segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 27 - SEGUNDA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 27 -

Emanuela olhava alguns livros na biblioteca, enquanto Mariana estudava. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde, quando Dr. Otávio ficasse melhor, ele voltaria a falar na prova que ela faria para entrar na faculdade. De repente, Mariana olhou para a irmã que tinha acabado de pegar um livro na estante e o folheava.
— Manu, você também está ansiosa com a faculdade?
Manu sentou-se em uma das cadeiras que estavam próximas a mesa em que Mariana estudava.
— Não muito... Por enquanto quero apenas ajudar no escritório junto com o Dr. Otávio. Quero aprender um pouco também.
Mariana olhou atentamente para a irmã.
— Mas se fosse fazer algum curso da faculdade, que curso escolheria?
— Não sei...
— Não sabe? Então... Como se imagina daqui a 5 ou 10 anos? Não tem nada que realmente queira fazer? Um desejo ou sonho?
Emanuela levantou-se de repente, fazendo com que Mariana tivesse um pequeno sobressalto de surpresa.
— Vou passear um pouco. – disse – Enquanto, eu estiver aqui, você não se concentra nos estudos e se mete a falar.
Mariana fez uma expressão como quem não gostou do comentário. Emanuela saiu da biblioteca. Do lado de fora, na pequena sala que havia, olhou para a janela com um olhar pensativo. Ultimamente, Mariana fazia perguntas que a deixava sem resposta. O que queria fazer? O que escolheria? Essas perguntas sempre lhe davam uma sensação estranha. Talvez por que, mais do que não saber o que faria com seu próprio futuro, ela mesma não sabia quem era exatamente. Passara tanto tempo da sua vida se preocupando em ser um apoio para a irmã e esquecendo seus próprios desejos, que mesmo agora não sabia exatamente como era ou o que realmente queria.
***
Estava quase na hora do almoço, quando Gabriele foi à cozinha. Anne acabara de terminar o almoço, quando percebeu que Gabriele entrara.
— Dona Gabriele. O almoço já está pronto. A senhora quer que eu peça a uma das empregadas para chamar as meninas?
— Não, Anne. Não se preocupe. Eu mesma farei isso.
Gabriele se dirigiu à sala e subiu as escadas, foi para o quarto de Viviane. Bateu à porta e abriu. Viviane estava deitada na cama e com o braço que não estava enfaixado tentava ler um livro.
— Sônia, ainda bem que chegou. Você me ajudaria... – disse, logo percebendo que quem entrara no quarto não era a governanta. - Ah... É você? O que quer? – perguntou friamente.
Gabriele se surpreendeu com o modo como Viviane falara com ela, mas preferiu não falar nada.
— Você vem para o almoço ou prefere comer algo no quarto?
Viviane voltou a atenção para o livro.
— Não estou com fome.
Gabriele pareceu suspirar novamente.
— Mas você precisa comer... Precisa se alimentar bem. Seu corpo ainda está se recuperando do acidente. – disse, olhando para o braço enfaixado de Viviane.
Viviane olhou para a mãe.
— Está realmente preocupada comigo? – e rindo. - É interessante... Por que durante muito tempo a senhora nem saberia se eu tinha almoçado se alguém perguntasse.
Gabriele permaneceu calada por um instante.
— Até quando vai me culpar por isso? Independente de qualquer coisa, eu sou sua mãe. Posso não ter sido a melhor mãe do mundo, mas eu sou sua mãe. – disse, olhando para a filha. - Até quando vai me tratar assim?
Vivi ficou em silêncio por uns segundos.
— Até me deixar em paz. A senhora não percebeu ainda? Será que eu vou ter que desenhar? Não quero que chegue perto de mim, não quero que fale comigo. A sua simples presença me deixa mal... Só o fato de olhar para seu rosto me dá raiva e tristeza. Se realmente me ama como diz, então, por favor, se afaste de mim. É a melhor forma de me fazer feliz.
Gabriele não teve qualquer reação diante daquelas palavras.
— Vou pedir a Sônia para trazer algo.
Viviane voltou a ler o livro, enquanto Gabriele saía e fechava a porta atrás de si.
Emanuela subia as escadas para ir ao seu quarto, quando viu Gabriele descendo. Parecia um pouco abatida.
— Está tudo bem, dona Gabriele?
Gabriele apenas sorriu, mas depois pareceu lembrar algo.
