. Sempre prezei a nossa amizade e de seus pais, mas você abusou dela hoje. Fui condescendente até onde deu, honey...
- Mas Elisabeth...
- Por gentileza, Roberta, retire-se. Você não é mais bem vinda aqui.
- Está me expulsando da sua casa? – Questiona indignada.
- Estou pedindo gentilmente que saia...  Seus pais continuam sendo bem vindos,  mas você, não!
- Engraçado! Não são vocês que pregam o amor livre e desprezam estereótipos?  Que  acreditam  no amor sem posse,  sem controle? É só isso que eu estou propondo ao Claude!
- Darling, darling... – Diz Elisabeth,  balançando a cabeça -  O amor livre  é  anarquista em sua natureza sim. Mas não  defende relações de curto prazo ou de múltiplos parceiros sexuais. Defende relações monógamas de longo prazo e até o celibato... Fala de amor, dos triunfos do amor, da liberdade de amar.
- Exatamente o que estou defendendo... – Revida Roberta, cinicamente. -  Em meu benefício próprio, naturalmente.
Elisabeth respira fundo, antes de continuar:
- Para defender o princípio de amor livre se necessita de  doses iguais, Roberta:  uma  de inocência e  outra de  experiência. Poderia  afirmar que Rosa é a  inocência, pura na experiência. Assim como você é a pura experiência sem nenhuma inocência. Consegue perceber a diferença?
Então, a atenção das duas é desviada para a porta da casa, onde Fernanda se encontrava com os pais, abraçando Rosa e pedindo o colo do pai.
- E aquele é o bem maior do amor, o verdadeiro amor à primeira vista.
- Tolice! – Responde Roberta, andando até o carro e abrindo a porta -  O amor é apenas um jogo.
- Discordo de você, honey,  mas mesmo que fosse, todo jogo tem suas regras e, nesse caso, você  estaria fora, pois quebrou as regras deste jogo!
- Só porque você está sendo “o juiz”. Mas sempre podemos ter revanches... Adeus, Elisabeth. – E dando a partida no carro, sai cantando o pneu.
Já dentro de casa, Fernanda mais calma, mas ainda assustada, pergunta  ansiosa:
- Mamãe, porque aquela moça ficou zangadinha comigo? Eu  só não queria que ela beijasse o papai! Por que ela te beijou, papai? –Pergunta, olhando para o pai.
- Porque... Ela quis fazer uma brincadeira, foi isso, filha! – Responde Rosa.
- E ela non ficou zangada contigo, pequena. Mas com o vestido, oui? Agora fique um pouco mais com seus tios que eu e sua mãe temos que tomar um banho, d’accord? – Emenda rapidamente, colocando-a no chão, tentando encerrar o assunto.
- Mas ela ia me bater...
- Não ia não, Borboletinha... – Diz Elisabeth, entrando. – Ela estava com tanto medo que o vestido  rasgasse que nem  viu o que fazia, querida... Ela foi embora, mas deixou um pedido de desculpas para você, ok?
- Que tal irmos até a cozinha, Fernandinha, e dar uma provadinha no jantar?– Pergunta Gideon com o sotaque carregado, provocando uma  gargalhada da menina, que aceita o convite.
Assim que deixam a sala, Elisabeth se volta para Rosa e diz:
- Rosa,  my darling, eu quero que me perdoe... Nunca imaginei que Roberta fosse capaz de um papel desses e de não respeitar as etiquetas sociais pelo menos.
- Eu sei, tia Elisabeth. Não é sua culpa. Nós não demoraremos! – Diz, sorrindo rapidamente e subindo a escada com Claude
Os dois dias seguintes foram de organização:  separar as roupas e fazer as malas. Em menos de vinte e quatro horas, estariam voando para Paris.
***
Voar sempre é uma experiência única e sempre tem aquele friozinho gostoso na barriga, pensava Rosa, enquanto o avião subia. Por estar tão distante do chão, dá uma sensação inexplicável de liberdade. Voar é algo muito especial, que sempre nos leva ao encontro de pessoas queridas e lugares diferentes, de forma mais rápida e segura... Bem, rápida, mas nem tanto. Seriam no mínimo dez horas de voo.
