sexta-feira, 23 de maio de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - CAPÍTULO 9 - TONI FIGUEIRA


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 9

Participam deste capítulo

Cyro Valdez  -  Tarcísio Meira
Orjana  -  Neuza Amaral
José Godoy  -  Ivan Cândido
Prof. Valdez  -  Enio Santos


CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOTEL CENTRAL  -  QUARTO DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA.

O TELEFONE DO QUARTO DO HOTEL TILINTOU TRÊS VEZES.

CYRO  -  (retirou-o do gancho e falou)  Sim. Está bem, pode mandar subir.

ORJANA  -  (acercou-se, preocupada) Quem é?

CYRO  -  Um repórter. Quer entrevistar-me.

ENQUANTO A MÃE SE RETIRAVA PARA OUTRA DEPENDENCIA DA SUÍTE, CYRO ABRIA A PORTA PARA UM JOVEM DE CABELOS REVOLTOS CAÍDOS SOBRE A TESTA E GRAVADOR PORTÁTIL PENDURADO NO OMBRO.

REPÓRTER  -  (apertou a mão do médico) José Godoy, da Folha.

CYRO  -  Prazer. Sente-se. Não disponho de muito tempo.

JOSÉ GODOY  -  É rápido. Quero só lhe fazer umas perguntas.

CYRO  -  A respeito do transplante...

JOSÉ GODOY  -  Não, eu sei que o senhor realizou um transplante de coração, no ano passado. Mas não é sobre isso. Não é propriamente o cirurgião que me interessa. É o homem que nasceu há 30 anos em Porto Azul, em circunstancias tão estranhas!

CYRO  -  (franziu o cenho, visivelmente contrariado) Estranhas... por quê, Sr. Godoy? Que é que o senhor sabe sobre isso?

JOSÉ GODOY  -  Já entrevistei uma dúzia de pessoas. O que sei é o que essas  pessoas me contaram.

CYRO  -  (abrindo os braços num gesto teatral) Então o senhor me conte, porque eu não sei de nada...

NO QUARTO CONTÍGUO, DE OUVIDO COLADO A PORTA, ORJANA SENTIA OS MEMBROS ESFRIAREM-SE E A CABEÇA FERVER.

JOSÉ GODOY  -  (sorriu) Não acredito. Talvez o senhor não goste de tocar nesse assunto. Mas eu, como repórter, o senhor compreende... é a minha profissão. Dura, também, como a do senhor,  Dr. Cyro. Inconveniente, quase sempre, apesar de pèssimamente remunerada. Nisto é diferente da sua...

CYRO  -  (cortou, incisivo) Eu lhe pedi para me contar o que sabe. Tudo o que sabe.

NO QUARTO, ORJANA ESTREMECEU E AS PERNAS LHE AMOLECERAM INCONTROLÀVELMENTE.

Cyro (Tarcísio Meira) e Orjana (Neusa Amaral)



JOSÉ GODOY SENTOU-SE NA POLTRONA, TENDO O CUIDADO DE AJEITAR O GRAVADOR SOBRE A MESINHA DE CENTRO.

JOSÉ GODOY  -  Bem, o que sei é que, numa certa noite de maio, há trinta anos... não, há trinta e um anos, mais ou menos, uma moça chamada Orjana, quando ia para casa com seu pai adotivo, foi atacada por uma nave espacial.

CYRO  -  (investiu, encolerizado) Por uma nave espacial? O senhor está maluco?

JOSÉ GODOY  -  Esta é uma das versões. A que me parece mais interessante.

CYRO  -  Atacada... minha mãe atacada por uma nave espacial?

JOSÉ GODOY  -  Atacada... talvez não seja o vocábulo... o termo exato. Talvez não exista em nenhuma língua terrestre. O fato é que ela entrou em contato de um modo ainda não explicado com seres de outro planeta, integrantes dessa nave. E que desse contato... como direi... resultou a gestação de uma criança...

CYRO  -  (levantou-se, irado) Chega, moço! Se o senhor não sair deste quarto imediatamente, vou quebrar-lhe a cara!

JOSÉ GODOY  -  Estou repetindo o que ouvi...

CYRO  -  Pois não repita, se não quer se arrepender!   
                
AGARRANDO-O PELA GOLA DO PALETÓ, CYRO EMPURROU-O PORTA AFORA, PARA O CORREDOR EXTERNO.

JOSÉ GODOY  -  Dr. Cyro... tenha calma!

CYRO  -  Fora! Fora daqui!

ORJANA  -  (apareceu, trêmula) Meu filho, que aconteceu?

CYRO  -  Aquele repórter... Botei-o pela porta a fora. Veio aqui dizer que... (balançou a cabeça, olhando bem para a mãe) Como é possível que tenham inventado tanta maluquice sobre o meu nascimento! Que diabo de história é essa agora, sobre uma nave espacial?

O PROF. VALDEZ ENTROU E PAROU NA SOLEIRA DA PORTA.

ORJANA  -  Eu prefiro não falar...

CYRO  -  Mas, por que não falar? Que diabo! Vocês me tratam como se eu fosse uma criança. Acho ridículo ter meu nome envolvido nessas histórias absurdas!

ORJANA  -  Por isso eu não queria que você viesse a Florianópolis, filho.  Por isso que eu lhe pedi para irmos embora logo. Sabia que tudo ia acontecer... e que nós íamos ter muitos aborrecimentos.

CYRO  -  Avalie se esse maluco publica toda essa baboseira... que vexame!

CYRO BOTOU AS MÃOS ENTRE OS CABELOS COMPRIMINDO A CABEÇA.

FIM DO CAPÍTULO 9



 Não perca o capítulo 10, na próxima terça!

2 comentários:

  1. Está muito bom! Cyro não acreditou na história. Acho que a partir de agora, ele vai ter muitos aborrecimentos,coitado!

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    1. Isso é certo. Além de ter que digerir essa história absurda, cada vez mais vai enfrentar a ira de Otto Muller.

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