segunda-feira, 12 de agosto de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 17 - SEGUNDA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA


Érica acabara de acordar. Estava com uma tremenda dor de cabeça. Olhou para o relógio que estava no criado mudo e viu que já era quase meio dia. No dia anterior, mais uma vez, ficara bebendo sozinha na sala. Levantou-se, ainda com muita dor, a procura de algum remédio. De repente, alguém bateu à porta do quarto.
— Quem é? – perguntou, incomodada com o barulho.
— É a Joana. Eu vim perguntar a que horas a senhora vai sair com o Fabinho.
Érica abriu a porta ainda sonolenta. Fabinho entrou no quarto, acompanhado da babá.
— Sair pra onde? – perguntou Érica.
A babá olhou confusa para Érica.
— A senhora não tinha dito a mim que iria sair com o Fabinho para passear no parque hoje?
 De repente, Érica lembrou-se da promessa que fizera ao filho
— Eu disse, não foi? Mas, acho que não vou poder ir hoje.
Fabinho se aproximou da mãe.
— Mas, você prometeu, mamãe...
Érica pegou um copo de água e um comprimido em uma gaveta do criado mudo e tomou ambos.
— Bem, Fabinho, eu realmente não vou poder sair com você. – e massageando a cabeça. – A minha cabeça não está bem, ok? Agora, você e a nanny podem sair? A mamãe precisa descansar.
— Mas, dona Érica. – a babá tentou argumentar. - Fabinho estava esperando muito por esse passeio. Tem certeza que não vai dar? Se for só à tarde talvez a sua cabeça já esteja melhor...
Érica pareceu se irritar.
— Que parte de “sair” você não entendeu, Joana? Por favor, não me faça repetir de novo.
— Claro, dona Érica. – disse a babá, saindo com o menino.
Érica fechou a porta.
— É absurdo como os empregados estão se comportando hoje em dia... – disse para si mesma, enquanto voltava a se deitar.
***
Verônica chegou ao apartamento cansada. Pensava que o semestre mal começara e já estava pedindo férias.
— Acho que deve ser por causa das maluquices da Vivi... – pensou em voz alta.
— Disse alguma coisa, Verônica? – perguntou Lurdinha, a empregada, que estava por perto.
Verônica teve um sobressalto.
— Não, Lurdinha, só estava pensando alto aqui. – e olhando para a empregada. – Sabe dizer se o Fabrício já chegou?
— Sim, está no quarto.
Verônica foi até o quarto do irmão e bateu à porta. Fabrício abriu.
— Por que você vive trancado nesse quarto quando está em casa? – perguntou, entrando no quarto e sentando-se em uma cadeira.
— Eu me sinto bem aqui... – disse ele, pegando a guitarra e tocando alguns acordes. – E você, o que deu para vir aqui? Por que não foi passear com a Viviane?
— Você não sabe como a Vivi é cansativa, às vezes... Ela é muito agitada, aquela garota. – disse rindo. Levantou-se e andando pelo quarto. – E como vai aquela sua namorada?
Fabrício estranhou a pergunta da irmã.
— Namorada? – perguntou, sem tirar a atenção da guitarra.
— Sim. Aquela que veio outro dia, que você salvou de algo que não me explicou direito. É sério mesmo o lance de vocês? – perguntou, enquanto observava uma parte de um jornal em cima do criado-mudo.
— Do que você está falando? – perguntou ele, desinteressado.
De repente, Fabrício percebeu que a irmã se calara. Ao olhar para ela, viu que ela estava lendo algo. Era o jornal que deixara no móvel próximo à cama. Ele, bem rápido, levantou-se e tomou o jornal das mãos da irmã.
— O que é isso? – perguntou a irmã séria.
— É um jornal... Nunca viu um? – disse nervoso.
— Me deixa responder para você. Isso são classificados e algumas partes estão circuladas. – e olhando sério para o irmão. – Algumas partes que se referem a aluguel de apartamentos... Agora, eu lhe pergunto, irmãozinho, o que isso quer dizer? Você por acaso está pensando em sair de casa?
— E se for... O que você pode fazer? Dizer para o nosso pai? Acredite, ele não está se importando com isso.
Verônica parecia ofendida.
— E você ia fazer isso sem me avisar?
Fabrício suspirou e sentou-se.
— É claro que eu ia avisar... Mas, eu ainda nem consegui o apartamento e acho que não tenho dinheiro suficiente para alugar um.
Verônica ficou calada e sentou-se novamente.
— Isso tudo por que você não quer dizer para o papai onde foi parar aquele dinheiro... – olhando para o irmão. – Afinal, por que você não me conta tudo? Só quero ver quando ele souber do seu carro...