— O almoço já está pronto. Vou avisar a sua irmã e poderemos almoçar.
Emanuela subiu as escadas e antes de entrar em seu quarto, olhou em direção ao quarto de Viviane. Lembrou-se da expressão de Gabriele. Foi até o quarto de Viviane e bateu na porta antes de abrir.
— Viviane? – disse, entrando e vendo que a garota se concentrava na leitura de um livro.
— Pelo jeito não vou terminar esse livro nunca. – disse, fechando o livro e olhando para Emanuela. – O que você quer?
Emanuela aproximou-se.
— Queria conversar com você. – disse.
Viviane suspirou.
— Sobre o quê? O que a perfeitinha da Emanuela quer me dizer de novo?
Emanuela sentou-se na cama em que Viviane estava.
— Perfeitinha, você diz...  
— E então, o que veio dizer hoje? Ah... Talvez você tenha visto a Gabriele, não é? Aposto que ela estava chorando... – disse Viviane, ficando pensativa por alguns instantes.
Emanuela olhou para Viviane e percebeu algo diferente.
— É isso mesmo que você quer?
— Eu já disse a você... Quero que ela sofra tanto quanto eu sofri. Eu odeio aquela mulher...
Emanuela suspirou.
— Tem certeza?
— Claro. Você não estava aqui. Você não sabe o tipo de mulher que ela era. Como ela me tratava. Como ela me desprezava, quando eu não tinha feito nada.
— E até quando vai continuar com isso?
— Até eu ficar satisfeita, o que pode significar nunca.
— Não estava falando disso. Estava falando até quando vai sentir pena de si mesma.
Viviane olhou confusa para Emanuela.
— Pena de mim mesma?
— Sim. Esse é o pior sentimento que alguém pode sentir por si mesmo. Achar que toda a sua infelicidade ou tristezas é culpa de outra pessoa. Achar que todos os outros são os vilões e você é apenas a coitadinha que sofre todas as injustiças. Isso é sentir pena de si mesma.
Viviane pareceu ficar chateada com o que ouviu.
— Não estou sentindo pena de mim mesma.
— Está. E quando alguém continuamente sente pena de si mesma, ela acaba se tornando pior do que as pessoas que ela culpa. Egoísta e infeliz. Odiando todos ao redor e sendo odiada por todos. Se continuar assim, você vai realmente odiar a sua mãe. É isso que quer?
Viviane parecia estar sem palavras.
— Você sente raiva da sua mãe, porque acha que ela não sofreu o suficiente e isso parece injusto para você. Mas você se esqueceu que também errou? Não lembra que humilhou a mim e a minha irmã na sua festa?
— Você vai passar isso agora na minha cara?
— Não. O que estou dizendo é que essa pena que você sente faz com que você apenas machuque os outros e a si mesma. E as pessoas acabam se afastando de você por causa disso. Como eu disse, se não quer mesmo odiar a sua mãe, então deveria parar.
— Como pode dizer isso? Você não sabe o quanto eu sofri.
— Não sei. Mas conheço uma garota que mesmo tendo passado por muitas dificuldades, nunca reclamou. Ela que presenciou o assassinato da própria mãe e por causa disso tem pesadelos constantes. Ela continua sorrindo sem guardar mágoa de ninguém, nem mesmo do que você fez, Viviane. Quando todas as pessoas condenavam o seu mau comportamento, ela se sentiu mal por você. Porque alguém assim continua seguindo em frente, eu e você não temos o direito de viver no passado.
Dizendo isso, Emanuela saiu do quarto.
Na sala de jantar, Gabriele sentou-se a mesa, junto com Camila, Iêda e até mesmo Érica. Logo em seguida vieram Emanuela e Mariana.
— Bem, podemos começar. Acho que Vi... – Gabriele foi interrompida pelo aparecimento de Viviane. – Então, acho que agora podemos começar.
Emanuela olhou para Viviane e sorriu. Vivi desviou o olhar um pouco envergonhada.
***
Camila desceu do carro e olhou para aquele prédio. De dia parecia um prédio comum, exceto por não ter nenhum movimento. Entrou e observou a boate por dentro. Um barman limpava o local, enquanto conversava com uma mulher. Quando a mulher a percebeu, foi ao seu encontro.
— Bom dia, em que posso ajudá-la?
Camila olhou para Rosália da cabeça aos pés.
— Gostaria de falar com o Fernandes.