Haviam optado por um voo noturno e estariam chegando em Paris pela manhã. Sendo um  voo internacional, quando fizeram a reserva, avisaram a companhia aérea da presença de Fernanda,  pois sendo ela uma criança tem direito à um menu especial e algumas companhias aéreas têm kits para crianças com lápis para desenhar, brindezinho, coisas para distraí-los.
Era com esse kit que  Borboletinha se distraía. Havia mais uma ou duas crianças no avião, mas um pouco mais velhas que Fernanda.
- Crianças  sempre demoram um pouco para “desligarem”, ficam excitadas com  tudo -  Dizia Rosa à Claude,  observando a filha desenhar, enquanto uma das outras crianças andava pelo avião o tempo todo.
- Logo, eles servirão o jantar, chérie, antes de apagar as luzes. E uma vez as luzes apagadas, em geral, elas dormem…
- Há bastante coisa para distraí-los: desenhar, livros, quebra-cabeça, joguinhos... Por que esses pais não tomam uma atitude e acalmam o ânimo dessa criança?
-  Relaxe, gatinha. Lembre-se que as crianças sentem a ansiedade dos pais. Talvez seja o primeiro voo deles, hã? E o primeiro, a gente nunca esquece! E elas podem surpreender no final e essa viagem ainda pode ser tranquila.
Poucos minutos depois, o jantar era servido e, após o tempo regular, foi anunciado que as luzes seriam apagadas.
Fernanda acomodou-se numa poltrona entre os pais e apoiou sua cabeça no colo de Claude. Rosa tirou  o tênis dos pés da filha para que dormisse mais  à vontade e cobriu-a com o seu casaco. O sono vinha implacável e a garotinha lutava contra ele. Depois de um tempo, ouviu-se a voz de Fernanda:
- Mamãe, porque você não aproveita agora que a gente tá no céu e pede o meu irmãozinho, encomenda ele?
Claude sorri da ingenuidade da filha e vai comentar algo com Rosa, quando percebe que ela dormira.
- Borboletinha, sua mãe dormiu. Por que você mesma non pede a Papai do Céu o seu irmãozinho, hã?
- Mas você disse que só os adultos podem encomendar um bebê!
- Touchê!  - Murmura Claude , acariciando os cabelos da filha -  Você tem razon, eu disse isso. Só os adultos podem encomendar, mas as crianças podem pedir a ele, d’accord? Eu tenho certeza que se você pedir, Ele vai ouvir e nos ajudar... – Completa, piscando para ela.
- E Papai do Céu ouve as crianças?
- D’accord...  Com muita atençon, pode ter  certeza! Ele gosta que vocês, as crianças, conversem com ele.
- E como é que a gente fala com Papai do Céu? Pelo celular?
- Non, sua danadinha... Eu acho que ele non tem celular e  se tiver, o papai non tem o número dele, d’accord? Ele prefere que usem a oraçon, que rezem. Porque criança que reza, é criança feliz.
- E como é que se reza, papai?  - Fernanda parecia realmente preocupada com isso.
Claude ficou surpreso com a pergunta da filha. Rosa e ele nunca se preocuparam com religião, embora acreditassem em Deus. Talvez estivesse na hora de passar alguns conceitos para a filha, mesmo que de maneira lúdica. Conversaria com Rosa sobre isso.
- Fala papai, como é que a gente faz isso? – Insiste Fernanda.
Pensou rapidamente, tentando lembrar do que sua mãe lhe dizia ou de alguma coisa que tia Elisabeth tivesse dito e que fizesse sentido.
- Eu acho, filha, que a oração é aquela vozinha que vem do coraçon, quando a gente agradece por ter um lar, uma família, por ser feliz, por ter o que comer, o que vestir, por ter amigos, por ter amor, sem esquecer de pedir por quem ainda non tem nada disso... – Disse por fim. – Será que você entendeu?
- Aham... Eu vou tentar então... Querido Papai do Céu, eu queria que você me escutasse porque eu acho que ainda não sei rezar, mas meu coração tá feliz. Porque eu tenho o amor do meu papai e da minha mamãe. Só tá faltando o meu irmãozinho... Será que dá pra Você pegar a encomenda deles? “Merci”. Ficou bom, papai?
- Ficou maravilhoso, chérie. – Diz  Claude emocionado. – Mas por que você agradeceu em francês?
- Porque a gente tá indo pra França... – Diz, fechando os olhinhos - E lá, o Papai  do Céu deve  falar francês, por isso não tá entendendo a mamãe...  – E segurando a mão de Claude adormeceu.