Fabrício pegou a guitarra novamente.
— Eu não posso contar... E mesmo se eu contasse, você não ia acreditar... – e com um olhar vago. – Eu mesmo não acredito.
Verônica suspirou.
— Eu vou lhe ajudar com algum dinheiro. – disse por fim.
Fabrício não acreditava no que estava ouvindo.
— Sério? Por que você faria isso?
— Porque você é meu irmão. E se você está dizendo que gastou esse dinheiro em alguma coisa importante, então, tudo bem. Mas, vou logo avisando que eu não posso ajudar muito, senão o Dr. Eduardo vai acabar descobrindo... Aí, sobra pra mim.
— Tudo bem. – disse ele. – Mas, pelo menos já é alguma coisa. Mas, posso lhe pedir um outro favor?
— Poderia me emprestar seu carro?
Verônica suspirou.
— Ok, tudo bem.
***
Viviane chegou em casa. Estava faminta. Ao entrar na sala principal da mansão, percebeu que alguém estava sentado em uma das poltronas. Ao se aproximar percebeu que se tratava do novo morador da mansão. Era Fabinho. O menino estava quieto, observando um carrinho de brinquedo. Viviane sentou-se próxima ao menino.
— Oi, Fabinho! – disse ela, tentando conversar com o menino. – O que está fazendo?
— Nada... – respondeu o menino, naturalmente, sem tirar os olhos do brinquedo.
Viviane fez um muxoxo e pensou que, sem dúvidas, ele herdara a arrogância da mãe.
— Mas, você me parece tão quieto... O que aconteceu?
O menino suspirou.
— É que a mamãe não vai poder passear comigo hoje...
— E por que não?
— Ela disse que está com dor de cabeça. – respondeu o menino, mais uma vez, sem tirar os olhos do brinquedo. – Ele sempre diz alguma coisa... Da outra vez, ela disse que ia para o hospital.
Viviane ficou interessada.
— Hospital? E ela está doente? – perguntou.
— Ela nunca diz nada... Mas eu sei que ela sempre sente dor na barriga... Aqui. – disse, pegando no estômago.
Viviane, por um momento, se viu no lugar daquele menino.
— Eu devia não ser tão emotiva... – disse mais para si mesma e para o menino. – E você e sua mãe iam para onde?
— Passear no parque. – respondeu Fabinho, olhando para a garota.
Viviane suspirou.
— Tudo bem, eu vou passear com você...
— De verdade? – perguntou o menino, mudando de humor.
— Sim. Mas eu não vou passear no parque... Que tal ir ao shopping?
— Shopping? – perguntou o menino confuso.
— É... Não é como o parque, mas é bem legal... E você também pode tomar sorvete... Mas, você já deve ter ido ao shopping, não?
O menino balançou a cabeça negativamente. Viviane pareceu surpresa.
— Nunca foi no shopping? Pobre criança! Como sobreviveu até hoje?
— Mas, lá não tem só lojas?
— Que nada! Tem McDonald’s, cinema, teatro, brinquedos... Você vai gostar. Tenho certeza que a sua mãe vai deixar a gente ir. – e olhando para o menino. – Então, vamos almoçar primeiro?
***
  Já eram quase três horas da tarde, quando Otávio recebeu a visita de alguns dos sócios do Grupo. Eram eles os mesmos da reunião anterior: Homero, Robert e Fausto. Os quatro, incluindo o Dr. Otávio, se reuniram no escritório da mansão.
— Onde está o Dr. Tarcísio? – perguntou Fausto.
— Infelizmente, ele não pode comparecer à nossa pequena reunião, por conta de alguns problemas judiciais do Grupo. Nada de mais, não se preocupem.
— E o seu irmão, Dr. Otávio? Já entrou em contato com ele? Já sabe quando ele voltará ao Brasil?
Dr. Otávio se sentia um pouco pressionado.
— Infelizmente, ainda não recebi qualquer telefonema para saber quando exatamente ele voltará, mas creio que não vai demorar... – disse ele, um pouco constrangido.
Homero percebeu a atmosfera que se formara.
— Dr. Otávio, não pense que estamos aqui para pressioná-lo, mas o senhor deve saber que seu irmão usou as empresas do Grupo de forma ilegal e deve ser punido por isso. É claro que não devemos deixar que isso venha a público, caso contrário...
— Caso contrário...? – repetiu Dr. Otávio, incentivando o Dr. Homero a continuar.