Rosália olhou para Camila e se perguntou que negócios uma mulher tão fina teria a falar com uma pessoa como o seu meio-irmão.
— Você marcou hora? Ele é muito ocupado...
Camila riu.
— Apenas diga que a mulher de Otávio Alcântara Jr. está aqui.
Rosália suspirou e foi ao encontro Fernandes que estava em seu escritório. Depois de algum tempo voltou.
— A senhora poderia me acompanhar?
As duas entraram por uma porta que havia na boate e depois de andar por alguns minutos, chegaram a uma porta. Rosália bateu a porta e abriu. Camila entrou e encontrou um homem de estatura baixa, encostado na mesa do escritório, sorrindo.
— Muito prazer. – disse ele, estendendo a mão. – Meu nome é Fernandes, como deve saber. Estou muito honrado com sua presença.
Camila não estendeu a mão, o que irritou um pouco Fernandes.
— Muito prazer, meu nome é Camila Alcântara. Nós nos falamos por telefone.
— E a quem devo a honra de sua presença, Senhora Alcântara? – e apontando em direção a uma cadeira. – Sente-se, por favor.
Camila sentou-se.
— Estou aqui para falar de negócios.
Fernandes riu. Voltou para a sua poltrona e depois de acender um charuto, olhou atentamente para Camila.
— E de que negócios, a moça veio falar?
Camila sorriu.
— Eu não estou aqui para brincadeiras, senhor Fernandes. – e séria. – O senhor é subordinado direto do Dr. Marcos, não é?
Fernandes que estava sorrindo, de repente, ficou sério.
— Eu não sei do que você está falando. – disse, logo em seguida fumando o charuto.
Camila riu.
— Não precisa se fazer de desentendido... Sei perfeitamente que tipo de negócios o tio do meu marido possui. Conheço muito bem o tipo de mercadoria que ele exporta para a Europa.
Fernandes inclinou-se para frente, olhando para Camila.
— Se sabe, deveria perfeitamente compreender que não é algo que a senhora pode se meter. E não deveria ser tão imprudente a ponto de mencionar o nome dele em um lugar como esse.
Camila olhou para Fernandes.
— O medo é para os fracos, senhor Fernandes. Já que estou aqui, significa que estou disposta a sacrificar qualquer coisa.
Fernandes sorriu.
— Eu diria que o medo é um aviso para os descuidados, senhora Alcântara. – e fumando o charuto. – Mas você não veio aqui para falar do tio de seu marido, não é?
— Tem razão. Como eu disse, vim falar de negócios com o senhor. Algo que realmente vai lhe interessar.
Fernandes olhou para Camila pensativo.
— E o que seria tão grande a ponto de chamar minha atenção?
Camila sorriu.
— O senhor sabe que existe a possibilidade de ser o próximo na linha de sucessão. Há a possibilidade de o senhor ficar no lugar do Dr. Marcos.
Fernandes olhou para Camila, tentando entender quais as razões por trás daquelas afirmativas.
— Continue.
— Mas o senhor deve saber que possibilidade não significa certeza. O que eu quero dizer é que se o senhor quer realmente ser o chefe, eu posso lhe ajudar.
Fernandes riu.
— Você está dizendo que eu deveria trair o meu superior? Está louca? Se sabe o tipo de homem que ele é, deveria saber também que tipo de torturas ele faz com as pessoas que traem a sua confiança. Coisas que fariam mafiosos italianos ficarem surpresos.
Camila permaneceu séria.
— Não disse que não haveria um risco envolvido. Mas o que posso dizer é que tenho, se não dizer tanto poder quanto o seu chefe, um grande poder.
— Do que está falando?
— Poucas pessoas sabem... Mas sou única herdeira dos negócios da minha família. Eu mudei meu sobrenome quando me casei, mas anteriormente eu me chamava Camila Mansini.
Fernandes pareceu surpreso, tão surpreso que por alguns segundos se manteve olhando para Camila admirado.
— Mansini... Família Mansini, de descendência italiana, chefe do submundo do jogo do bicho. Quem diria que você é alguém tão importante. E se, hipoteticamente, eu estivesse interessado, o que eu teria de fazer em troca? E que garantias você me daria para que o Dr. Marcos não quisesse a minha cabeça em uma bandeja depois?
Camila sorriu.
— Não se preocupe. A tarefa que tenho para você é muito simples.

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