O hotel reservado por Frazão  e Janete, era o Adagio Tour Eiffel, um apart hotel que tinha cozinha com utensílios domésticos, para alguma emergência. Ficava praticamente a quatro quadras da Torre Eiffel e assim podiam tomar o café da manhã no apart com pão fresquinho.


Almoçavam na rua e na maioria das noites, jantavam no apart: uma comida rápida e boa, o que além de cômodo e prático, levou Rosa a ver Claude dando uma de cheff com Fernanda como sua assistente. 
Paris tem uma rede de metro invejável que corta toda a cidade de ponta a ponta, de fácil acesso e Claude fez questão de  mostrar tudo que Paris podia oferecer de bom e algumas cidades próximas.
Em pleno outono parisiense, as temperaturas médias eram de 9°a 13°, muito frio e muitos dias foram com chuva leve e constante, com períodos de melhora, mas sempre nublado; mesmo nos dias claros e com sol não se dispensava o casaco...
Os dias nublados e chuvosos foram destinados à museus, galerias, igrejas e os dias com sol à passeios abertos: Disney, Torre e Versailes. Não haviam feito um  roteiro, cada dia era uma programação surpresa, dependendo do clima. Iam aonde queriam. Viam o que queriam ver, sem desespero com datas ou tempo, apenas adaptando tudo às necessidades de Fernanda, alternando os passeios fechados e abertos.


Borboletinha adorou conhecer a Monalisa e se divertiu com a ala egípcia do Louvre. Claude contou várias histórias sobre sua mãe, que era bióloga, quando visitaram o Jardim das Plantas, onde há um museu da história da evolução das espécies.
Tia Elisabeth havia  indicado uma babá, filha de uma antiga empregada, totalmente confiável. Simpática e prestativa, logo ganhou a simpatia de todos e conquistou Borboletinha. Acompanhou alguns passeios, ajudando e cuidando de Fernanda e, em algumas ocasiões, cuidou dela para que Rosa e Claude curtissem a noite parisiense. 




Haviam visitado  a Torre várias vezes. Foi o lugar que Fernanda mais gostou: 



E era lá que estavam outra vez, na estação de metrô Trocadero, no penúltimo dia de Paris.
- Aqui é, indiscutivelmente, o melhor local para tirar fotos da Torre Eiffel, chérie. – Dizia Claude - O cenário é perfeito para uma foto dessa viagem.
- Papai, que horas vamos subir nela? – Perguntou Fernanda - Você prometeu que hoje ia levar agente lááááááá em cima!
- Voilá... tem certeza que querem ir? São três andares! O primeiro é de graça, se subirmos de escada e nos outros dois é obrigatório o uso do elevador, hã?
- A fila  está grande... – Comentou a babá -  tanto para subir, quanto para descer. Eu acho melhor o senhor comprar o ingresso que dá direito ir até o topo... E vocês podem  reservar  umas quatro horas de passeio para dizer que aproveitaram bem.Não ajudou
- Claude, se estiver cansado de ser nosso “guia turístico”, eu vou entender... Podemos voltar pro hotel e descansar, já viemos até aqui tantas vezes!
- Pois, sim! – Responde, sorrindo enigmaticamente - Quem non quiser encarar a fila, pode ficar por aqui. Eu já reservei os ingressos pela internet, hã? Temos apenas que seguir à risca o horário marcado. Alguém quer desistir? – Pergunta, tirando os ingressos do bolso e balançando-os no ar.
Depois de um sonoro “não” para quem quisesse ouvir, eles entram na fila e esperam pacientemente. Ou quase, porque se tinha uma coisa que Borboletinha não tinha era paciência...
Quando finalmente subiram, a noite já caía. A torre foi totalmente iluminada, coberta de azul, um espetáculo de luz, que fazia o céu de Paris parecer mais negro ainda.
A babá havia ido comprar água para Fernanda. Estavam os três de mãos dadas com Fernanda no meio.


- Papai, o vovô trazia você aqui também? – Pergunta Fer, encantada. -  Com a Torre Eiffel assim azulzinha?
- Non, Borboletinha... Quando  o papai morava aqui, a torre non tinha esse encanto todo. E sabem por quê?
- Não! – Responderam Fernanda e Rosa ao mesmo tempo.
- Porque eu non tinha vocês na minha vida. – disse, olhando-as profundamente e acariciando-as no rosto, uma após a outra.
Então, Fernanda soltou sua mão e juntou os dois, fazendo-os darem as mãos. E abraçou os dois pelas pernas. Depois pediu o colo dos dois, ao mesmo tempo, num abraço a três. Uma brisa fria os envolveu, de repente,  e os três estremeceram e se apertaram mais...
Fernanda olhava para baixo, sem temer a altura em que estavam. Sorrindo, disse bem baixinho entre os ouvidos dos dois:
- Nossa, aqui é alto, né? Eu acho que o  Papai do Céu tá quase ouvindo  a minha oração...

Continua

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