— O que eu quero dizer, é que, caso essa notícia vaze para a imprensa, a imagem do senhor também pode ser prejudicada. – continuou Homero. – E o senhor sabe que as pessoas não vão acreditar que não sabia do que estava acontecendo no próprio Grupo. Sendo que até para alguns dos sócios, essa verdade é um pouco questionável...
O Dr. Otávio se sentiu ofendido.
— Questionável? O senhor está querendo dizer que os senhores não acreditam na minha inocência?
Robert, que ficara calado até aquele momento, resolveu se pronunciar.
— O que estamos querendo dizer é que até alguns dos sócios minoritários duvidam que o senhor não tivesse qualquer conhecimento do que estava acontecendo.
— Quem são? – perguntou Dr. Otávio, um pouco alterado. – Quem se atreve a insinuar tais absurdos?
— Isso não vem ao caso, Dr. Otávio. – disse Fausto - Afinal, as pessoas têm o direito de acreditar no que quiserem. O fato é que se isso chegar aos ouvidos da imprensa, o que é possível, teremos que tomar determinadas medidas.
— Do que vocês estão falando? – perguntou Dr. Otávio, duvidando do que estava ouvindo.
Homero olhou para Fausto, que acenou com a cabeça num sinal de consentimento.
— A maioria dos sócios concorda que se o caso do seu irmão vier a público, o senhor também deve ser afastado da presidência.
O Dr. Otávio levantou-se atordoado. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Quer dizer, então, que eu devo pagar pelos erros do meu irmão? É isso que estão me dizendo? – disse ele, alterando a voz.
Homero tentou acalmar os ânimos.
— Dr. Otávio, estamos falando de um caso hipotético. O senhor sabe que se as pessoas vincularem as atividades do seu irmão ao senhor, as empresas do grupo sofrerão com isso. A imagem do grupo ficaria bastante desgastada e não estamos em condições de gastar maiores quantias em marketing...
Antes que o Dr. Otávio pudesse falar qualquer coisa, Fausto também argumentou.
— De qualquer forma, também devemos pensar que os nossos acordos e joint ventures também podem ser afetados... Alianças que levaram anos para serem conquistadas, poderão ser desfeitas. O senhor, melhor que qualquer um aqui, sabe disso. Nós estamos apenas pensando no bem do grupo.
O Dr. Otávio sentou-se, tentando se acalmar.
— Eu entendo...  – disse ele por fim. – De qualquer forma, senhores, se essa é a decisão dos sócios, só tenho que aceitar. Bem, acho que não temos mais nada a conversar. Creio que não precisam que eu lhes mostre a saída.
Os três se levantaram e saíram, deixando Otávio sozinho. O Dr. Otávio pegou um charuto e acendeu-o, algo que há muito tempo não fazia.
***
André e Gabriel estavam no shopping. Tinham ido comprar alguns cd’s. De repente, André tocou no ombro de Gabriel, tentando chamar a sua atenção.
— Cara, olha quem está aqui. Será que é só coincidência ou você planejou? – disse ele olhando para o amigo desconfiado.
— Do que está falando? – perguntou Gabriel, logo percebendo que Viviane e um menino nos seus seis anos se aproximavam, sem que percebessem a presença de Gabriel e André.
De repente, quando já estava bem próxima, Viviane percebeu que estava sendo observada e veio ao encontro dos dois.
— Ora, ora... Se não é o Timão e o Pumba? – disse ela, rindo sarcástica. – Vem cá, vocês estão me seguindo? Não tem mais nada para fazer, não?
— Por que eu seguiria você, garota? – disse Gabriel, olhando um cd. – Você realmente se acha o centro das atenções, não é?
Fabinho que estava observando.
— Vivi, quem é esse? É o seu namorado?
— Claro que não! – disse Vivi, olhando Fabinho e depois para Gabriel. – Esse cara é um completo idiota! Eu nunca vou ficar com alguém assim. – e olhando para o menino. – Lembre-se, Fabinho, esse cara é meu inimigo, ok?
O menino acenou com a cabeça.
— Pode ter certeza, garoto. – disse Gabriel ao garoto - Nós dois somos como água e vinho. Não existe maneira nenhuma de ficarmos juntos no mesmo lugar, quanto mais sermos namorados.
Viviane sorriu falsamente.
— Pelo menos, concordamos com algo.
Enquanto, Viviane e Gabriel falavam mal um do outro, Fabinho chamou André.
— Por que eles estão brigando?
André deu de ombros.
— Não faço à mínima idéia. Mas, isso é bem divertido, você não acha?
O menino riu. De repente, Viviane pegou Fabinho pelo braço.
— Vamos, Fabinho. Eu não posso gastar tempo com coisas tão insignificantes! – parou e olhou para os dois. – Ah, ia esquecendo. Obrigada pelo blog. Realmente, ficou uma fofura... Parece até que foi uma garota que fez. Se bem que isso explicaria algumas coisinhas... – disse ela, saindo e rindo.
Gabriel parecia extremamente irritado.
— Garota insuportável!
André começou a rir.
— O que foi? – perguntou Gabriel ainda irritado.
— Calma... Eu só achei que vocês têm gênios parecidos. Só isso.
— Por favor, André. Uma criança de seis anos, eu entendo, mas você?!
***
Já eram quase seis horas da tarde. Rogério, Emanuela, Mariana e o Dr. Rafael estavam no quarto. O Dr. Rafael estava terminando de examinar Rogério.
— Acho que está tudo certo. Você já pode sair do hospital. – disse, entregando um documento.
Rogério sorriu.
— Que bom, doutor. Já não agüento mais ficar aqui. Não que eu esteja reclamando dos seus serviços.
Rafael sorriu.
— Eu entendo perfeitamente.
De repente, alguém bateu à porta, era uma enfermeira avisando que um paciente o procurava.
— Bem, pessoal, tenho que ir. Mas, daqui a pouco eu volto para entregar uma receita para os antibióticos. – disse ele, saindo.
Emanuela pegou o celular e ligou para alguém.
— Alô? Fabrício? Oi, é a Emanuela. Só queria avisar que o meu pai já recebeu alta. Vamos arrumar algumas coisas e estaremos indo. – disse, logo desligando o telefone.
Mariana olhou para Emanuela e sorriu.
— Qual é o seu lance com o Fabrício? Não me diga que vocês estão namorando?
— Namorando? – perguntou Rogério desconfiado. – Isso é verdade, Emanuela?
— É claro que não! – e olhando para Mariana. – Mari é que gosta de inventar boatos... Eu e Fabrício somos apenas amigos. – e olhando para Rogério. – Ah, ia esquecendo... Fabrício disse que nos deixaria em casa.
Rogério pareceu desconfiado.
— Eu não entendo porque ele faz tudo isso...
Mariana riu.
— É porque ele é um amigo, papai... Apenas um amigo. – disse, rindo e olhando para Emanuela.
— Engraçadinha... – disse Emanuela,  já cansada das brincadeiras da irmã.
***
Rebeca olhou para a porta do quarto. O Dr. Rafael entrou.
— Foi você que me chamou? Está sentindo alguma coisa?
— Eu só estou com uma forte dor de cabeça...
Rafael mediu a pressão da paciente.
— Parece que você está com a pressão um pouco acima do normal. Não se preocupe, vou pedir para uma enfermeira aplicar um remédio. – disse ele, pronto para sair.
— Dr. Rafael... – Rebeca chamou antes que o doutor saísse do quarto.
— Sim? – atendeu ele, virando-se.
— Onde está o Dr. Fabiano? Não o vi hoje...
— Ele está ocupado fazendo algumas cirurgias... Infelizmente, não tem tido muito tempo livre.
Rebeca pareceu envergonhada.
— Se quer um conselho, é melhor você evitar conversar com Fabiano sobre qualquer coisa que não esteja relacionado com a sua própria saúde. Para o bem dele. – disse Rafael.
— Claro, Dr. Rafael. – disse ela. - Eu entendo perfeitamente.
***
Já tinha se passado quase uma hora desde o telefonema de Emanuela para Fabrício. De repente, alguém bateu à porta do quarto. Era Fabrício. Os três se dirigiram ao carro e, no percurso para a casa de Emanuela, permaneceram em silêncio. Ao chegar, Mariana ajudou o pai a entrar em casa.
— Bem, acho que é isso. – disse Emanuela a Fabrício. – Muito obrigada, mesmo. Você foi de grande ajuda. Eu não tenho como lhe pagar tudo o que você fez pela minha família.
Fabrício riu.
— Tudo o que eu fiz agora não vai compensar o mal que eu fiz a você. Se não fosse a minha arrogância, você não estaria na situação em que está.
— Não seja tão convencido. Você acha que todas as coisas ruins que acontecem na minha vida são por sua causa? – disse, sorrindo. – De qualquer forma, muito obrigada mesmo. Se eu puder fazer algo por você, é só me avisar.
Emanuela se preparava para sair, quando Fabrício falou:
— Na verdade, tem algo... – disse.
Emanuela virou-se e Fabrício a segurou pelo braço, trazendo-a para si. De repente, sem que Emanuela pudesse ter qualquer tempo de reação, ele a beijou. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário